sábado, 30 de junho de 2012

O sonho tem data e morada para acontecer

Escrevo esta crónica ainda com os ouvidos embebidos numa pesada dormência e a alma carregada de contentamento. Mas antes falarei da “pré-produção” deste sonho tão acordado. Os Fatso Jetson quase vieram a três localidades portuguesas: primeiramente falou-se no Porto (palco principal e previsível para bandas deste calibre), Castro Daire (???) e, numa tentativa frustrada e tardia, em Lisboa. Todos estes três rumores não passaram disso mesmo, rumores. Fatso Jetson tinha data marcada em Espanha (mais propriamente na já minha conhecida Taberna de Belfast em Santa María del Páramo, León. Já havia falado antecipadamente com a Eva (gerente do espaço) e assegurado a minha presença no dia 29 de Junho. E assim foi, eu e um amigo fizemo-nos à estrada, de etapas escritas num papel, Calexico no leitor de CD’s e garrafas de cerveja e vinho a tilintar na mala do carro. Estava uma tarde ventosa num verão bipolar e de poucas convicções. A próxima paragem era Puebla de Sanabria para esticar as pernas e mergulhar o lábio superior na cerveja. E a primeira preocupação incorporava-se: chegar à tempestuosa La Bañeza. Mas depois de alguns quilómetros em auto-estrada e outros tantos numa afável estrada nacional, repleta de rectas a perder de vista e rodeada de um paralelismo desértico de beleza singular, lá avistamos a cidade num horizonte ainda entorpecido. Causa Sui, Kyuss e Yawning Man eram os responsáveis por manter o equilíbrio climático e emocional entre a atmosfera exterior e interior. Uma autêntica comunhão entre a harmonia e o prazer debaixo de um sol já vermelho. La Bañeza, o Adamastor das nossas incursões à Taberna de Belfast. La Bañeza é a Viseu espanhola (atulhada de rotundas), mas com a relevante diferença de muitas destas não terem qualquer indicação de orientação, e quando têm, são um tanto ou quanto redundantes e pouco esclarecedoras. Mas depois de alguns devaneios pela cidade, de muitas voltas nas rotundas enquanto tentávamos chegar a um consenso, lá avistámos “Santa María del Páramo”. “uffa!” – suspirámos. Depois disso, foi estacionar o carro exactamente no mesmo sitio onde o havíamos deixado no verão passado quando vimos Domo ao vivo. E o que se seguiu foi em tudo parecido à nossa estreia na vila espanhola: mala aberta, cerveja na mão e Casal Garcia na geleira. Ainda não cabia em mim: ia mesmo ver os lendários Fatso Jetson de Larry Lalli, Tony Tornay (que especialmente adoro) e o incontornável Mario Lalli. E ali estávamos nós no balcão da Taberna de Belfast a beber cerveja e a comer torradas com presunto, enquanto o Mario Lalli se passeava junto a nós de copo de cerveja em punho. Mas vou adiantar-me ao âmago de toda aquela aventura: o concerto. E lá estavam os três xamãs de tudo o que o deserto representa e transmite, mais a surpreendente presença do filho do Mario Lalli (Dino Lalli), também de guitarra nas mãos e cabelos descaídos sobre o jovem rosto. Ainda me tentava acomodar e equilibrar no balcão, quando a banda de Palm Desert explodia com o tema “Magma” do saboroso “Toasted”, numa performance verdadeiramente estrondosa que depressa me fez soltar os cabelos. O Mario Lalli estava enérgico como nunca, um autêntico touro enraivecido numa arena chamada “guitarra”. Bem no centro do palco, estava o irreverente Tony Tornay de t-shirt com a mensagem “who the fuck is Kat Von D?!” a alimentar a exibição mais pujante que eu vira até então de um baterista. Tão tremenda foi, que no final de dois/três temas já tirava a t-shirt. Larry Lalli com a sua postura ébria a fazer lembrar o Phillipp Rasthofer de Colour Haze (como referiu, e muito bem, o Ricardo), viveu todo o concerto de olhos fechados e a deambular pelo curto espaço que tinha no palco. Já o mais jovem, Dino Lalli, cumpriu o papel de guitarrista secundário não se aventurando muito para lá dos limites do riff de cada tema. O Mario Lalli sabia que o sonho tinha lugar e data marcada, e era mesmo ali e naquele instante. Tecia, regularmente, rasgados elogios ao espaço (e que espaço!) e fazia questão de repetir vezes sem conta o quão satisfeito estava por estar ali. E nós, público, respondíamos de copos ao alto e gritos entusiasmados. Viveu de tal forma o concerto, que já perdia o domínio dos movimentos corporais e só a música o comandava. E se o portador da "mosca" mais conhecida da música fazia da guitarra uma gazela nas garras de um leão, o Tony Tornay era falado por entre o público pelas melhores razões. Para mim, foi mesmo a melhor exibição ao vivo que vi de um baterista. E se já nutria uma grande admiração por ele, depois da passada noite acho que estou apaixonado! Quanto à setlist foi a melhor que poderia ter desejado. Como se me fosse pedido para enumerar tema a tema. Se não foi o concerto da minha vida, esteve muito próximo de o ser! E para terminar aquela noite inesquecível, ainda houve espaço para ver Tony Tornay subir sozinho ao palco e brindar-nos com um solo de bateria estonteante (a pedido do pai da Eva). Depois disso, ainda deu para conversar com ele (Tornay) e para um saudoso “até já” à Eva e aos seus pais que tão bem nos recebem na majestosa Taberna de Belfast. Ainda com a audição bastante inebriada, fizemo-nos novamente à estrada em direcção a casa. Rasgamos aquela noite de olhar incendiado e Fatso Jetson na memória. Ainda deu para atentarmos nove (sim, nove) veados que nos fitavam junto à estrada, quatro coelhos e duas raposas. Por volta das 04h cruzávamos a placa “Carrazeda de Ansiães” ainda de sorriso talhado no rosto. Afinal de contas, vimos mesmo Fatso Jetson ao vivo.      

Cinema de Junho


Rosemary’s Baby (1968) de Roman Polanski
Midnight in Paris (2011) de Woody Allen
Some Like it Hot (1959) de Billy Wilder
Trois Couleurs: Rouge (1994) de Krzysztof Kieslowski
Annie Hall (1977) de Woody Allen
Viridiana (1961) de Luis Buñuel
Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios (1988) de Pedro Almodóvar
WALL-E (2008) de Andrew Stanton
Celda 211 (2009) de Daniel Monzón
Rising Son: The Legend of Skateboarder Christian Hosoy (2006) de Cesario Montaño
Bukowski: Born into This (2003) de John Dullaghan
Barfly (1987) de Barbet Schroeder

sábado, 23 de junho de 2012

Roadburn 2012 (audio streams)

La Otracina


Pelican


YOB


Horizont


Bong


Black Cobra


Barn Owl


Ancestors


Conan


Danava


Nachtmystium


Wino & Conny Ochs

Festival Sonic Blast


SAMSARA BLUES EXPERIMENT + SUNGRAZER + BLACK BOMBAIM = OVERDOSE! Valeu bem a pena ter pedido ao vocalista de SBE (no concerto em Munique) para virem a Portugal. Ai, Sonic Blast já é o meu festival português favorito.

Sonic FUCKIN' Blast (site)

sábado, 16 de junho de 2012

Eternal Tapestry - Dawn in 2 Dimensions (2012)

“Dawn in 2 Dimensions” traz-nos verosímeis relatos de quem sobrevoou os céus cor de púrpura do médio oriente num tapete mágico. É a leitura da obra “كتاب ألف ليلة وليلة” (As Mil e uma Noites) entoada pelos instrumentos de Eternal Tapestry. Uma verdadeira odisseia debaixo de um sol pontual que suspira ventos afáveis. Este novo álbum converteu o quinteto americano em Reis Magos (não, não foi em magnatas dos combustíveis árabes), com a honrosa tarefa de narrarem a airosa vida da rainha Xerazade. É um dos mais belos discos que ouvi em toda a minha vida. Um dos mais áridos e viajantes. Um autêntico timoneiro da introspecção.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Spiderland, a ilha do conforto.

Há dias em que é um prazer oferecer resistência ao instintivo desejo de dormir, e alimentar este estado ébrio nas asas de uma leviandade etérea. Hoje foi um desses dias. Pertenceu ao “Spiderland” dos Slint esta honrosa missão. Esta magnifica obra que permaneceu na sombra da reputação durante muitos e longos anos, é um dos raros exemplos de metamorfose musical. Ouvi o “Spiderland” pela primeira vez quando tinha uns 16, 17 anos e, desde logo, fiquei petrificado com a sonoridade austera do quarteto americano. Recordo-me de sair de casa em dias de bruma outonal ao som deste álbum, e sem destino predefinido. Datado de 1991, “Spiderland” aprisiona uma essência musical nunca antes conhecida. É um disco perturbador que deve ser ouvido na penumbra do entardecer ou no âmago da noite. É um disco para ser tocado num ambiente soturno. É também lá que habita o meu tema favorito de sempre (e para sempre), “Good Morning, Captain”. Muito possivelmente foi o disco que mais mudou a minha vida, e continua a transfigurá-la sempre que o ouço. É um disco repleto de uma contundência emotiva personificada pela sombria narração de Brian McMahan. Depois de tantos anos e consequentes audições, “Spiderland” continua a conquistar-me e a permanecer invicto no pelotão da minha estrada musical.            

sexta-feira, 8 de junho de 2012

quotes.

If you’re going to try, go all the way. … And, you’ll do it, despite rejection and the worst odds. And it will be better than anything else you can imagine. If you’re going to try, go all the way. There is no other feeling like that. You will be alone with the gods, and the nights will flame with fire. You will ride life straight to perfect laughter. It’s the only good fight there is.

 Charles Bukowski

quotes.

There’s a reason for this, there’s a reason education sucks, and it’s the same reason it will never ever ever be fixed. It’s never going to get any better. Don’t look for it. Be happy with what you’ve got… because the owners of this country don’t want that. I’m talking about the real owners now… the real owners. The big wealthy business interests that control things and make all the important decisions. Forget the politicians. The politicians are put there to give you the idea that you have freedom of choice. You don’t. You have no choice. You have owners. They own you. They own everything. They own all the important land. They own and control the corporations. They’ve long since bought and paid for the Senate, the Congress, the state houses, the city halls. They got the judges in their back pockets and they own all the big media companies, so they control just about all of the news and information you get to hear. They got you by the balls. They spend billions of dollars every year lobbying. Lobbying to get what they want. Well, we know what they want. They want more for themselves and less for everybody else, but I’ll tell you what they don’t want. They don’t want a population of citizens capable of critical thinking. They don’t want well-informed, well-educated people capable of critical thinking. They’re not interested in that. That doesn’t help them. That’s against their interests. That’s right. They don’t want people who are smart enough to sit around a kitchen table and think about how badly they’re getting fucked by a system that threw them overboard 30 fuckin’ years ago. They don’t want that. You know what they want? They want obedient workers. Obedient workers, people who are just smart enough to run the machines and do the paperwork. And just dumb enough to passively accept all these increasingly shittier jobs with the lower pay, the longer hours, the reduced benefits, the end of overtime and vanishing pension that disappears the minute you go to collect it. And now they’re coming for your Social Security money. They want your fuckin’ retirement money. They want it back so they can give it to their criminal friends on Wall Street. And you know something? They’ll get it. They’ll get it all from you sooner or later ‘cause they own this fuckin’ place. It’s a big club and you ain’t in it. You and I are not in the big club. By the way, it’s the same big club they use to beat you over the head with all day long when they tell you what to believe. All day long beating you over the head with their media telling you what to believe, what to think and what to buy. The table is tilted, folks. The game is rigged and nobody seems to notice. Nobody seems to care. Good, honest, hard-working people: white collar, blue collar, it doesn’t matter what color shirt you have on. Good, honest, hard-working people continue — these are people of modest means — continue to elect these rich cocksuckers who don’t give a fuck about them. They don’t give a fuck about you. They don’t give a fuck about you. They don’t care about you at all! At all! At all! And nobody seems to notice. Nobody seems to care. That’s what the owners count on. The fact that Americans will probably remain willfully ignorant of the big red, white and blue dick that’s being jammed up their assholes every day, because the owners of this country know the truth. It’s called the American Dream, ‘cause you have to be asleep to believe it.

George Carlin

sábado, 2 de junho de 2012

The Moon Mistress - Silent Voice Inside (2012)


(1) Misturar duas colheres de Sleep e uma de Electric Wizard; (2) Pincelar o Rickenbacker com a junção dos dois néctares anteriores; (3) Deixá-lo a marinar e “VOILÁ”: The Moon Mistress. Este trio russo apresenta-nos o voluptuoso “Silent Voice Inside”, um disco repleto de músculo e estupefacientes. Quando se tem um baixo Rickenbacker e apuradas influências “Sleepeanas” a flutuar na atmosfera musical, a consequência só pode ser colossal. E assim foi, os três instrumentos transpiram um Doom narcotizado que serpenteia numa sensual dança do ventre. A voz penetrante (a fazer lembrar Jus Oborn) nasce e renasce numa ambiência entorpecida. Apertem os cintos de segurança, e preparem-se para uma viagem a duas velocidades muito distintas (com direito a travagens bruscas e delirantes acelerações). Queimem incenso, fechem os olhos e sintam-se levitar muito para lá do pesado manto gravitacional.
   

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cinema de Maio

Only Angels Have Wings (1939) de Howard Hawks
The Wizard of Oz (1939) de Victor Fleming
Loose Change: Second Edition (2006) de Dylan Avery
It’s Kind of a Funny Story (2010) de Anna Boden e Ryan Fleck
Steal This Movie (2000) de Robert Greenwald
Me and You and Everyone We Know (2005) de Miranda July
The Squid and the Whale (2002) de Noah Baumbach
The Station Agent (2003) de Thomas McCarthy
Fly Jefferson Airplane (2004) de Bob Sarles
Whatever Works (2009) de Woody Allen
Zodiac (2007) de David Fincher
Garden State (2004) de Zach Braff
Pulp Fiction (1994) de Quentin Tarantino
The War on Democracy (2007) de Christopher Martin e John Pilger
All the Real Girls (2003) de David Gordon Green
The Unknown (1927) de Tod Browning
My Life Without Me (2003) de Isabel Coixet
Le Notti di Cabiria (1957) de Federico Fellini
Festen (1998) de Thomas Vinterberg