sábado, 22 de agosto de 2020

Review: ⚡ Electric Moon - 'Live at Freak Valley Festival 2019' (2020) ⚡

Situados no estranho contexto em que o universo artístico ainda se tenta recompor do tremendo abalo epidémico que o derrubara, enfraquecera e pontapeara para bem longe dos palcos, poder assistir – ainda que de forma não presencial – a registos ao vivo equivale a experienciar chuva no deserto. E se há bandas que nesse campo (o da passagem da alquimia ao vivo acima de palco para o formato físico e/ou digital) se podem adjectivar como irrepreensíveis, uma delas é seguramente Electric Moon. Originalmente captado no conceituado festival germânico em 2019 pela mão do popular programa televisivo alemão Rockpalast e com o seu lançamento integral e oficial agendado para o início do próximo mês de Setembro através da insuspeita Sulatron Records na forma física de CD (limitado a apenas 500 cópias disponíveis), ‘Live at Freak Valley Festival 2019’ é um álbum que conserva toda a purificante, edénica e atordoante magia do que é comungar ao vivo a liturgia cósmica deste profético power-trio que desde a sua fundação aponta os respectivos instrumentos ao lado eclipsado da Lua e por lá naufragam com inteira liberdade criativa. Absorvidos e revolvidos pelas suas construtivas, enfeitiçantes, deslumbrantes e evolutivas jam’s de longa duração e imperturbável fascinação que afunilam e canalizam o ouvinte numa labiríntica hipnose oxigenada a saturada narcose, Electric Moon combina ingredientes como um lenitivo, hipnótico e imersivo Krautrock, um colorido, alucinógeno e embevecido Psychedelic Rock, um vagueante, exótico e extasiante Acid Rock, e ainda um mirífico, viajante e ritualístico Space Rock numa só receita capaz de nos desancorar da gravidade terrena e fazer transcender aos mais longínquos e recônditos lugares do espaço alienígena. Motorizado por uma alucinada, intoxicante e embriagada sonoridade condimentada a um livre, sónico e espontâneo experimentalismo sem fronteiras que o inibam, ‘Live at Freak Valley 2019’ tem o raro dom de nos suster a respiração, dilatar as pupilas e içar na vertiginosa direcção das abissais profundezas do oceano cósmico. Esta fantástica expedição estelar é brilhantemente liderada por uma esdrúxula guitarra que se perde e encontra por entre solos estonteantes, ácidos, arrebatados e ecoantes, um envolvente baixo que – sem nunca esquecer o Riff-base de cada tema – nos murmura linhas pulsantes, sombreadas, fibradas e ondeantes, uma estimulante bateria de ritmicidade tiquetaqueada a um galope constante, e ainda toda uma inimaginável e inesgotável profusão de venenosos efeitos que nos ofuscam a lucidez, amortalham numa densa nebulosidade sideral e atestam de embriaguez. De destacar ainda o inspirado, sublime e detalhado artwork de grandiosa devoção Budista com os devidos créditos dirigidos à Bookesia Estudio, e ainda da surpreendente inclusão de um derradeiro tema bónus temperado a um outonal, fabular, idílico e espiritual Folk de essência puramente acústica que encerra na perfeição toda esta revitalizante passeata pelos jardins astrais. Deixem-se diluir, seduzir e efervescer na nirvânica eucaristia de Electric Moon, e embarquem num profundo estádio de sonambulismo à boleia deste vívido sonho superiormente formulado e desdobrado por estes três astronautas germânicos que há muito tocam e mapeiam as mais erógenas zonas do nosso Cosmos interior.

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