sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Review: ⚡ Causa Sui - 'Szabodelico' (2020) ⚡

★★★★

Depois de toda uma discografia pautada pela vulcânica efervescência psicadélica (com excepção da paradisíaca trilogia ‘Summer Sessions’), os abundantemente apreciados Causa Sui ajustam agora a sua bússola na inexplorada direcção da ataráxica envolvência de reconfortante efeito letárgico suspirada pelo eterno crepúsculo de um verão já findado. ‘Szabodélico’ – oficialmente lançado hoje mesmo pela insuspeita El Paraiso Records sob a forma física de CD e vinil, e ainda nas extensões digitais de MP3 e FLAC para download – representa essa subtil metamorfose de uma banda que nunca desilude quem nela se refugia. Florescido de intuitivas, espaçadas, arejadas e imaginativas improvisações, este novo álbum de estúdio soberbamente musicado pela prolífica formação dinamarquesa encerra um verdadeiro oásis de afago sensorial e deslumbramento espiritual que é oxigenado por utópicas paisagens de natureza ambiental, anestésica, mística e experimental. Combinando um contemplativo, hipnótico, vaporoso e imersivo Krautrock de paladar oriental, e um ensolarado, edénico, profético e perfumado Psychedelic Rock de clima tropical, ‘Szabodélico’ serpenteia-se, flutua e formoseia-se de forma expansiva, sedutora e evolutiva pelas aveludadas, cálidas e bronzeadas dunas de um balsâmico deserto que se espreguiça até onde desmaia a esmorecida ondulação de um cristalino oceano de luzência azul turquesa. De olhar selado pela corada resplandecência solar, rosto embriagado pela fresca brisa, pés lambidos pelas línguas espumantes do mar, e um sabor salino colado aos lábios, somos embalados pela sumarenta sonoridade de ‘Szabodélico’ à afrodisíaca boleia de uma guitarra endeusada que se ziguezagueia e esperneia em solos vistosos, caleidoscópicos, pérsicos e airosos, um sussurrante baixo bafejado a linhas onduladas, leves, suaves e aveludadas, um quimérico sintetizador de esfíngicos bailados condimentados e embrumados a cósmico misticismo, e uma bateria jazzística de toque polido, preciso, lustroso e acrobático que, em concordância com uma tribalista, ritualista e carnavalesca percussão de suor latino, tiquetaqueia toda esta sagrada peregrinação pelos intermináveis desertos da introspecção. Num plano secundário soergue-se ainda uma exótica flauta transversal indiana (aka Bansuri) com os seus sopros errantes, sedosos, faustosos e esvoaçantes que sobrevoam dois dos treze temas presentes no álbum. De destacar ainda o artwork minimalista de créditos apontados ao peculiar Jakob Skøtt (baterista da banda e ilustrador residente na editora El Paraiso Records) que de forma imaculada transpusera para o universo visual toda a veraneia vibração que a música de ‘Szabodélico’ transpira no imaginário de quem a vivencia. São 64 minutos de uma sedutora fluidez que nos cativa a dança-la de forma compenetrada e fascinada. Um perfeito jacuzzi onde nos relaxamos, absorvemos e extasiamos sem a mais pequena réstia de inquietação. Tal como o seu nome sugere, ‘Szabodélico’ representa uma esmerada homenagem de Causa Sui ao sofisticado, poético e consumado guitarrista húngaro Gábor Szabó, que faroliza todas estas aventurosas, nirvânicas e espirituosas digressões. Balanceiem o vosso corpo enfeitiçado, de membros flácidos e sentidos sedados, ao sabor deste radioso regresso de uma das mais singulares bandas da minha vida, e degustem um dos cocktails sonoros mais deliciosos de 2020. O paraíso aqui tão perto, à distância de uma audição. Banhem-se e bronzeiem-se neste autentico Éden ventilado a quietude, doçura e beatitude.

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