quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Review: ⚓ Graveyard - '6' (2023) ⚓

★★★★

Devo começar por confessar que sempre que a produção de um novo álbum de Graveyard é noticiada, desejo secretamente que a mesma esteja a ser tricotada com as mesmas linhas que desenharam e trajaram o primeiro álbum (que é, de longe, o meu favorito) da consagrada banda sueca, mas essa expectativa tem sido continuamente defraudada desde o lançamento do seu terceiro álbum ‘Lights Out’ de 2012. Por isso, os cinco degraus discográficos de Graveyard têm representado – para mim – uma escadaria que percorro no sentido descendente (no que ao meu grau de satisfação nutrida pelos escandinavos diz respeito). Depois de um período de cinco anos de jejum – que se seguira após o álbum ‘Peace’ de 2018 – os Graveyard regressam agora com um novíssimo álbum debaixo do braço (mais concretamente, e como o respectivo título assim sugere, o seu sexto registo de longa duração), publicado pela mão da poderosa companhia discográfica germânica Nuclear Blast nos formatos físicos de LP e CD. Já um tanto órfão da moribunda esperança de ver Graveyard dar continuidade à quente, áspera e atraente sonoridade do seu irretocável registo homónimo de intrigantes ares Witchcraft’eanos e, de certa forma, até conformado com essa tendência aparentemente irreversível, embarquei, sem bússola e de velas içadas ao sabor do vento, nas grisalhas e encaracoladas águas de ‘6’ de mente completamente desanuviada, disposto a absorver tudo aquilo que esta obra tem a dizer. E se depois de uma primeira audição senti haver ali algo que não me permitia desistir dele, com o acumular de renovadas explorações esse sentimento de apego foi amadurecendo e crescendo, culminando no exacto momento em que redijo estas sinceras e enamoradas palavras a ele dedicadas. Pendulando entre chuvosas, ternas e lamentosas baladas – delineadas a um inefável requinte que nos respira e condimentadas a uma permeabilidade emocional – que afagam o nosso desgosto e devem ser comungadas para lá do Sol posto, e ritmadas, curtas e apimentadas galopadas que fervilham em lume brando e nos surpreendem pela ousadia de perturbar aquele anestésico estado de etérea bonança que governa a maior fatia do seu espaço temporal, ‘6’ é um apaixonante registo de feições adultas e vestes outonais que ostenta o melhor lado daquele que considero ser o lado menos apelativo de Graveyard. É o agasalho perfeito para noites frias, melancólicas, de olhar nostálgico e ouvidos acordados pelo uivo da coruja. A sua sonoridade trovadora, refinada, caramelizada e conquistadora, por onde escorrem sentimentos genuínos que contagiam os nossos, passeia-se livre e graciosamente pelos meandros de um elegante, nocturno e aconchegante Blues Rock de roupagem clássica, um acalorado, odoroso e torneado Hard Rock de moldura vintage e até de um deslumbrante, lascivo e purificante Soul de luzência seráfica. De personalidade bipolar, onde de um lado é mostrada a suavidade, doçura e ligeireza, e do outro a rugosidade, amargura e diabrura, ‘6’ floresce e colora bonitas composições sulcadas por duas guitarras de tonalidade quente que se entrelaçam em acordes bailantes, majestosos e cativantes, e desenlaçam em solos esguios, serpenteantes e luzidios, um baixo movediço de pulsação estética, magnética e ondeante, uma deliciosa bateria – acrobática e expressiva – de tambores galopantes e pratos flamejantes, um garboso piano de teclas saltitantes, melodiosas e tocantes, e liderantes vocais tanto felinos, fogosos e urticantes, como límpidos, amaciados e melosos. Este é álbum adornado a primor que vive do detalhe e da sensibilidade. Um registo que mistura sorrisos e lágrimas, detentor de uma secreta beleza que só com o acumular de variadas audições se descobre e apalada por inteiro. Uma obra que nasce do lado mais romancista, reflexivo e intimista de Graveyard, reside na penumbra, e deixa no lado lunar do ouvinte pequenos rastilhos de luz e esperança. Este é o mais franco testemunho de quem acaba de ser reconquistado por uma banda que outrora tudo lhe deu e daqui em diante – acredito – continuará a dar. Um dos álbuns mais enternecedores do ano está aqui. Refugiem-se nele.

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