quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Review: 🥜 Fuzzy Grass - 'The Revenge of the Blue Nut' (2023) 🥜

★★★★

Cinco anos volvidos após o lançamento do seu álbum de estreia ‘1971’, o quarteto francês Fuzzy Grass está finalmente de regresso com o seu muito aguardado sucessor. Gravado de forma analógica, denominado ‘The Revenge of the Blue Nut’ e exteriorizado sob as formas de LP (pela mão da companhia discográfica berlinesa Kozmik Artifactz), CD (numa edição de autor) e digital, este novo álbum da banda enraizada na cidade sulista de Toulouse enfeitiça e inflama o ouvinte com uma electrizante descarga de elegante, fogoso e picante Heavy Blues, e intoxicante, ciclónico e alucinante Heavy Psych. A sua sonoridade condimentada, odorosa e inquietante – envelhecida a um amarelecido tom vintage – passeia-se e galanteia-se por entre misteriosas, caramelizadas, sedutoras e sumptuosas baladas Led Zeppelin’escas fervidas em lume brando, e estonteantes, selváticas, buliçosas e extravagantes galopadas trauteadas a alta rotação que nos atropelam a lucidez e sobreaquecem de embriaguez. Partilhando o ADN de referências clássicas como The Jimi Hendrix Experience, Rory Gallagher (ao volante de Taste) e os São Franciscanos Shiver, assim como de outras nascidas em território contemporâneo como Radio Moscow, JOY e os helvéticos The Dues, os Fuzzy Grass são um psicotrópico vulcão em salivante erupção que nos banha e escalda sem qualquer moderação. Na composição desta deliciosa bebida espirituosa gravitam entre si uma liderante voz de ar aristocrático, lírica romanesca e pele aveludada, hidratada e fresca, uma narcotizante guitarra de sotaque Jimi Hendrix’eano que se enfurece na dinâmica condução de fulgurantes, maleáveis e excitantes riffs e enlouquece na sónica libertação de efervescentes, ácidos e rodopiantes solos que nos desaparafusam a cabeça do tronco, um baloiçante baixo suavemente murmurado a linhas sombreadas, fluídas e enigmáticas, e uma expressiva bateria desembaraçada a espalhafatosas, esfuziantes e circenses acrobacias John Bonham’eanas que nos esporeia e afogueia sem misericórdia. São 39 minutos de flamejante fascinação que nos atrelam à psicotrópica musicalidade de Fuzzy Grass do primeiro ao derradeiro tema. Um indomável vendaval de endorfinas que nos balanceia o corpo e incendeia a alma de uma euforia contida. Provem o mélico, ardente e aromático trago de ‘The Revenge of the Blue Nut’ e vivenciem de espírito conquistado e olhar embriagado todo o irresistível fulgor de um registo intensamente tentador. Um dos mais grandiosos álbuns do ano está aqui, na terna aspereza, doce amargura, divina diabrura, colorida palidez, fria fervura e boémia nobreza de Fuzzy Grass.

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