Proveniente da
insuspeita Noruega – aquele que é, aos meus olhos, o mais importante e populoso
viveiro do Jazz Fusion em território europeu – dá à costa este espantoso
registo que inundara de inefável prazer o meu cérebro, arregalara os meus olhos, fizera
salivar os meus ouvidos e massajara todas as zonas erógenas do meu corpo. Formado
e liderado pelo versátil e talentoso baterista, produtor e compositor norueguês
André Drage (integrante da banda Draken), este engenhoso,
irreverente e aparatoso quinteto natural da cidade-capital Oslo irriga o
assombroso ‘Wolves’ com um enfeitiçante, inventivo, imersivo e provocante
Jazz Fusion de extravagante caligrafia Avant-garde’esca
e uma doce fragância oriental, em simbiótica, fascinante e ritualística
comunhão com um agradável, lustroso, luxuoso e dançável Prog Rock de ameno
clima Canterbury’esco. Lançado nos formatos LP e digital sob
o exclusivo carimbo editorial de autor (via Drage Records), este criativo
colectivo – de alma vendida aos místicos desígnios da música Jazz – partilha
a genética de influentes referências locais da contemporaneidade como Bushman’s
Revenge, Needlepoint, Soft Ffog, The Verge, Krokofant,
Sex Magick Wizards, Elephant9, Jordsjø, Wobbler, WIZRD,
e Kanaan, assim como comunga o precioso legado deixado por grandiosas lendas
internacionais como King Crimson, Mahavishnu Orchestra, Soft
Machine, Nucleus, Return to Forever, Herbie Hancock, The
Eleventh House feat. Larry Coryell, Frank Zappa, Colosseum,
Weather Report, Brand X, Caravan, National Health e
Jean-Luc Ponty. Arquitectado por impressionantes, vibrantes, audaciosas e
desafiantes composições – brilhantemente executadas a estimulante, requintada, cuidada
e estonteante perícia – ‘Wolves’ caça-nos, enterra os seus longos e
afiados caninos na nossa jugular e conquista-nos sem qualquer resistência da
nossa parte. A sua sonoridade imensamente sedutora, esfíngica, mística e cativante
viaja-nos, alucinados e sem travões, pelas curvas e contracurvas do seu corpo oleoso,
sinuoso e invertebrado, desaguando-nos, desmaiados, absortos e deslumbrados, nas
suas paradisíacas praias virginais de luzência deífica. A frenética euforia e a
anestésica melancolia de mãos dadas. Nas asas de uma bateria bombástica,
excêntrica e inflamante que se aventura e desventura em excitantes, extraordinárias,
propulsivas e mirabolantes acrobacias, uma guitarra exótica, ciclónica e esdrúxula
que se hasteia em angulosos, dramáticos, enfáticos e faustosos riffs e se
meneia em solos intrincados, ziguezagueantes, vertiginosos e desvairados, um
baixo elástico, esponjoso, gorduroso e hipnótico de linhas carregadas, pulsantes,
bailantes e carnudas, um teclado sonhador que desata frescas, aromáticas,
seráficas e romanescas harmonias, e um buliçoso, histérico e ostentoso violino de
aura fabular e mugidos penetrantes, fugidios, luzidios e arrepiantes, percorremos
as perfumadas, arejadas, verdejantes e encantadas planícies fantasiadas e realizadas
por André Drage. Todo um utópico, extasiante, psicadélico e caleidoscópico delírio
que durante 35 minutos nos aspira e centrifuga na sua profunda garganta
rodopiante, e depois nos cospe, embriagados, entontecidos e desnorteados, para
a cadeira da estranha e desconfortável realidade. Sumamente, este é um álbum
verdadeiramente belo e viciante que extravasa as fronteiras da perfeição. Uma
obra-prima notável onde o virtuosismo técnico é posto ao serviço da música e
não o oposto. Em ‘Wolves’ nada há de censurável e tudo há de venerável. Vai
ser fácil vê-lo digladiar-se pelo mais cobiçado lugar do pódio onde figurarão
os melhores registos de longa duração do presente ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Drage Records
Sem comentários:
Enviar um comentário