quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Review: 🌋 Rëlisp - 'Akt​ï​w1' EP (2023) 🌋

★★★★

A recém-formada banda azteca Rëlisp acaba de lançar o seu arrojado EP de estreia intitulado ‘Aktïw1’, e carimbado pela jovem companhia discográfica local Noizu! Records através dos formatos CD (este ultra-limitado à prensagem de apenas duas centenas de cópias disponíveis) e digital. Residente na populosa Cidade do México, este extravagante sexteto revitaliza o sui generis Zeuhl: um exótico subgénero musical do Prog Rock estabelecido em 1969 pela banda francesa seminal Magma, termo proveniente da linguagem artística ficcional Kobaïan inventada pelo baterista e compositor francês Christian Vander (Magma), e cuja sua execução está hoje – infelizmente – em vias de extinção. Conjugando a ousadia e a maestria, Rëlisp vê a sua bússola apontada ao fascinante, camaleónico, místico e cerimonial Prog Rock de idioma Zeuhl e que hasteia bem alto a bandeira do movimento R.I.O. (acrónimo de Rock in Opposition), aliado ao primaveril, fabular, rústico e pastoril Folk de ensolarado e arejado clima Canterbury’esco, e ao espiritual, anárquico, claustrofóbico e sensacional Avant-Garde Jazz de carnavalesco bacanal sintonizado nas frequências de John Coltrane e Frank Zappa. Arquitectada por ambiciosas, complexas e gloriosas composições que trajam e conduzem os temas, e desregrada por um experimentalismo que confere asas à criatividade de cada um dos seus intérpretes, a sonoridade cerebral, excêntrica, enigmática e orquestral de ‘Aktïw1’ – indiscretamente influenciada por bandas clássicas como Magma, Weidorje, ZAO, Dün e Kōenji Hyakkei, e pelos contemporâneos californianos Corima – baloiça-se com altivez por desiguais estados de espírito que tanto relaxam e inebriam o ouvinte com suavizantes, etéreas e deslumbrantes passagens de verdejante placidez, como escaldam e euforizam o mesmo com furiosas, aparatosas e centrifugantes danças de instrumentos em debandada. Contando nas suas fileiras com a carismática presença colaborativa do pianista Patrick Gauthier (membro de Magma e Weidorje) e mais dois músicos convidados, este talentoso colectivo mistura a magia e a bizarria. Uma hipnótica alquimia superiormente musicada pelos enfeitiçantes e polifónicos coros vocais, a acintosa efervescência de uma voz acrimoniosa e a sedutora luzência de uma feminina voz angelical, a reverberação magnetizante, baloiçante e fluída do baixo, os coléricos, caóticos e estridentes sopros do saxofone, as mirabolantes, circenses e empolgantes acrobacias de uma bateria jazzística, os acetinados mugidos do violino, as intrincadas e coloridas melodias – de notas vivas e saltitantes – dos teclados, e os acordes angulosos de uma guitarra erudita. ‘Aktïw1’ é um registo verdadeiramente brilhante que só peca pela sua curta duração. Compartimentado em apenas três temas de almas dissemelhantes, este primeiro, mas triunfante, passo discográfico de Rëlisp provocara em mim todo um inextinguível estádio de intenso transe que me faz ansiar, de coração galopante e boca salivante, pelo segundo trabalho da banda. Nunca a elegância e a irreverência casaram tão bem. O mais sério candidato até ao momento a melhor EP do ano está aqui, no ostentoso culto de fragância alienígena celebrado por esta secreta sociedade mexicana.

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