É ainda de pele
escaldada, olhar ofuscado, espírito arrebatado e semblante lambido por uma fresca
e salgada brisa oceânica que escrevo estas sinceras e apaixonadas palavras ao mais
recente álbum dos holandeses The Wild Century. Lançado no último suspiro
de Março através dos formatos digital e vinil – editado com carimbo de autor – este
terceiro registo do quinteto enraizado na cidade de Breda ancorara-me
numa paradisíaca praia de areias tisnadas e sedosas, revitalizantes águas de
esplendor cristalino, límpidos céus banhados a azul-turquesa e velejados por
gaivotas grasnantes, e um brilhante Sol de bafo ardente e luzência crepuscular.
Ventilado e melificado por um ensolarado, ataráxico, caleidoscópico e aromatizado
Psychedelic Rock de harmoniosos, bem-dispostos e radiosos temperos Indie,
absorvido num romântico flirt com um enfeitiçante, polposo, delicioso e
serpenteante Progressive Rock de traços revivalistas, este ‘5’ é
integralmente climatizado por uma cativante maravilha sensorial, pintada de
cores exóticas e perfumada por aromas sensuais. A sua tântrica sonoridade, embriagada
num imersivo clima veraneio a fazer recordar os californianos Assemble Head
In Sunburst Sound, Monarch e Golden Void, passeia-se de forma
fluída, hipnótica, lúbrica e sublimada ao longo dos 34 minutos que a balizam.
De pálpebras rebaixadas, sorriso hasteado no rosto, e cabeça baloiçada de ombro
em ombro, somos fascinados e embalados pelo apaziguante caudal deste mélico,
utópico e deslumbrante tropicalismo que nos expande a consciência. Na
composição desta orgiástica sinestesia que tanto acelera numa alucinada euforia
como desacelera numa embaciada letargia, está uma guitarra colorida de obsessivos,
sinuosos, vistosos e criativos Riffs que desaguam em solos ácidos, uivantes,
deambulantes e delirados, um baixo encaracolado de linhas encorpadas,
pulsantes, magnetizantes e inchadas, uma expressiva bateria de toque cintilante,
acrobático, enfático e estimulante, um esponjoso órgão Hammond de
místicas, sumarentas, opulentas e sidéricas melodias, e vocais meigos, aveludados,
açucarados e celestiais. O artwork de aparência sui generis e minimalista aponta os
seus créditos autorais ao inconfundível ilustrador sueco Robin Gnista. Este
é um delicioso cocktail de gosto frutado, pronto a ser degustado numa moldura
estival. Deixem-se contagiar pela cegante, feérica e transbordante radiância de
The Wild Century, e experienciem com febril encantamento um dos álbuns
mais aliciantes do ano. Bronzeiem-se e prazenteiem-se neste infindável verão.
segunda-feira, 31 de maio de 2021
Review: ⚡ The Wild Century - '5' (2021) ⚡
★★★★★
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