sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Review: ⚡ Turtle Skull - 'Monoliths' (2020) ⚡

Da cidade costeira de Sydney (situada na Austrália) chega-nos a sublime fragância fabulosamente suspirada por um dos álbuns – por mim – mais aguardados do corrente ano. ‘Monoliths’ é segundo trabalho de longa duração do adorável quinteto Turtle Skull que acaba de ser lançado hoje mesmo tanto em formato digital como nos formatos físicos de CD e vinil através da parceria discográfica que coliga o selo germânico Kozmik Artifactz ao australiano Art As Catharsis. E se a ele dedicava toda uma atestada expectativa, é justo começar por antecipar que o mesmo não só a preenchera na totalidade como até extravasara as suas longínquas costuras. Fundamentada num mântrico, celestial, estival e messiânico Psychedelic Rock de reminiscências revivalistas e ambiências fantasistas, que tanto se nebuliza e eteriza num deslumbrante, lenitivo, contemplativo e extasiante Krautrock de imediata imersão e inesgotável fascinação, como se obscurece e enrijece num poderoso, chamejante, electrizante e vigoroso Heavy Psych de ameaçadoras feições Doom’escas e encrostado a efervescente efeito Fuzz, esta miraculosa obra tivera em mim um irreparável impacto sensorial que me escancarara as portas da percepção e catapultara para um mergulho nas profundezas da introspecção. Aprisionados num perpétuo baloiçar gravitacional que nos ricocheteia entre a doce e letárgica melancolia e a sedada e emancipadora euforia, somos seduzidos, abraçados e oxigenados pela mágica, quimérica e embriagada nebulosidade sulfatada por Turtle Skull. Autoapelidada de “Flower Doom”, a estética, profética e enfeitiçante sonoridade de ‘Monoliths’ desabrocha um forte contraste entre o pesado negrume e a leve luzência que convida o ouvinte a experienciar toda uma panóplia de climas, aromas e sentimentos desiguais. De olhar petrificado, pálpebras tombadas, sorriso imortalizado no rosto, espírito maravilhado e cabeça vagarosamente balanceada de ombro em ombro, embarcamos numa consagrada peregrinação pelas mais erógenas zonas do nosso Cosmos cerebral à catártica boleia de um translúcido, ensolarado, evangélico e imaculado coro vocal de afago espiritual, uma afrodisíaca guitarra de paladar oceânico que se envaidece em serpenteantes, magnéticos e ofuscantes Riffs de textura arábica, e rubrica ácidos, extravagantes e delirados solos de elevada toxicidade, um baixo modorrento de ondeantes, fluídas e murmurantes linhas a capitanear uma diluviana reverberação, um intrigante sintetizador que ausculta o misticismo segredado pelo espaço sideral, e ainda uma hipnótica bateria que – de forma comprometida, airosa e absorvida – tiquetaqueia toda esta reflexiva, inventiva e transformadora odisseia mental capaz de nos pacificar os sentidos e massajar a alma sedenta de algo assim. De espalhar ainda elogiosas apreciações ao caprichoso artwork de créditos apontados ao artista local Davey Fenn que tão bem transportara para o domínio visual todo o ataráxico misticismo destilado pelo colectivo australiano. ‘Monoliths’ é um sumarento néctar de propriedades nirvânicas que em mim provocara uma abundante salivação. Um registo de beleza consumada que vive da sensibilidade. Degustem esta deliciosa, encantadora e copiosa secreção de interiorização auditiva e vivenciem de forma compenetrada, estarrecida e reverenciada um dos álbuns mais edénicos dos últimos anos. Não vai ser nada fácil despertar deste lúcido sonho superiormente musicado pelos druidas Turtle Skull e dar à costa da lucidez que nos fora subtraída e sonegada do primeiro ao derradeiro minuto. O Paraíso aqui tão perto, à distância de uma audição. Banhem-se e regozijem-se neste tangível oásis espiritual.

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