O esfíngico quarteto
português Misleading está na iminência de oficializar o lançamento do
seu terceiro álbum de estúdio intitulado ‘Face the Psych’ (calendarizado
para o dia de amanhã), mas o El Coyote orgulha-se de antecipar o parto,
estreando, na íntegra e em primeira mão, aquele que se trata do seu álbum
favorito, apresentado até à data pela banda enraizada na cidade de Leiria.
Exorcizado e arrastado das mais abissais trevas para a amarelecida luzência
diurna através do exclusivo formato digital – ainda que com as formas de CD e
cassete pensadas para um futuro próximo – este novíssimo álbum de Misleading
atormenta de forma impiedosa o ouvinte, atropelando-o sem demoras com uma febril,
poderosa, contagiosa e vil avalanche psicotrópica que o deixará combalido e
atordoado do primeiro ao derradeiro tema. Combinando um infernal, esotérico, mesmérico
e cerimonial Doom Metal sintonizado na mesma frequência luciférica dos britânicos Electric
Wizard, e um caótico, efervescente, erodente e selvático Heavy Psych
de influência emprestada pelos saudosos californianos PETYR, este novo
trabalho da formação lusitana crava os seus longos e afiados caninos na nossa jugular, poluindo os nossos rios sanguíneos com um veneno letal. De lucidez subtraída, alma
anoitecida, olhar aterrorizado e espírito embriagado e embruxado de incuráveis intenções
demoníacas, principiamos esta caravânica digressão nas enigmáticas Pirâmides de
Gizé e prosseguimos – tanto a velocidade de cruzeiro numa morfínica, reflexiva, lenitiva e
sonolenta absorção do horizonte cósmico que se vai desvelando calma e demoradamente,
como numa libertadora, enlouquecedora, turbulenta e alucinante centrifugação que nos varre furiosamente
pelos virginais territórios alienígenas – de olhos içados e corpo levitante na vertiginosa
direcção do grande desconhecido que se esconde secretamente algures na eterna noite
astral. Conservado e cozinhado a dois climas totalmente opostos – ora gélido,
melancólico e anestésico, ora vulcânico, inflamado e eufórico – ‘Face the
Psych’ edifica em redor de quem o comunga toda uma atmosfera extraterrestre
sobrevoada por fantasmagóricas brumas que nos deixa desnorteados, atemorizados
e de olhares desconfiados. Um verdadeiro cataclismo oxigenado por um vampírico obscurantismo
que nos trava a respiração e impede de pestanejar. Bebam deste sangrento cálice,
encarvoem-se na pretura cósmica e reverenciem o lado eclipsado da religiosidade
à estimulante boleia sonora de uma guitarra ufana que alavanca e manobra riffs
monolíticos, trevosos, pantanosos e cabalísticos – empapados em urticante
distorção – e vomita solos avinagrados, desvairados, efervescentes e despedaçados,
um hipnótico baixo de linhas baloiçantes, nervudas, sisudas e dançantes, uma ávida
bateria de frenético coice Punk a galope de um ritmo ansioso, impaciente
e belicoso, uma voz depravada de pele sebosa, bolorenta, decrépita e cavernosa,
e enfeitiçantes teclados de caligrafia arábica que se serpenteiam em enleantes
bailados e magicam dramáticos sirenes de estética Sci-Fi que colocam
todo o Cosmos em estado de alerta. Este é um álbum verdadeiramente intrigante, detentor
de uma sufocante obscuridade sem porta de saída. Um registo ritualístico que
tanto nos adormece nos braços de fortes sedativos como endoidece numa intensa overdose
de anfetaminas. A banda-sonora perfeita para musicar os velhos e carismáticos filmes
de horror. Entrem na cripta de Misleading e dancem desnudos e
compenetrados por entre sarcófagos e múmias andantes.
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