terça-feira, 30 de abril de 2019

Review: ⚡ Electric Acid - 'Trouperspheare' (2019) ⚡

Sendo eu um intratável entusiasta pelo lado mais revivalista da música Rock, não poderia cruzar-me com o álbum de estreia dos germânicos Electric Acid sem que o mesmo não exercesse em mim uma poderosa influência capaz de me remeter a esta sentida e apaixonada dissertação lírica que se segue. Intitulado de ‘Trouperspheare’ e lançado na madrugada do presente ano sob a forma digital e de CD pela novata e independente editora discográfica Calygram Records, este majestoso trabalho do jovem quinteto formado em 2016 e sediado na cidade de Leipzig faz do passado o seu presente. Absorvidos por influências que se desdobram de uns clássicos Deep Purple a uns modernos Blues Pills, estes nostálgicos alemães fazem do nobre Classic Rock (tingido e colorido de discretas vibrações e tonalidades Prog'ressivas) destilado dos dourados e sagrados anos 70 a sua estrela orientadora. Portadores de uma elegante, carismática, opulenta e deslumbrante sonoridade de carimbo vintage, os Electric Acid sulfataram e arrebataram a minha alma sedenta de algo assim. Conduzido a sublimidade por um reinante órgão Hammond de envolventes, extravagantes, sedutores e magnetizantes bailados, enfeitiçado por uma vaidosa guitarra de harmoniosos, temperados e vistosos acordes que desaguam na ascensão de solos alterosos, extraordinários e formosos, sombreado e tonificado por um murmurante baixo de linhas possantes, fluídas e ondulantes, tiquetaqueado e ritmado por uma sumptuosa bateria de audaciosas, esmeradas e talentosas investidas, e embelezado por uma voz melódica, mélico e sedutora, este adorável ‘Trouperspheare’ vem embrulhado por uma ambiência verdadeiramente enfeitiçante que me fascinara e aguçara todos os sentidos. É de alma plenamente petrificada e maravilhada que inalo toda a voluptuosa fragância sonora de Electric Acid. Deixem-se prender e embevecer na agradável e ofuscante melosidade transpirada pelo ‘Trouperspheare’, e vivenciem detida e apaixonadamente todo o reluzente esplendor de um dos álbuns mais garbosos, simétricos e primorosos do ano.

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Review: ⚡ Silver Devil - 'Paralyzed' (2019) ⚡

É ainda de respiração ofegante, lucidez embaciada e ritmo cardíaco galopante que vos escrevo estas palavras na duradoura ressaca de ‘Paralyzed’, o segundo e novo álbum do quinteto sueco Silver Devil. Lançado em Fevereiro através do selo discográfico – seu conterrâneo – Ozium Records sob a forma física de CD e vinil, este portentoso registo detona um vigoroso, massivo, incisivo e estrondoso Stoner Doom de inspiração setentista e combustão entregue ao fervilhante efeito Fuzz. A sua sonoridade desmesuradamente rutilante, intensa, enérgica e fulminante injecta no ouvinte toda uma insuportável dosagem de pura adrenalina que o pontapeia, revolve e incendeia do primeiro ao derradeiro tema. São 39 minutos integralmente saturados e esporeados por uma ardência euforizante à qual respondemos instintivamente com violentos e exuberantes movimentos corporais e uma cabeça que se sacode e balanceia em frenéticos rodopios. Na génese desta cavalgada infernal à rédea solta destacam-se duas guitarras motorizadas que se condensam e tonificam em riffs musculados, ritmados, poderosos e torneados e se desatam e endoidecem na sónica exteriorização de solos alucinantes, labirínticos, ácidos e atordoantes, um baixo de bafagem pesada e tonificada que se balanceia em pujantes, reverberantes, tensas e possantes linhas, uma bateria impetuosa, explosiva e fogosa de ritmicidade locomovida a alta rotação, e uma voz vivificante, visceral, espectral e liderante que emerge da profunda efervescência instrumental para se hastear e enaltecer na estratosfera do mesmo. ‘Paralyzed’ é um registo vibrante, de consumo impróprio para cardíacos. Um álbum mareado e tomado pelas chamas do entusiasmo que nos atesta de uma volumosa e turbulenta comoção. Deixem-se provocar e inflamar pelo novo disco de Silver Devil e apanhem uma das boleias sonoras mais estonteantes, desenfreadas e impactantes das vossas vidas.

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 Ozium Records

Review: ⚡ Madmans Moustache - 'Madmans Moustache' (2019) ⚡

Gravado no já distante ano de 2012 e seguidamente caído no esquecimento durante um longo período temporal, o adorável álbum de estreia dos suecos Madmans Moustache recebe agora o merecido reconhecimento da parte do pequeno selo discográfico Paltunes (sediado na cidade de Malmö) com a sua divulgação integral através da plataforma digital Bandcamp e do lançamento em formato físico sob a forma de vinil. Este admirável registo de designação homónima é portador de um envolvente, requintado, agradável e magnificente Psych Rock em alegre comunhão com um edénico, primaveril, delicado e bucólico Folk que nos mantêm plenamente arrebatados e extasiados do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade edénica, mélica, relaxante e purificante – tricotada a uma sublimidade e graciosidade enternecedoras – causara em mim toda uma ininterrupta perplexidade e incessante fascinação que me afagaram ao longo de toda sua duração. São 37 minutos completamente embebidos numa utopia sonhadora que nos massaja a alma e faz salivar os ouvidos. Diluam toda a vossa atenção nesta esplêndida e caprichada obra-prima de Madmans Moustache, e encontrem-se capturados num perfeito estado de satisfação e sedução à boleia de duas guitarras sumptuosas que florescem em harmoniosos, expressivos, lenitivos e donairosos acordes, e se envaidecem em deliciosos, inebriantes, delirantes e resplendorosos solos de imaculada beleza, um murmurante baixo cadenciado e orientado a linhas oscilantes, fluídas, fibrosas e dançantes, uma bateria jazzística de toque talentoso, polido, cuidado e primoroso, um místico órgão criador de uma atmosfera intimista, enfeitiçada e fantasista, e ainda uma voz sedosa, simpática e deleitosa que por vezes é escoltada, revestida e emoldurada por um deslumbrante e magistral coro vocal capaz de nos hipnotizar e desmaiar de prazer. ‘Madmans Moustache’ é um álbum intensamente magnetizante, paradisíaco e aliciante que nos namora e recosta a uma estimulante, doce e transbordante lisergia tingida a laivos de epicurismo. Um perfeito sonho acordado no qual a nossa alma se reconforta e deseja não mais dele regressar. Flutuem pela beatitude diluviana que este colectivo sueco canaliza pelas artérias da nossa consciência, e sintam-se transcender pela desarmante celsitude destilada por aquele que aos meus ouvidos se perfila como o álbum mais encantador lançado até ao momento em 2019. Um verdadeiro bálsamo divino – de interiorização auditiva e consequente rendição sensorial – que presenteia, climatiza e formoseia a nossa espiritualidade com uma sagrada aura de inigualável e irretocável sublimidade.

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terça-feira, 23 de abril de 2019

Review: ⚡ Centrum - För Meditation' (2019) ⚡

Da cidade de Gotembugo (na Suécia) chega-nos ‘För Meditation’, o álbum de estreia (e que estreia, diga-se) do duo escandinavo Centrum. Lançado muito recentemente numa edição em vinil (ultra-limitada à prensagem de apenas 500 cópias) pela parceria discográfica Rocket Recordings / Svensk Psych Aften e de inspiração trazida de uma proveitosa passagem pela Índia, este dueto de alma canonizada por um Drone meditativo, lenitivo e devocional, um Folk de ambiência ritualística e estival, e um messiânico psicadelismo de fragância oriental, tem a rara capacidade de nos relaxar, sedar e diluir nas profundezas do Cosmos interior. Embalados numa envolvente hipnose tricotada por um edénico misticismo e um enigmático etnicismo, somos massajados, embriagados e convertidos por uma intensa liturgia que prontamente nos afaga o corpo e os sentidos. A sua sonoridade espiritual – facilmente reconhecida em referências contemporâneas como Hills, The Myrrors e Lamp of the Universe, e em bandas clássicas como Gila, Popol Vuh, Agitation Free e Träd, Gras och Stenar – prende um transe de índole religioso que nos desata os nós da gravidade consciencial e liberta numa poderosa meditação transcendental. De alma estarrecida, olhar vendado, sorriso imortalizado, cabeça detidamente entregue a um movimento pendular de ombro a ombro e narinas dilatadas a absorver todo este incenso musical, somos conduzidos e embevecidos por uma bateria tribalista, um baixo de reverberação pulsante e magnetizante, uma flauta serpenteante, um sintetizador de idioma alienígena, uma guitarra errante, e uma voz profética que lidera toda esta endeusada procissão pelas infindáveis planícies da mente. ‘För Meditation’ é um álbum verdadeiramente xamânico que nos purifica com a sua tapestria mântrica. Deixem-se naufragar livremente pelo universo tântrico de Centrum, e sintam-se esbater num perfeito estado zen que vos climatizará do primeiro ao derradeiro minuto. Regresso desta terapêutica eucaristia de alma completamente lavada e aliviada. Uma das mais impactantes surpresas do ano está aqui, no ritual enteogénico superiormente orado por estes dois sacerdotes nórdicos de instrumentos empunhados e profecia ofertada.

domingo, 21 de abril de 2019

Review: ⚡ SKUNK - 'Strange Vibration' (2019) ⚡

Da cidade californiana de Oakland chega-nos o segundo trabalho de longa duração do colectivo SKUNK intitulado ‘Strange Vibration’ e oficialmente lançado pela jovem editora discográfica Fuzzy Mind Records sob a forma digital e de CD. De instrumentos apontados a um musculado, melódico e oleado Hard Rock à boa moda de Budgie, um dançante, dinâmico e magnetizante Heavy Prog de inspiração Rush’eana, e ainda um intrigante, obscuro e dominante Proto-Metal de feições Sabbath’icas, este quinteto norte-americano presenteia o ouvinte com uma envolvente, formosa, ostentosa e contagiante dosagem de aroma revivalista que homenageia o lado underground da música Rock setentista. A sua sonoridade ritmada, elegante, sedutora e torneada passeia-se e galanteia-se com uma desarmante graciosidade e voluptuosidade capaz de encantar e conquistar quem nele se albergar. De corpo bamboleante, sorriso expressivo, olhar selado e espírito arrebatado, somos adornados e enfeitiçados pela vistosa, enigmática e prazerosa vibração de SKUNK. Deixem-se dissolver e embevecer neste pitoresco, exótico e burlesco Carnaval de indução musical à poderosa influência de duas guitarras reinantes que se auxiliam na ascensão de majestosos, soberanos e luxuosos riffs, e se entrelaçam na exímia orientação de rendilhados, extravagantes, berrantes e delirados solos, um baixo deliciosamente groovy que se desenha a linhas reverberantes, encorpadas, ritmadas e serpenteantes, uma instigante bateria cadenciada e locomovida a um galope criativo, incisivo e empolgante, e ainda uma voz sedosa, avinagrada, diabrina e venenosa – remetendo-nos imediatamente para a mocidade e vivacidade de um Ozzy Osbourne – que, de forma incontida, se enfatiza, notabiliza e enobrece por entre o agradável e eloquente requinte instrumental. ‘Strange Vibration’ é um fabuloso álbum de natureza apoteótica que me hipnotizara, apaixonara e amotinara do primeiro ao derradeiro tema. Velejem este verdadeiro exotismo diluviano que vos canalizará pelas artérias epicuristas e desaguará num irretocável oásis mental. Bronzeiem-se na sua profusa irreverência e vivenciem com total entrega e fascinação um dos álbuns mais marcantes e excitantes lançados até ao momento em 2019. É impossível não perscrutar e dançar toda esta estranha vibração de clima veraneio e aroma californiano que os criativos SKUNK acabam de borrifar.

Review: ⚡ Have Blue - 'When The Flowers Get Teeth' (2019) ⚡

Da cidade-capital alemã chega-nos ‘When The Flowers Get Teeth’, o primeiro trabalho de longa duração do power-trio berlinense Have Blue. Lançado na segunda metade do passado mês de Março pela prestigiada editora discográfica germânica Nasoni Records sob a forma física de CD e vinil, este admirável álbum de estreia transpira a ácida ardência de um apimentado, melódico e ritmado Heavy Psych fervido pela aspereza electrizante do efeito Fuzz, que tanto deflagra pelos domínios de um empolgante, destemperado, despretensioso e instigante Garage Rock que imediatamente nos contagia e remexe, como se refresca num dançante, exótico, harmonioso e tonificante Surf Rock de tracção e inspiração sessentista. A sua sonoridade de elegante frescura – climatizada e matizada por uma discreta e carismática ambiência Lo-Fi – vem saturada e aromatizada de um edénico resplendor veraneio que prontamente nos alvorece e estarrece a alma. De olhar semi-selado, sorriso golpeado no rosto, narinas dilatadas e cabelos entrelaçados numa ondulada brisa salgada, somos conduzidos para um adorável universo imaginário ao volante de um arejado carro que se serpenteia pela extensa costa californiana beijada pelo diamantino Oceano Pacífico. Deixem-se comover e embevecer pela inebriante harmonia destilada por uma copiosa e donairosa guitarra de afáveis, provocantes, ofuscantes e adoráveis acordes, um baixo de reverberação modorrenta e desenhada a linhas sombreadas, pulsantes, magnetizantes e encaracoladas, uma bateria diligente e soberbamente tiquetaqueada a uma ritmicidade incitante, e uma voz escarpada, destemperada e radiofónica que reforça todo o espírito boémio que este simpático e aliciante registo ostenta. ‘When The Flowers Get Teeth’ é um álbum jovial de agradável audição e fácil digestão. Uma apaixonante companhia sonora que nos perfuma com a sua bafagem estival e tropical. Bronzeiem-se na cálida e lampejante radiância de Have Blue, e saboreiem relaxadamente este frutado e espirituoso cocktail via auditivo que decerto vos antecipará o Verão.

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Review: ⚡ Communion - 'Field Of Ruin‘ (2019) ⚡

Da cidade de Austin (capital do estado norte-americano do Texas) chega-nos ‘Field Of Ruin’, o novo álbum do tridente Communion e um dos registos por mim mais aguardados do ano. Esta formação texana – constituída em 2011 e integrada por ex-membros de outras bandas da região, como é o caso dos influentes Sweat Lodge (devidamente reverenciada aqui e premiada aqui) – entrincheira-se no lado mais fúnebre e depressivo da música Doom, provocando em mim um reconfortante estádio de total fascínio e assombração que de forma súbita me invadira no preciso momento da sua primeira audição. Lançado muito recentemente pelo selo discográfico local Somatic em formato físico de cassete, este ‘Field Of Ruin’ hasteia e ostenta toda uma sonoridade distópica que alterna entre um pujante, abissal, tenso e inflamante Funeral Doom de intenso e voraz negrume, e um envolvente, outonal, lúgubre e melancólico Drone, criador e narrador de paisagens tristemente belas. De cabeça pesada e tombada sobre o peito, olhar vendado e eclipsado, e alma narcotizada e encarcerada num perfeito estado de prostração, somos hipnotizados, atormentados e arrastados pela pardacenta e lamacenta musicalidade de Communion pela atmosfera devastada, silenciosa, solitária e enlutada que a mesma encerra. ‘Field Of Ruin’ é um impactante álbum de natureza profana, trágica e lacrimosa – movido a um portentoso vigor, nutrido a um febril desalento e revestido por um negro e espesso manto – que nos soterra nas profundas trevas da espiritualidade. Deixem-se absorver, atordoar e entristecer por uma guitarra lamuriosa que tanto se manifesta numa tirânica, tensa, violenta e misantrópica exasperação, como se aquieta em pausados, contemplativos, lenitivos e sublimes acordes tecidos a um lisérgico e subtil requinte, um baixo magnetizante de bafagem volumosa, reverberante, densa e poderosa que sombreia e tonifica toda esta morfínica e monolítica avalanche sonora, uma bateria explosiva, violenta e ostensiva que nos esporeia e bombardeia de adrenalina, e uma voz atemorizante, cavernosa, escarpada, ácida e acutilante que rasga e afogueia as vestes deste álbum verdadeiramente colossal. Chego ao final do último tema completamente abalado e nebulizado pela saturada veemência e desarmante plangência que governam a nefasta essência de ‘Field Of Ruin’. Não será nada fácil emergir dos escombros que cimentam este cataclismo e recuperar a lucidez e o alento sufocados pelo despótico poder de Communion. Um dos meus álbuns favoritos do presente ano de 2019 está aqui, na fatídica, niilística e caliginosa alma de ‘Field Of Ruin’. Desbotem-se nele.

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