Oriundo da vibrante cidade-capital de Buenos Aires chega-nos o muitíssimo aguardado álbum de
estreia do electrizante power-trio argentino Madera Raíz, acabado
de ser retirado do forno sob a exclusiva forma digital e carimbado com selo de
autor. Herdeiros da sagrada musicalidade deixada e perpetuada pelo lendário Pappo,
este tridente de instrumentos engatilhados e olhar fulminante ostenta um provocante,
oleado, ritmado e inflamante Heavy Blues de balanço Boogie
e tração setentista, aliado a um efervescente, bombástico,
caleidoscópico e ardente Heavy Psych de roupagem crivada por negros adereços
Proto-Doom’escos e toxicidade a perder de vista. A sua
sonoridade picante, entusiástica, afrodisíaca e rutilante – sintonizada nas
mesmas frequências de clássicas referências como Black Sabbath, ZZ Top,
Cactus e Pappo’s Blues – é remexida, fervida e servida em dançantes
chamas. Com uns velozes 32 minutos de duração – fragmentados em quatro temas
originais e uma versão cover da primitiva e largamente imitada “Spoonful” (originalmente
escrita por Willie Dixon e gravada pela primeira vez em 1960 por Howlin'
Wolf) captada num concerto ao vivo em 2019 com tremulantes, avinagrados e enfeitiçantes vocais femininos a encerrar o disco em apoteose – ‘No les queda tanto Tiempo’
é um registo escaldante que nos sobreaquece, bronzeia e pontapeia de embriagada
euforia. Na composição deste espirituoso bourbon efervescem uma jupiteriana
guitarra de umbrosos, pesados, defumados e poderosos Riffs consumidos pela
urticante distorção, de onde gritam e esvoaçam alucinantes, ácidos, selváticos e
trepidantes solos em sónica evasão, um baixo musculado de reverberação baloiçada,
tensa, densa e ondulada, uma bateria acrobática, enfática e pujante de
timbalões escoiçados e pratos flamejantes, e uma voz liderante – de entoação
aristocrática e ínfimos rugidos de textura escarpada – que emerge e se agiganta
nesta fumarenta ebulição instrumental. Num plano secundário – no que à
constância de protagonismo diz respeito – são ainda trazidos pela brisa do
velho oeste os sopros arenosos, odorosos e penetrantes de uma harmónica, e perscrutam-se
também ecos do virtuoso espanhol Paco de Lucía num Flamenco dissimulado
e de ornamentos cuidadosamente escalados pelo encordoamento de uma guitarra
acústica. Este é um trabalho do tamanho das minhas expectativas a ele dedicadas.
Embalem na enlouquecedora vertigem desta aparatosa montanha-russa que irá pôr à
prova a solidez estrutural da vossa sanidade mental, e vivenciem com vulcânico
empolgamento de erupções à flor da pele todo este furacão de endorfinas superiormente
domesticado pela talentosa formação alviceleste.
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