quarta-feira, 30 de abril de 2025
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domingo, 27 de abril de 2025
sexta-feira, 25 de abril de 2025
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Review: 🐺 André Drage - 'Wolves' (2025, Drage Records) 🐺
Proveniente da
insuspeita Noruega – aquele que é, aos meus olhos, o mais importante e populoso
viveiro do Jazz Fusion em território europeu – dá à costa este espantoso
registo que inundara de inefável prazer o meu cérebro, arregalara os meus olhos, fizera
salivar os meus ouvidos e massajara todas as zonas erógenas do meu corpo. Formado
e liderado pelo versátil e talentoso baterista, produtor e compositor norueguês
André Drage (integrante da banda Draken), este engenhoso,
irreverente e aparatoso quinteto natural da cidade-capital Oslo irriga o
assombroso ‘Wolves’ com um enfeitiçante, inventivo, imersivo e provocante
Jazz Fusion de extravagante caligrafia Avant-garde’esca
e uma doce fragância oriental, em simbiótica, fascinante e ritualística
comunhão com um agradável, lustroso, luxuoso e dançável Prog Rock de ameno
clima Canterbury’esco. Lançado nos formatos LP e digital sob
o exclusivo carimbo editorial de autor (via Drage Records), este criativo
colectivo – de alma vendida aos místicos desígnios da música Jazz – partilha
a genética de influentes referências locais da contemporaneidade como Bushman’s
Revenge, Needlepoint, Soft Ffog, The Verge, Krokofant,
Sex Magick Wizards, Elephant9, Jordsjø, Wobbler, WIZRD,
e Kanaan, assim como comunga o precioso legado deixado por grandiosas lendas
internacionais como King Crimson, Mahavishnu Orchestra, Soft
Machine, Nucleus, Return to Forever, Herbie Hancock, The
Eleventh House feat. Larry Coryell, Frank Zappa, Colosseum,
Weather Report, Brand X, Caravan, National Health e
Jean-Luc Ponty. Arquitectado por impressionantes, vibrantes, audaciosas e
desafiantes composições – brilhantemente executadas a estimulante, requintada, cuidada
e estonteante perícia – ‘Wolves’ caça-nos, enterra os seus longos e
afiados caninos na nossa jugular e conquista-nos sem qualquer resistência da
nossa parte. A sua sonoridade imensamente sedutora, esfíngica, mística e cativante
viaja-nos, alucinados e sem travões, pelas curvas e contracurvas do seu corpo oleoso,
sinuoso e invertebrado, desaguando-nos, desmaiados, absortos e deslumbrados, nas
suas paradisíacas praias virginais de luzência deífica. A frenética euforia e a
anestésica melancolia de mãos dadas. Nas asas de uma bateria bombástica,
excêntrica e inflamante que se aventura e desventura em excitantes, extraordinárias,
propulsivas e mirabolantes acrobacias, uma guitarra exótica, ciclónica e esdrúxula
que se hasteia em angulosos, dramáticos, enfáticos e faustosos riffs e se
meneia em solos intrincados, ziguezagueantes, vertiginosos e desvairados, um
baixo elástico, esponjoso, gorduroso e hipnótico de linhas carregadas, pulsantes,
bailantes e carnudas, um teclado sonhador que desata frescas, aromáticas,
seráficas e romanescas harmonias, e um buliçoso, histérico e ostentoso violino de
aura fabular e mugidos penetrantes, fugidios, luzidios e arrepiantes, percorremos
as perfumadas, arejadas, verdejantes e encantadas planícies fantasiadas e realizadas
por André Drage. Todo um utópico, extasiante, psicadélico e caleidoscópico delírio
que durante 35 minutos nos aspira e centrifuga na sua profunda garganta
rodopiante, e depois nos cospe, embriagados, entontecidos e desnorteados, para
a cadeira da estranha e desconfortável realidade. Sumamente, este é um álbum
verdadeiramente belo e viciante que extravasa as fronteiras da perfeição. Uma
obra-prima notável onde o virtuosismo técnico é posto ao serviço da música e
não o oposto. Em ‘Wolves’ nada há de censurável e tudo há de venerável. Vai
ser fácil vê-lo digladiar-se pelo mais cobiçado lugar do pódio onde figurarão
os melhores registos de longa duração do presente ano.
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quarta-feira, 23 de abril de 2025
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quinta-feira, 3 de abril de 2025
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Review: 🔥 Desert Smoke - 'Desert Smoke' (2025, Raging Planet) 🔥
Depois do EP
de estreia ‘Hidden Mirage’ (lançado em 2018 e aqui explanado) e
do álbum ‘Karakum’ (lançado em 2019 e aqui analisado), os druidas
desérticos Desert Smoke estão finalmente de regresso com o nascimento do
seu muito aguardado novo trabalho de longa duração – de denominação homónima e
com a edição a cargo do insuspeito selo discográfico português Raging Planet
através dos formatos LP, CD e digital – e, devo antecipar, que se trata do meu
registo favorito destes cosmonautas portugueses. Incensada por um intoxicante,
místico, atmosférico e electrizante Heavy Psych que se agiganta, encrespa
e obscurece num montanhoso, belicoso, imponente e contagioso Psychedelic
Doom, a esfíngica, cerimonial e camaleónica sonoridade de ‘Desert Smoke’
é farolizada pela simbiose instrumental, lavrada por uma extravagante
caligrafia árabe e perfumada por uma doce fragância oriental. As suas
absorventes, criativas, intuitivas e incandescentes jams que evoluem de
estados contemplativos, letárgicos e reflexivos – banhados a deífica, plácida e
seráfica beatitude – para explosivas, agressivas e orgásmicas erupções de
incontida e diluviana adrenalina, tanto embrumam o ouvinte numa açucarada
anestesia, como o estremecem e enlouquecem de sísmica e vulcânica euforia. Governado por atmosferas virulentas, sulfurosas, arenosas e fumarentas que se adensam num
mistério tentador, somos engolidos e cativados do primeiro ao derradeiro tema. São 35
minutos com vista panorâmica e desabrigada para a eterna noite sideral.
Desancorados da gravidade terrestre e mergulhados nas profundezas abissais do
infindável oceano cósmico, somos embalados na sónica vertigem de Desert
Smoke, trespassando quasares, montando cometas e driblando massivos astros
solitários. Toda uma fantástica odisseia intergaláctica superiormente musicada
por duas guitarras sultanas – dominadas pela rugosidade e fogosidade do efeito Fuzz
– que se entrançam na condução de ciclónicos, enfeitiçantes e catatónicos riffs,
e destrançam num inesgotável manancial de solos ácidos, alucinados e esvoaçantes,
um baixo hipnótico de linhas carnudas, sisudas e dançantes, e uma bateria estimulante
que – com a robótica precisão de um relógio suíço – tiquetaqueia com total perseverança
a tempestade e a bonança. Este é um álbum piramidal – de natureza celestial,
consagração sensorial e dilatação consciencial – que tanto nos inebria, amolece
e extasia com as suas edénicas paisagens introspectivas, como aspira, centrifuga
e sobreaquece com os seus inflamados e selváticos remoinhos. Aventurem-se e desventurem-se nesta
impactante, febril e viciante alucinação que varre todo o Cosmos, distorce as
coordenadas do espaço-tempo e resvala nas costuras fronteiriças da perfeição.
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