segunda-feira, 18 de agosto de 2014

SONIC BLAST 2014 : O melhor do 1º dia!

É ainda de alma tingida de saudosismo que escrevo esta crítica à mais recente edição daquele que é o meu festival de eleição dentro de portas. Chegámos a Moledo no final da manhã de sexta-feira, 15 de Agosto, depois de percorridos cerca de 200km de estrada beijada pelo sol. Depois de escoados pelas estreitas ruas de Moledo, apiadas de carros e transeuntes, lá chegámos ao tão almejado parque de campismo: um extenso pinhal repleto de sombras, onde coabitava uma ligeira brisa marítima (dada a proximidade da praia). O primeiro sinal de aprovação estava dado. Lá erguemos as mochilas aos ombros, empunhámos as pesadas geleiras e irrompemos floresta adentro. Serpenteámos as várias tendas já ancoradas no solo e escolhemos um local ensombrado, vigiado por imponentes pinheiros e onde a privacidade ainda reinava para atracar. Se nas ancestrais edições do festival era possível aproveitar os intervalos entre concertos para as rápidas incursões à tenda (mais concretamente às geleiras onde tintilavam garrafas de vinho e cerveja), nesta edição, dada a considerável distância terrena entre o parque de campismo e o festival, optámos por prescindir de alguns dos concertos para que pudéssemos manter viva esta nossa tradição.

Mas vamos ao que interessa:



ACID MESS


Piscina, 16h30. Os Acid Mess subiam ao palco debaixo de um sol abrasador que respirava boa saúde. A plateia ainda ressacada da experiência Solar Corona recompunha-se e compactava-se novamente fronte ao palco, depois das incursões à piscina e à barraca da cerveja. O cansaço sintomático de uma viagem de 3 horas acima de um alcatrão fervilhante - que se renovava ininterruptamente no horizonte - começava a dissipar-se e a boa disposição a expandir-se. Acid Mess brindaram todos os presentes com uma performance concisa e orgânica, exalando fibróticos riffs na atmosfera e consequentemente desmoronando qualquer contenção ou reserva da plateia. O público respondia abanando a cabeça. Uma brisa suave e revitalizante passeava-se por entre aqueles corpos de movimentos pendulares. A harmonia adjectivava-se crescente. Nas costas de um Rickenbacker portentoso e groove’sco, no entorpecedor abraço de uma guitarra estarrecedora e delirante capaz de nos amortalhar os sentidos e elevar aos recantos mais insondáveis da leviandade, e nas delirantes incursões de uma bateria alusiva ao requintado Rock dos anos 70, o trio espanhol fez levitar toda uma plateia de copos de cerveja empunhados aos mais altos e distantes firmamentos. Um psicadelismo arrastado mas definido que nos manobrou pelas ruas da ebriedade.



PRISMA CIRCUS


Já a noite estendia o seu manto purpúreo pelo céu, quando estes hippies da era moderna subiam ao palco principal do Sonic Blast. Prisma Circus era mesmo a banda do 1º dia que mais eco dava à minha expectativa. Deles esperava uma verdadeira dose de adrenalina, uma intensa combustão etérea de prolongada duração e uma das vivências musicais mais marcantes de sempre. E assim foi. Prisma Circus arrancaram para uma performance avassaladora e altamente estonteante. Uma pujante descarga groove’sca que se abatera com enorme presença nas almas dos que por ali deambulavam. Estes três reis magos trouxeram-nos um baixo bafejante, hipnótico e possante, uma guitarra indomável que desprendia solos de desarmante beleza e uma bateria John Bonham’eana deliciosamente ritmada e conquistadora que fez com quem os meus ouvidos salivassem durante todo o concerto. Foi toda uma orgia sensorial experienciada de pálpebras cerradas e corações ao alto. Uma verdadeira ode à melhor e mais productiva década musical. O público respondia como podia a todo este carnaval prazeroso. Foi um concerto inesquecível de uma das bandas que mais me estimula na actualidade. 



BLACK BOMBAIM


Já devo ter visto Black Bombaim ao vivo umas 10 vezes (isto desde 2009 em Brant Bjork até este último concerto no Sonic Blast) e não “consigo” cansar-me nem um pouco. Este trio oriundo de Barcelos tem o raro dom de surpreender e fermentar a sua sonoridade como poucas bandas o conseguem fazer. Existe sempre um acréscimo de qualidade nas suas performances, e esta última no Sonic Blast não escapou à regra. A plateia respondia numa euforia contida e vivida ostentada numa dança oscilante e hipnótica. Foi um concerto bastante intimista que nos elevou ao apogeu do onirismo. Foi impossível não dançar Black Bombaim! O público manifestava-se de forma delirante face a um baixo musculado intensamente ritmado e orgânico, uma guitarra que vomitava gemidos lisérgicos a uma velocidade inimaginável e uma bateria estonteante de rédeas bem empunhadas. Toda uma cerimónia sensorial de almas apontadas ao insondável cosmos e pés cobertos de areia fervilhante. Uma jornada pelas hipnóticas estradas da alucinação. Começa a ser difícil responder de forma justa e desejada à sonoridade de Black Bombaim, pois imprimem na atmosfera um verdadeiro frenesim caótico que nos obriga a prazerosos espasmos. Mais um concerto grandioso desta banda que começa a justificar palcos tão para lá da nossa via láctea. Foi difícil acordar de Black Bombaim! 



CHURCH OF MISERY


Cavalgada doomesca de por os olhos em bico! Este quarteto nipónico inteiramente dedicado ao lado mais sabbath’eano da música exibiu-se numa performance verdadeiramente extasiante. Uma conquistadora descarga groovesca que pôs toda uma plateia em exaltação. Riffs monolíticos, ostentosos e viris numa verdadeira remontada que nos enfeitiçou e convidou à pesada submissão. Church of Misery foi uma penetrante inalação psicotrópica que prontamente nos enevoou e arrastou a consciência para terrenos estrangeiros. Uma intensa e radiante cavalgada nas asas de um baixo estarrecedor que exalava ritmo e robustez numa dança conjunta com uma guitarra dominante, portentosa e visceral. A plateia endoidecia com os riffs avassaladores de Church of Misery. A bateria tiquetaqueava todo este cortejo lentificado e uma voz cavernosa e gutural nascia e morria em simultâneo num trespassante grunhido ascendido da erosão do riff. O público contorcia-se num claro gesto de obediência. Estávamos todos dominados pela pujança e corrosão dos acordes que se repetiam. Foi um concerto autenticamente estrondoso que certamente deixará resquícios na memória de quem o vivenciou.

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