segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Review: ⚡ Sheverb - 'Once Upon a Time in Bombay Beach' (2020) ⚡

Do deserto californiano (mais concretamente – e como o seu nome assim o sugere – da região semi-abandonada de Bombay Beach) chega-nos este Western sublimemente musicado pela formação texana Sheverb. Consequência da sua permanência de um mês nestas ruínas à beira-mar plantadas, ‘Once Upon a Time in Bombay Beach’ espelha todo o misticismo desértico que o quinteto natural de Austin inalara e assimilara. Lançado no final do passado mês de Agosto sob a exclusiva forma digital através do seu Bandcamp oficial, este renovado trabalho de Sheverb vem velejado por um imersivo, arejado, ornamentado e inventivo Surf Rock, bronzeado por um deslumbrante, veraneio, tropical e tranquilizante Psychedelic Rock e ainda condimentado por um dançante, fogoso, libidinoso e contagiante Tex-Mex Music que prontamente nos remete para os poeirentos cenários cinematográficos desdobrados e capitaneados pelo carismático realizador italiano Sérgio Leone. Situada numa intersecção que combina a melodiosa brisa desértica de uns Spindrift com o afrodisíaco exotismo de fragância latina transudado pelos Mariachis norte-americanos Calexico e a revitalizante bafagem oceânica respingada pelos clássicos The Ventures, a ensolarada, profética, estética e aromatizada sonoridade de ‘Once Upon a Time in Bombay Beach’ planta e fertiliza no imaginário do ouvinte um arenoso, fervilhante e veludoso tapete desértico de dimensão a perder de vista, onde imponentes saguaros se espreguiçam na vertiginosa direcção de um Sol esbatido e bocejante, cowboys solitários se passeiam de olhares desconfiados e coldres desapertados, e uivantes coiotes deambulam com discrição pelos intangíveis firmamentos que se renovam pela eternidade fora. De texanas calçadas, esporas aguçadas, gatilhos cintilantes e instrumentos empunhados, Sheverb convida-nos a vivenciar meditativas baladas de beleza crepuscular e desenfreadas cavalgadas à rédea solta. Na composição desta adorável orquestra Ennio Morricone’sca estão duas druídicas guitarras que se cruzam na condução de serpenteantes Riffs e descruzam na libertação de intoxicantes solos, uma hipnotizante bateria de ritmicidade galopante, um baixo murmurante compenetrado em linhas vagueantes, e ainda um estimulante trompete de sopros pomposos que confere a toda esta mágica atmosfera uma elegância de feição mexicana. É-me ainda importante e enfatizar e endeusar o mirífico artwork superiormente ilustrado pela talentosa artista de nacionalidade australiana Lauren Massy que com inesgotável capricho fabricara o pórtico perfeito para esta sagrada peregrinação pelos trilhos e desfiladeiros do deserto espiritual. Deixem-se embrenhar, entontecer e alucinar à boleia da mescalina sonora de ‘Once Upon a Time in Bombay Beach’ e sintam-se dar à costa de um verdadeiro oásis sensorial. Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui, nesta espirituosa liturgia de veneração desértica. Degustem este mezcal sem qualquer moderação, cambaleiem para fora do saloon, enfrentem Sheverb num duelo desigual, e caiam derrotados aos pés das cinco silhuetas sombreadas pelos pistoleiros texanos. É este o incontornável destino reservado a todos aqueles que neste álbum decidirem ingressar.

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