terça-feira, 3 de março de 2009
A Pianista
Passeia, suavemente, os seus delicados dedos pelo grande piano, que há muito ficara órfão. Está uma bela tarde de sol. As janelas estão abertas, e a rua escuta a doce harmonia que o piano liberta. O ruído incisivo da respiração citadina, perturba o sentido da melodia, como que uma tempestade de areia na estrada. Calmamente, o piano vai inspirando a vida d’Ela. O seu corpo está deitado sobre toda a superfície do velho instrumento musical, e a sua alma está rendida ao som. A música é Vida, a música é Morte. Um pombo descansa sobre a base da janela em madeira e enche o peito. Contempla o espaço desconhecido e entrega-se, de novo, aos céus contraídos, que abraçam a cidade. Regresso. Num gesto ímpeto, o corpo ascende e os seus longos cabelos tombam sobre as costas, desprotegendo a, despida, face. O seu olhar, aprisionado pelas, pesadas, pálpebras, começa a libertar-se. As narinas abrem-se e saciam o, quase inexistente, ar que dança na, obscura, atmosfera. Negras nuvens avançam, sem prioridade, sob o intenso sol. A cidade escurece… assim como a melodia arrancada do, velho, piano. Relâmpagos apunhalam a cidade. As nuvens batalham entre si, e as suas armas vão caindo em terra. As pessoas correm. Dispersam. A chuva ataca. O piano cessa.
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