quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Review: 👻 Kadabra - 'Umbra' (2023) 👻

★★★★

Depois de comungado o impactante álbum de estreia ‘Ultra’ – lançado no Outono de 2021 e aqui desavergonhadamente reverenciado –, o electrizante power-trio Kadabra apresenta agora o seu segundo trabalho de longa duração, intitulado ‘Umbra’ e editado pela incansável companhia romana Heavy Psych Sounds nos formatos LP, CD e digital. Se já havia ficado de espírito petrificado e queixo tombado com a mesmérica feitiçaria que governa toda a intrigante atmosfera do primeiro álbum produzido por este tridente localizado na cidade norte-americana de Spokane (Washington), o seu segundo registo replica o efeito. Baseado num enigmático, sorumbático, ocultista e litúrgico Proto-Doom de negros ecos Black Sabbath’icos e num pantanoso, magnetizante, delirante e venenoso Heavy Psych de inflamada toxicidade que mistura influências de Dead Meadow, Uncle Acid & the Deadbeats e Holy Serpent, este dominante ‘Umbra’ assume a forma de uma mastodôntica, assombrosa e fantasmagórica avalanche que atropela e sepulta o ouvinte nas profundezas abissais de uma poderosa narcose. A sua sonoridade de natureza cerimonial, visão celestial e coloração outonal dilata as nossas pupilas, empalidece o nosso semblante e trava a nossa respiração numa intensa explosão de indestrutível sedução capaz de nos mumificar do primeiro ao derradeiro tema. São 47 minutos norteados por possantes cavalgadas de acrimoniosa fragância tumular que nos escaldam numa vulcânica euforia, e anestesiantes baladas de miraculosa beleza crepuscular que nos dissolvem nas pesadas águas da letargia. Esporeado e desdobrado a duas velocidades e dois pesos, ‘Umbra’ tanto se arrasta vagarosamente pelos nimbosos, mudos e nebulosos pântanos, como se liberta numa explosiva, vertiginosa e incisiva propulsão pela boca do Cosmos adentro. Sintam as fortes rajadas psicotrópicas de uma imponente guitarra – gaseificada a abrasiva distorção – que se agiganta em obesos, coesos e gordurosos riffs em alta rotação e serpenteia em solos escorregadios, ácidos e fugidios, a sufocante reverberação de um quente baixo balanceado a linhas fibrosas, ensombradas e montanhosas, as queimantes chicotadas de uma pujante bateria de baquetas em chamas a trote de uma ritmicidade alucinante, enérgica e retumbante, a diáfana brancura radiada pelos vocais andróginos de pele esbranquiçada, gelada e espectral que nos farolizam e hipnotizam, e ainda os místicos mugidos de um órgão etéreo que nos deixa a pele arrepiada. Este é um álbum de naturezas antagónicas, que tanto liberta uma populosa e raivosa manada de búfalos na nossa direcção, como nos recosta num confortável oásis espiritual de corpo massajado e sentidos adormecidos. Participem nesta nova e imersiva eucaristia – superiormente celebrada pelos Kadabra – de preces arremessadas ao esoterismo, e testemunhem toda a dominação de um dos melhores álbuns brotados em 2023.

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