terça-feira, 30 de abril de 2024

Review: 🌩️ Full Earth - 'Cloud Sculptors' (2024) 🌩️

★★★★

Proveniente da cidade cultural de Oslo (capital da Noruega) chega-nos o impactante álbum de estreia do quinteto experimental Full Earth (formado pelos membros dos prolíficos Kanaan). Denominado ‘Cloud Sculptors’ e lançado pela já histórica companhia discográfica germânica Stickman Records nos formatos LP, CD e digital, este primeiro trabalho da turma norueguesa é norteado por uma exótica fusão musical onde prosperam um dominante, monstruoso, umbroso e enfeitiçante Heavy Prog vigiado por sombrias, carregadas e sisudas nuvens Doom’escas, um enfático, extravagante, empolgante e bombástico Jazz-Rock – de excêntrica caligrafia Avant-Garde – sarapintado por pulsantes e caleidoscópicas colorações psicadélicas, e ainda um desregrado, intuitivo, explorativo e sónico experimentalismo de alquimia electrónica. A magnética, camaleónica e sideral sonoridade de ‘Cloud Sculptors’ baloiça-se entre maravilhosas, odorosas, ventiladas e astrais paisagens aureoladas por uma placidez virginal que nos hipnotiza e eteriza com o seu absorvente minimalismo, e vertiginosas, turbulentas, barulhentas e fervorosas galopadas inflamadas por um clima infernal que nos sacode e explode de intensa euforia. Uma dançante, labiríntica e estonteante espiral onde gravitam influências como Manuel Göttsching (Ash Ra Tempel), Terry Riley, Elephant9, Krokofant, Sleep, Elder, Mastodon, BaronessHigh On Fire e os próprios Kanaan. São 84 minutos que encerram uma fantástica odisseia pela infindável vacuidade cósmica, condimentada por visões proféticas, contos mitológicos e explosões pirotécnicas que desabrocham no negro solo estelar.  Na composição desta imaginativa, surrealista e propulsiva viagem de longa duração pelos inexplorados territórios alienígenas, dialogam entre si uma guitarra altiva de intoxicantes, monstruosos, rugosos e impressionantes riffs – incendiados pelo urticante, espinhoso e electrizante efeito Fuzz – de onde se libertam ácidos, venenosos, viscosos e translúcidos solos, um baixo sufocante de linhas massivas, densas, tensas e invasivas, uma bateria endiabrada de ritmicidade pautada a espalhafatosa tecnicidade e desconcertante velocidade, e toda uma aquosa profusão de teclados futuristas que – tricotando toda uma complexa teia de encaracolados loops que se encavalitam entre si – vagueiam de velas içadas ao sabor do abstracionismo por melancólicas, cósmicas e fabulares passagens de sublimada beleza que nos mergulham nas profundezas da introspecção. Este é um álbum matematizado por inventivas composições cerebrais e subjugado pela tempestade e a bonança. Uma colorida colagem de incontáveis peças que juntas formam este sensacional puzzle musical. Fiquem na marcante, irreverente e gratificante companhia de Full Earth durante este dia internacional do Jazz, e vivenciem com inapagável fascinação um dos álbuns mais bizarros (no sentido elogioso da palavra) lançados até ao momento em 2024.

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