Regressado de um
longo jejum discográfico de sete anos – que principiara logo após o lançamento
do seu álbum de estreia ‘Occultation’ (2014) – o jovem duo
escocês Lucid Sins presenteia agora todos os seus discípulos com um novo
trabalho de longa duração, designado de ‘Cursed!’ e exteriorizado
sob a forma digital, de CD e vinil através do selo discográfico francês Totem
Cat Records. Embrumado e assombrado por enfeitiçantes, outonais, pastorais
e intrigantes melodias – encarvoadas a um negrume nocturno, melificadas a imersiva
melancolia e orientadas a um esotérico ritual – este segundo álbum da talentosa
formação enraizada na cidade portuária de Glasgow combina um demoníaco, sombrio,
dramático e misterioso Proto-Doom de enigmáticas ressonâncias Black Sabbath’icas,
com um fluído, aliciante, extravagante e ornamentado Classic Rock lavrado
à boa moda dos britânicos Wishbone Ash, um sumptuoso, deslumbrante,
magnetizante e sinuoso Progressive Rock de inspiração setentista,
e ainda um rústico, cerimonioso, umbroso e bucólico Neofolk de feições
pagãs. A sua sonoridade heterogénea – trajada a adereços tradicionais e condimentada
a uma fragância vintage – envolve e revolve o ouvinte numa enfeitiçante,
druídica, obscura e intoxicante liturgia de adoração ocultista que o magnetiza, eteriza
e namora do primeiro ao derradeiro tema. Contando com a preciosa colaboração de
outros músicos locais que, desta forma, enriquecem e amadurecem as ambiciosas
composições desta épica obra, ‘Cursed!’ trata-se de um registo
tristemente belo que nos dilata as pupilas, empalidece o semblante e embevece o
espírito. Na génese deste intenso encantamento impossível de ser quebrado, está
uma guitarra lírica que se manifesta em vaidosos, atraentes e assombrosos
acordes de onde são esvoaçados solos ziguezagueantes, ácidos e atordoantes, uma
bateria soberbamente jazzística de toque polido, flamejante,
leve e cintilante, um baixo murmurante de linhas fibradas, trevosas e lubrificadas,
um teclado jupiteriano de harmonias exuberantes, polposas e absorventes, um melodramático
violino de mugidos uivantes, enfáticos e penetrantes, e ainda vocais sedosos, aristocráticos
e pomposos que esculpem com superior vistosidade toda esta joia erudita. A ilustração
de natureza surrealista e datada do século XX que confere rosto a esta sublime
maldição, aponta os seus créditos autorais ao clássico ilustrador inglês Alan
Elsden Odle. Este é um álbum verdadeiramente excepcional – executado a
exímia maestria e pincelado a intocável formosura – que em mim imortalizara
todo um sentimento de venerada admiração. Dele regresso com os sentidos
desmaiados, a respiração travada, alma reconfortada, e ainda a forte convicção de que muito dificilmente
este não será – aos meus ouvidos – o melhor álbum do ano. Ensombrem-se e mistifiquem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Totem Cat Records
Sem comentários:
Enviar um comentário