A recém-formada banda
azteca Rëlisp acaba de lançar o seu arrojado
EP de estreia intitulado âAktâĂŻâw1â, e
carimbado pela jovem companhia discogråfica local Noizu! Records através
dos formatos CD (este ultra-limitado Ă prensagem de apenas duas centenas de
cĂłpias disponĂveis) e digital. Residente na populosa Cidade do MĂ©xico,
este extravagante sexteto revitaliza o sui generis Zeuhl: um exótico subgénero
musical do Prog Rock estabelecido em 1969 pela banda francesa seminal Magma, termo
proveniente da linguagem artĂstica ficcional KobaĂŻan inventada pelo
baterista e compositor francĂȘs Christian Vander (Magma), e cuja
sua execução estĂĄ hoje â infelizmente â em vias de extinção. Conjugando a
ousadia e a maestria, RĂ«lisp vĂȘ a sua bĂșssola apontada ao fascinante, camaleĂłnico,
mĂstico e cerimonial Prog Rock de idioma Zeuhl e que hasteia bem
alto a bandeira do movimento R.I.O. (acrĂłnimo de Rock in Opposition),
aliado ao primaveril, fabular, rĂșstico e pastoril Folk de ensolarado e
arejado clima Canterburyâesco, e ao espiritual, anĂĄrquico,
claustrofĂłbico e sensacional Avant-Garde Jazz de carnavalesco bacanal sintonizado
nas frequĂȘncias de John Coltrane e Frank Zappa. Arquitectada por ambiciosas,
complexas e gloriosas composiçÔes que trajam e conduzem os temas, e desregrada por um
experimentalismo que confere asas Ă criatividade de cada um dos seus
intĂ©rpretes, a sonoridade cerebral, excĂȘntrica, enigmĂĄtica e orquestral de âAktâĂŻâw1â
â
indiscretamente influenciada por bandas clĂĄssicas como Magma, Weidorje,
ZAO, DĂŒn e KĆenji
Hyakkei, e pelos contemporĂąneos californianos Corima
â baloiça-se com altivez por desiguais estados de espĂrito que tanto relaxam e inebriam o
ouvinte com suavizantes, etéreas e deslumbrantes passagens de verdejante
placidez, como escaldam e euforizam o mesmo com furiosas, aparatosas e centrifugantes
danças de instrumentos em debandada. Contando nas suas fileiras com a
carismåtica presença colaborativa do pianista Patrick Gauthier (membro
de Magma e Weidorje) e mais dois mĂșsicos convidados, este talentoso colectivo mistura a magia e
a bizarria. Uma hipnótica alquimia superiormente musicada pelos enfeitiçantes e
polifĂłnicos coros vocais, a acintosa efervescĂȘncia de uma voz acrimoniosa e a sedutora
luzĂȘncia de uma feminina voz angelical, a reverberação magnetizante, baloiçante
e fluĂda do baixo, os colĂ©ricos, caĂłticos e estridentes sopros do saxofone, as mirabolantes,
circenses e empolgantes acrobacias de uma bateria jazzĂstica, os acetinados mugidos
do violino, as intrincadas e coloridas melodias â de notas vivas e saltitantes â
dos teclados, e os acordes angulosos de uma guitarra erudita. âAktâĂŻâw1â
é um registo verdadeiramente brilhante que só peca pela sua curta duração.
Compartimentado em apenas trĂȘs temas de almas dissemelhantes, este primeiro,
mas triunfante, passo discogråfico de Rëlisp
provocara em mim todo um inextinguĂvel estĂĄdio de intenso transe que me faz ansiar,
de coração galopante e boca salivante, pelo segundo trabalho da banda. Nunca a elegùncia
e a irreverĂȘncia casaram tĂŁo bem. O mais sĂ©rio candidato atĂ© ao momento a melhor EP do ano
estĂĄ aqui, no ostentoso culto de fragĂąncia alienĂgena celebrado por esta secreta sociedade mexicana.
Links:
â„ Facebook
â„ Instagram
â„ Bandcamp
â„ Noizu! Records
Sem comentĂĄrios:
Enviar um comentĂĄrio