Proveniente de
França chega-nos o extraordinário novo álbum do talentoso power-trio
parisiense Baron Crâne, intitulado ‘Les Beaux Jours’ e
lançado através dos formatos digital, CD e duplo vinil em meados do passado mês
de Outubro pela mão da jovem companhia discográfica francesa Mrs Red Sound.
Neste colorido, odoroso e texturizado sortido sonoro emergem e sobressaem um majestoso,
carnudo, sisudo e sinuoso Prog Rock de carregadas feições King
Crimson’eanas, um aventuroso, labiríntico, burlesco e aparatoso Jazz
Fusion a fazer lembrar a multinacional Mahavishnu Orchestra, e um musculoso,
oleado, vultoso e vertebrado Hard Rock motorizado à boa moda de Deep
Purple. Contando ainda com a veraneia ritmicidade de um contagiante Funk
n’ Reggae tropical, a caleidoscópica pirotecnia de um exótico Psychedelic
Rock, e a indesmontável equação de um esquizofrénico Math Rock, a emaranhada,
ornamentada e piramidal sonoridade de ‘Les Beaux Jours’
passeia-se de forma envaidecida – e por vezes enraivecida – pelos sete temas de
essências desiguais que compõem esta elaborada obra-prima. Levemente acariciado
por embaciadas, etéreas e relaxadas passagens de beleza bucólica e clima
melancólico, e pesadamente galopado pelos instrumentos ofegantes em redentora
debandada, este quarto trabalho de longa duração de Baron Crâne
representa o pináculo da sua apurada maestria musical. Na constituição desta
musicada depuração dialogam entre si uma guitarra dominante que se agiganta em Riffs
propulsivos, altivos, mastodônticos e incisivos de onde esvoaçam solos
trepidantes, ácidos, delirados e gritantes, um baixo ronronante de linhas marulhantes, densas,
tensas e protuberantes, e uma entusiástica bateria jazzística de fogosas,
explosivas, criativas e engenhosas investidas. Num plano secundário – no que à sua
predominância diz respeito – vagueiam ainda pela atmosfera circense do álbum um
esdrúxulo saxofone de sopros vistosos, charmosos e berrantes, uma poética flauta
de uivos sedosos, airosos e lunares, e ainda duas vozes contrastadas – uma a
fazer recordar os ardentes rugidos do saudoso Chris Cornell, e outra mais
delicada e de condimento celestial – que repartem a sua liderança pelos dois
únicos temas que escapam à hegemonia instrumental. De estender os aplausos ao peculiar
artwork de colagens pensadas e executadas pela artista parisiense Nora Simon. São 50 minutos de fascinante imprevisibilidade e desarmante tenacidade que nos mantêm os
sentidos em alerta. Um registo mutuamente claustrofóbico e emancipador, agressivo
e lenitivo, desatado e entrançado. Percam-se e encontrem-se neste caótico jogo
de espelhos. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo por entre os mais
condecorados álbuns lançados este ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Mrs Red Sound
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