O eletrizante power-trio The Cosmic Groove acaba de lançar o seu novo EP ‘Yesterday’s
Night’ em formato digital através do seu Bandcamp oficial. Esta jovem formação situada na histórica e antiga
cidade de Saint Augustine (Florida, EUA) pratica um abrasivo, sombrio e empolgante Heavy Psych dissolvido num corrosivo, convulsivo e euforizante Garage Rock saturado de efeito fuzz que nos esporeia, agita e endoidece
ao longos dos seus 20 minutos de duração. A sua intrigante sonoridade pendula
entre uma pesada, titânica e arrastada obscuridade que nos envolve, narcotiza e
atemoriza e uma fervilhante, enérgica e desenfreada amotinação que nos incendeia
de adrenalina. Na génese deste entusiástico e provocante EP está uma portentosa
guitarra que se amuralha em riffs
inquisidores, densos e distorcidos e se desvaira em alucinantes, hipnóticos e furiosos
solos, um baixo tenebroso de linhas pulsantes, carregadas e reverberantes que
sombreia e diaboliza toda a perturbadora atmosfera de ‘Yesterday’s Night’, uma
bateria trovejante de explosivas e galopantes investidas, e uma voz ecoante, frígida
e luciférica que vagueia e assombra toda a essência de The Cosmic Groove. Este é um registo que me conquistara à primeira
audição. Um EP detentor de uma alma messiânica e dominadora capaz de converter até
o mais céptico dos ouvintes em seu devoto peregrino. Entreguem-se detidamente à
magia negra de ‘Yesterday’s Night’ e presenciem um dos mais extraordinários EP’s
lançados até ao momento no presente ano de 2017.
domingo, 30 de abril de 2017
Review: ⚡ Zeremony - 'Soul of the Zeremony' (2017) ⚡
Da cidade
barroca de Würzburg chega-nos ‘Soul of the Zeremony’,
o esmerado álbum de estreia do power-trio germânico Zeremony que tem o lançamento oficial agendado para o
próximo dia 6 de Maio no formato físico de CD. Baseado num harmonioso, robusto,
influente e provocante Hard
Rock N’ Blues de indiscretas
influências setentistas,
este charmoso álbum de Zeremony tem em nós um efeito hipnotizante,
encantador e intrigante que nos mantém a ele atracados do primeiro ao
derradeiro tema. São cerca de 35 minutos chefiados e temperados por uma
sedutora, opulenta e primorosa ambiência sonora brilhantemente constituída por
uma guitarra fascinante – banhada e inflamada pelo efeito fuzz – que nos envolve com os
seus prazerosos, mélicos e aveludados riffs e solos verdadeiramente eróticos e sublimes, uma voz
dinâmica, oleada e sumptuosa que se pavoneia destacada e exuberantemente nesta
agradável e cativante fragância sonora, uma bateria diligente e requintada de
toque hábil, delicado e resplandecente, e um vistoso e afrodisíaco órgão Hammond de extravagantes, notáveis e comoventes bailados que conduz
com soberania e graciosidade toda esta imaculada e arrebatadora cerimónia. ‘Soul of the Zeremony’ é um álbum
primoroso – adubado por uma lubricidade inesgotável – que nos namora e acaricia
do primeiro ao último acorde. Juntem-se a este faustoso e enigmático ritual e
comunguem a prestigiosa alma de Zeremony.
sábado, 29 de abril de 2017
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Review: ⚡ The Desert Sea - 'Steal the Light from the Sun' EP (2017) ⚡
De Sidney (Austrália)
chega-nos o segundo EP do quarteto The
Desert Sea apelidado de ‘Steal the Light from the Sun’. Este
novo registo da banda australiana conjuga na perfeição um sensual, dançante e entusiástico
Heavy Blues com um flamejante,
encorpado e corrosivo Desert Rock que
nos bronzeia e conduz pelas calejadas e poeirentas estradas de um deserto vigiado
pelo Sol. A sua sonoridade excessivamente quente, lasciva e empolgante provoca
em nós uma prazerosa comoção que nos alvoroça ao longo dos 20 minutos que
compõem este irresistível EP. É humanamente impossível ficar indiferente a toda
esta portentosa, monolítica e musculada descarga de erotismo em estado musical.
Deixem-se euforizar pelos venéreos, torneados e serpenteantes bailados de duas
guitarras que se ensoberbecem em excitantes, exóticos e ardentes riffs e se inflamam em uivantes, estonteantes
e comoventes solos. Pendulem os vossos corpos soterrados em adrenalina à emocionante
boleia de um baixo vigoroso, reverberante e torneado que sombreia e robustece
toda a dinâmica de ‘Steal the Light from the Sun’. Soltem as cabeças na instintiva
resposta a uma bateria deliciosamente ritmada que tempera e apimenta com
explosividade, destreza e fulgor esta digressão desértica de pé colado no
acelerador. Sintam-se encantados, intrigados e magnetizados pelos vocais
atléticos, lubrificados e melódicos que se passeiam livremente pela ambiência tórrida
de The Desert Sea. Este é um EP fascinante
que me conquistara à primeira audição. Um registo que apenas peca pela sua
brevidade. Engulam este escaldante trago de exaltação e vivenciem de forma
frenética um dos mais arrebatadores EP’s de 2017.
quinta-feira, 27 de abril de 2017
Review: ⚡ The Cosmic Dead - 'Psych Is Dead’ (2017) ⚡
Está oficialmente lançado o
sexto e novo álbum de estúdio do quarteto escocês The Cosmic Dead designado ‘Psych Is Dead’ e promovido pelo
selo discográfico Riot Season nos
formatos físicos de CD e vinil (ambos com edições ultra-limitadas). Este álbum
de essência obscura, ébria e intrigante sustenta um narcotizante, ácido e sombrio
Heavy Psych diluído num hipnótico,
envolvente e morfínico Krautrock que
nos destrava a consciência pela vastidão de um Cosmos lisérgico e sedativo. A
sua sonoridade sonífera e temulenta embacia a nossa lucidez e em nós instaura
uma carregada e paralisante sensação de inércia que nos passeia pelos penetrantes
domínios do sonambulismo. Comunguem este anestésico ritual astral sublimemente
liderado por uma fascinante e lenitiva guitarra entregue a extasiantes e
magnetizante digressões espaciais, um baixo robusto e pulsante de rugidos dinâmicos,
maciços e ondulantes, um deslumbrante sintetizador sulfatado de poeira estelar que
se envaidece em mágicos e exuberantes bailados, e uma bateria retumbante,
explosiva e galopante que martela, esporeia e compassa toda esta compenetrada odisseia
pelo lado eclipsado e adormentado do Universo. Sepultem a vossa alma nas
profundezas celestiais de ‘Psych Is Dead’ e deixem-se envolver
e sufocar pela doce letargia transpirada pela ambiência sonora de The Cosmic Dead. Este é um disco que
nos abraça, respira e mumifica numa poderosa hipnose que nos afaga ao longo dos
46 minutos. Recostem-se confortavelmente, abrandem a respiração, selem as
pálpebras, dilatem as narinas e assimilem toda a toxicidade exalada de ‘Psych
Is Dead’.
quarta-feira, 26 de abril de 2017
terça-feira, 25 de abril de 2017
segunda-feira, 24 de abril de 2017
Review: ⚡ Aton.ality - 'I’ (2017) ⚡
Da Grécia chegam-nos as arrebatadoras brisas mediterrânicas do
quarteto Aton.ality com o lançamento
do seu empolgante álbum de estreia ‘I’. Esta jovem banda helénica
desenvolve uma fascinante sonoridade em constante mutação de onde sobressaem um
requintado, lenitivo e deslumbrante Psych
Rock, um entusiástico, dinâmico e dançante Funk, um formoso, delicado e sonhador Post Rock e ainda um hipnótico, perfumado e serpenteante Prog Rock. Estes quatro ingredientes
musicais – em alegre e atraente consonância – são tingidos e condimentados por
uma elegante, suave e revitalizante veia jazzística
que lhe confere uma lubricidade encantadora. A nossa alma é bronzeada e massajada
pela adorável resplandecência irradiada pela sublime ambiência sonora de Aton.ality que nos inunda de uma
inesgotável sensação de bem-estar. Mergulhem nesta profunda e doce hipnose à estimulante
boleia de duas sumptuosas, envolventes e apaixonantes guitarras que se entrelaçam
em surpreendentes, aparatosos e eróticos bailados traduzidos em esplêndidos e comoventes
riffs e em lascivos e extraordinários
solos, um baixo pulsante, atlético e vibrante - de deliciosa e magnetizante
ritmicidade – que nos obriga a dançá-lo de forma prazerosa, e uma exuberante bateria
– locomovida a delicadeza, maestria, ligeireza e primor – que distintamente tiquetaqueia
todo este longo, admirável e caprichoso cortejo de enlevação. ‘I’
é um álbum que me estarreceu e conquistou à primeira audição. Um disco plenificado
de uma formusura, harmonia e encantamento que prontamente inebria quem nele se
refugiar. Este é um dos registos mais tocantes que ouvira nos últimos tempos e que
certamente será coroado como um dos grandes álbuns do já abonado ano de 2017.
Empoeirem-se na sua magia.
domingo, 23 de abril de 2017
sábado, 22 de abril de 2017
sexta-feira, 21 de abril de 2017
Review: ⚡ Elara - 'Deli Bal’ (2017) ⚡
Que agradável surpresa
proveniente da cidade de Estugarda (na
Alemanha). ‘Deli Bal’ é o terceiro e
novo álbum do fascinante power-trio Elara que apesar de ter o lançamento
oficial agendado apenas para o próximo dia 1 de Maio pela mão do selo discográfico
germânico PsyKa Records em formato
de vinil, a banda acaba de disponibilizá-lo na íntegra para escuta e regozijo
dos seus discípulos mais impacientes. Confesso que desconhecia esta banda alemã
nascida no já distante ano de 2012, mas ‘Deli Bal’ abraçaram-me, conquistara-me
e apaixonara-me de uma forma absolutamente instantânea, veemente e irreversível. Baseado
num primoroso, lírico, sublime e deslumbrante Psych Rock adornado e bronzeado pelo bafo solar de um revitalizante,
polido, tranquilo e cativante Krautrock,
este paradisíaco álbum fertilizara a minha alma com um perfumado, doce e
edénico êxtase que me hipnotizara e inebriara do primeiro ao último tema. São
56 minutos governados por um esplendoroso e etéreo encantamento que nos mitiga,
seduz e conduz pelos faustosos, verdejantes e labirínticos jardins da sagrada ataraxia.
‘Del
Bal’ é sublimemente cozinhado por uma guitarra endeusada que nos envolve
e estarrece com os seus maravilhosos, resplandecentes e ostentosos acordes e
faz descarrilar a nossa lucidez com os seus solos verdadeiramente desvairados,
prodigiosos e arrebatadores, um baixo sussurrante de linhas dançantes,
magnetizantes e contemplativas que se passeia e galanteia livremente, uma
bateria ritmada a volúpia, perícia e emoção que tanto se euforiza em explosivas,
robustas e enérgicas investidas como se apazigua em esplêndidas, belas e sedativas
passagens verdadeiramente aprazíveis a quem as comunga, e ainda os harmoniosos vocais
que se agigantam e destacam nos intervalos do deslumbramento instrumental. ‘Del
Bal’ é um álbum transcendente que provoca uma constante salivação nos
nossos ouvidos e petrifica a nossa alma num inabalável estádio de inércia e satisfação.
Regresso dos luxuriosos e imaculados domínios de Elara completamente anestesiado e enfeitiçado pela lascívia e
beleza insuperáveis que este transpira. Banhem a vossa espiritualidade neste
celestial oásis e vivenciem um dos discos mais estimulantes de 2017.
quinta-feira, 20 de abril de 2017
Review: ⚡ Lord Loud - 'Passé Paranoia’ (2017) ⚡
Está finalmente lançado um
dos discos por mim mais aguardados de 2017: ‘Passé Paranoia’ do
poderoso power-duo californiano Lord Loud. Oficialmente lançado no
passado dia 18 de Abril em vinil (numa edição ultra limitada) pela mão da King Volume Records (responsável pela
distribuição em solo americano) e pela Kozmik
Artifactz (responsável pela distribuição em solo europeu), este magnífico álbum
de estreia da jovem formação enraizada na borbulhante cidade de Los Angeles vem atestado de um robusto,
soberano e intrigante Hard Rock, um
chamejante, entusiástico e delirante Heavy
Psych e ainda apimentado por um cáustico, dançante, sujo e irreverente Garage Rock. A sua sonoridade ardente,
erodente e sedutora – regada e corroída pelo efeito fuzz – tem em nós um efeito desmesuradamente provocante que nos euforiza
numa intensa comoção de adrenalina via auditiva. São 33 minutos de constante fascínio,
prazer e exaltação que nos serpenteiam, salteiam a lucidez e em nós promovem
uma violenta ebulição de arrebatamento. Entrem em efervescência ao excitante
som de uma guitarra portentosa que superiormente se manifesta em hipnóticos, instigantes,
redentores e titânicos riffs e se
envaidece em libidinosos, estonteantes e agitados solos. Aventurem-se na medula
deste furioso, desgovernado e frenético ciclone ao retumbante e redentor som de
uma bateria detidamente entregue a um enérgico, acrobático e fulgurante galope que
nos esporeia de lubricidade e comoção. Deixem-se enfeitiçar pelos vocais espectrais,
narcotizantes e diabrinos que sobrevoam, inebriam e diabolizam toda a mágica e nebulosa
atmosfera de ‘Passé Paranoia’. Este é um álbum absolutamente vibrante que
nos imortaliza num extasiante, doce e euforizante estádio febril. Dispam-se de
todas as inibições e enfrentem um dos mais excitantes discos do ano.
quarta-feira, 19 de abril de 2017
terça-feira, 18 de abril de 2017
Review: ⚡ L'Ira Del Baccano - 'Paradox Hourglass’ (2017) ⚡
Da capital italiana
chega-nos ‘Paradox Hourglass’, o novo álbum de estúdio do quarteto romano
L’Ira Del Baccano. Este seu novo
álbum encerra uma dinâmica, envolvente e deslumbrante mistura sonora de onde
sobressaem um monolítico, obscuro e inquisidor Doom de essência Sabbath’ica, um requintado, delirante e ensolarado Psych Rock de aura Floyd’eana e ainda um hipnótico, dançante e viajante Prog Rock setentista que nos remete para as exuberantes digressões espaciais
de Hawkwind. Toda esta fusão de
géneros musicais – que se complementam de forma sedutora e harmoniosa – resulta
numa sonoridade orgânica e imensamente estimulante que nos propulsiona na
direcção das estrelas. Lançado no passado dia 14 de Abril em formato digital
através do seu Bandcamp oficial e nos
formatos físicos de CD e vinil pela mão do selo discográfico Subsound Records, este ‘Paradox
Hourglass’ conquistara-me à primeira audição. A nossa alma é veiculada pelas
artérias cósmicas que se serpenteiam de encontro ao encantamento celestial.
Inalem toda esta etérea poeira estelar ao emocionante som de duas guitarras siderais
que se galanteiam e namoram em agradáveis, mélicos e inebriantes riffs e se desenlaçam e transcendem em incríveis,
vertiginosos e uivantes solos, um baixo sussurrante – detidamente entregue a
linhas contemplativas, torneadas e oscilantes – que flutua graciosamente pela paradisíaca
atmosfera de ‘Paradox Hourglass’, e uma bateria entusiástica que se perde e
encontra nas suas inventivas e mirabolantes acrobacias temperadas a tecnicidade
e sentimento. O primoroso, preclaro e luxuoso artwork que brilhantemente
embeleza este novo disco de L’Ira Del
Baccano é da autoria do ilustrador italiano Fabio Listrani com o qual a banda romana vê amadurecer o
vinculo. ‘Paradox Hourglass’ é um álbum majestoso que nos mantém a ele
ancorados do primeiro ao derradeiro tema. Diluam a vossa lucidez na nebulosidade
espacial de ‘Paradox Hourglass’ e sejam testemunhas privadas de uma das
mais admiráveis e extasiantes erupções consciências da vossa existência.
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Review: ⚡ Shades - 'Nightfall’ (2017) ⚡
Depois de comungado e reverenciado
o seu fascinante álbum de estreia (review
aqui), eis que um ano mais tarde me sinto impelido a repetir as palavras
elogiosas desta vez dedicadas ao segundo álbum de Shades apelidado de ‘Nightfall’. Este duo natural da
cidade portuguesa de Tomar, de
guitarras empunhadas e alma eclipsada pelo lado obscuro e outonal do Folk acaba de lançar o seu novo álbum e
devo antecipar que se trata de um disco verdadeiramente sublime que nos envolve
e lapidifica do primeiro ao último tema. São cerca de 50 minutos governados por
uma plácida e contemplativa melancolia que nos respira, anestesia e enluta a
alma. As duas guitarras eremíticas entrançam-se numa hipnótica, bucólica e
encantadora dança que nos recosta a um estádio de plena soturnidade, confessando
na penumbra plangentes e majestosas epopeias que nos intrigam e seduzem. Os
seus acordes tricotados com uma desarmante sensibilidade têm em nós um efeito
morfínico que nos drena a lucidez, eteriza e fossiliza numa intensa e
imperturbável serenidade. ‘Nightfall’ é um álbum para ser
escutado relaxadamente debaixo de um céu cor de noite e de olhar adormecido e
ancorado num vasto cemitério estelar. Um disco de alma prostrada, lúgubre e solitária
que nos navega e conduz pelos lugares mais recônditos, tenebrosos e
misantrópicos da existência humana. A narrativa sonora de ‘Nighfall’ é tragicamente
bela. Bronzeiem-se e embrenhem-se na soturnidade irradiada por Shades e vivenciem um dos álbuns mais estéticos e poéticos de 2017.
domingo, 16 de abril de 2017
⚡ Joy & Harsh Toke @ Cave 45, Porto ⚡
Na passada sexta-feira
desloquei-me até à cidade do Porto para assistir àquela que viria a ser uma das
noites musicais mais memoráveis da minha vida. A ementa californiana garantia
uma verdadeira detonação de Heavy Psych
capaz de nos desintegrar e isso acabou mesmo por se materializar. Promovido
pela Garboyl Lives e decorrido no já
carismático Cave 45 situado na baixa portuense, Joy e Harsh Toke incendiaram
toda uma plateia eufórica. Se no primeiro inverno de 2015 já havia
experienciado o fenómeno Harsh Toke
na cidade minhota de Viana do Castelo (review
aqui), Joy em palco seria uma
estreia para mim e, portanto, este empolgante power-trio natural de San
Diego, CA eram os naturais
detentores da maior fatia de expectativa para essa assombrosa e selvática noite.
Descendentes directos da
entusiástica sonoridade dos históricos ZZ
Top, o tridente ofensivo Joy foi
verdadeiramente arrasador. Detidamente entregues a uma erótica, furiosa e
hipnótica cavalgada superiormente movida e governada pelo seu alucinante Heavy Psych N’ Blues de ares setentistas, a formação californiana teve
mesmo uma das prestações mais conquistadores que me recordo de experienciar. De
instrumentos firmemente empunhados e em deslumbrante consonância, Joy arrancara para uma poderosa e
torneada comoção que compelira toda a numerosa plateia a dançá-la de forma prazerosa,
efusiva e libertadora. A exuberante guitarra serpenteava-se em riffs fascinantes, grandiosos e
extravagantes, e em incríveis, desvairados e atordoantes solos que nos esgrimiam
a lucidez, bronzeavam de adrenalina, e desgastavam a sanidade mental. O incansável
baixo de linhas pulsantes, dinâmicas e excitantes tonificava e sombreava de
forma sublime todas as alucinantes incursões da guitarra, a voz vivificante,
aguerrida e distorcida combatia a desmesurada causticidade expelida pelos
instrumentos e ascendia até à tona da psicotrópica nebulosidade de Joy, e ainda a frenética bateria que galopava
toda esta desenfreada e arrebatadora perturbação com surpreendentes acrobacias
temperadas a perícia e emoção, e que culminara num estapafúrdio e retumbante solo
regado de aplausos e entusiásticos clamores. A plateia balanceava-se como podia
perante toda este intenso frenesim e no final desta impressionante performance
vivia-se um perfeito clima de atordoamento que desaguara no concerto que se
seguira.
Seguiam-se uma das mais
influentes bandas do panorama Heavy
Psych californiano: Harsh Toke.
O radical quarteto também sediado na cidade costeira de San Diego brindara todos os fiéis peregrinos que acorreram a este
ritual com uma notável performance que se estendera à marca de duas horas de
duração. Logo aos primeiros acordes, o público respondera numa desgovernada e
desinibida agitação que nunca conhecera qualquer abrandamento. Harsh Toke inflamaram toda a arena do Cave 45 com as suas demoradas, impressionantes
e delirantes jam’s capazes de fazer
transcender o comum mortal. Ninguém estava indiferente a toda esta narcotizante,
estrondosa e reverberante avalanche desprendida pela formação californiana, e fora
do palco respirava-se uma atmosfera generalizada de encantamento e excitação. As
duas guitarras insanas entrançavam-se em solos vertiginosos, estapafúrdios e
dilacerantes que nos atestavam de uma descontrolada exaltação, e aliavam-se na
cimentação de riffs vigorosos,
obscuros e inquisidores que se agigantavam e nos intrigavam. O portentoso baixo
de linhas robustas, encorpadas e baloiçantes liderava com soberana distinção toda
esta titânica descarga de intoxicante reverberação, a bateria dilacerante, explosiva
e troante esporeava com intensidade e prepotência a poderosa cavalgada Harsh
Toke’ana, e uma voz espectral,
translúcida e ecoante dissolvia-se nesta densa e brumosa radiação. A minha alma
pendulava entre a doce lisergia, o sagrado êxtase e a colérica adrenalina. No
final do concerto, perdurava um intenso odor a suor, dores musculares, audição
e lucidez turvas e a inabalável certeza de que havia vivenciado uma das noites musicais
mais inolvidáveis da minha vida.