terça-feira, 31 de março de 2020
segunda-feira, 30 de março de 2020
Review & Full Premiere: ⚡ Moura - 'Moura' (2020) ⚡
Da vizinha Espanha –
mais concretamente da cidade galega de Corunha – chega-nos um dos
trabalhos mais ansiados e surpreendentes do ano. ‘Moura’ é o
magistral álbum de estreia – de designação homónima – esculpido e lapidado pelo
talentoso e sui generis quinteto espanhol que verá a luz do dia no próximo
dia 1 de Abril (quarta-feira) através do conceituado selo discográfico local Spinda
Records na forma física de CD e vinil (ambos os formatos ultra-limitados à
existências de parcas centenas de cópias disponíveis para venda). Respondendo positivamente
ao dignificante convite que me fora feito para estrear – de configuração
exclusiva – em solo (digital, entenda-se) português a escuta integral desta prodigiosa
primeira obra discográfica de Moura, é ainda assombrado por um febril
entusiasmo – deixado pelo mesmo – que tentarei da forma mais genuína transladar
para o domínio textual tudo aquilo que ‘Moura’ em mim ateara no
universo emocional. Concebido e conservado por um devocional, outonal, novelesco
e tradicional Folk de aura ritualista que desenterra e ressuscita toda a esquecida mística
do paganismo celta, e um exuberante, enigmático, magnético e apaixonante Heavy
Prog – matizado a um efervescente psicadelismo – de contornos épicos
e estirpe revivalista, este sublimado ‘Moura’ presenteia e
prazenteia o ouvinte com requintadas, deslumbrantes e inspiradas composições
musical e liricamente desafiadoras. De olhar envidraçado, semblante pasmado e espírito
enfeitiçado, somos cativados e orientados por uma esotérica liturgia –
superiormente liderada por estes cinco druidas – de oração e adoração apontadas
ao revivalismo de lendas ancestrais. Absorvidos e nutridos por um profundo e
intenso transe religioso, é-nos demasiado fácil converter em devotos
peregrinos de duas guitarras messiânicas que se hasteiam em ostentosos, faraónicos,
mitológicos e imperiosos riffs, e se inflamam em delirantes, exóticos,
tóxicos e uivantes solos, um vultoso baixo de pesada, densa, tensa e ondulada reverberação,
um maravilhoso órgão Hammond de hipnotizantes, enigmáticos e transbordantes
bailados, um mágico sintetizador que nos empoeira e beatifica de profecias
cósmicas, uma sofisticada bateria de natureza erudita e galope tribalista que tiquetaqueia
todo o álbum com a sua apurada técnica, e uma voz evangélica que – perseguida por
um populoso, ecoante e luminoso coro vocal – capitaneia esta quimérica
digressão pelos primórdios da preciosa cultura galega. A bonita fotografia que
adorna o rosto deste imaculado registo tem os seus devidos créditos apontados
ao fotógrafo espanhol Leo López. De destacar ainda a inclusão da assombrosa versão cover do tema "A Ronda das Mafarricas" originária do nosso Zeca Afonso, que encerra na perfeição toda esta fabulosa digressão pelos meandros de mitos, costumes e ritos antepassados. Este é um álbum verdadeiramente
utópico. Um irrepreensível trabalho arquitectado e executado a desarmante maestria
que me nutrira, seduzira e conquistara do primeiro ao derradeiro tema. ‘Moura’
garante – assim – não só uma estreia profundamente marcante, como um lugar
cativo por entre os mais premiados e elogiados álbuns que representarão os
melhores discos de 2020. Estes cinco eremitas hispanos vêm comprovar que nem só
dormindo, sonhamos. Corações ao alto, o nosso coração está em Moura.
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domingo, 29 de março de 2020
Review: ⚡ Freeways - 'True Bearings' (2020) ⚡
Da cidade canadiana de Brampton
(Ontário, Toronto) chega-nos a fresca e revitalizante brisa sonora
bafejada pelo quarteto Freeways, que está na iminência de nos brindar com
o lançamento do seu muito esperado álbum de estreia. Intitulado de ‘True
Bearings’ e tendo o seu nascimento oficial agendado para o próximo dia
2 de Abril pela mão do ainda jovem selo discográfico local Temple of Mystery
Records (sediado na cidade de Montreal, fiel e exclusivamente
dedicado às variantes da música Metal) nos formatos físicos de CD, cassete
e vinil, este sensacional primeiro trabalho de longa duração da formação canadense enverga um ostentoso,
melódico, estético e charmoso Heavy Metal de roupagem costurada à anos
80, em cumplicidade com um oleado, vigoroso, primoroso e ritmado Hard Rock
de tração e vocação setentista. Numa sofisticada e apaixonante homenagem
– exemplarmente executada – a vultosas referências dos géneros como Thin Lizzy, April Wine, Budgie, Blue Öyster Cult e UFO, a aromática e
carismática musicalidade de ‘True Bearings’ combina relaxadas baladas
climatizadas a envolvente e deslumbrante harmonia com empolgantes galopadas carboradas a uma inflamada e embriagada euforia. Na génese deste irresistível registo perfilam-se
duas virtuosas guitarras gémeas que se entrelaçam na ascensão e condução de majestosos,
felinos, cativantes e voluptuosos Riffs, e desenlaçam numa animada e enfurecida
perseguição por entre ziguezagueantes, gélidos, ácidos e atordoantes solos, um sussurrante
e ondulante baixo sombreado, balanceado e rugido a linhas dançantes, magnéticas
e possantes, uma instigante bateria firmemente esporeada a uma ritmicidade moderada,
consistente, eloquente e descomplicada, e ainda uma voz distinta de tez sedosa,
afinada, aquecida e melosa – a fazer-me recordar os notáveis dotes vocais do
ímpar Klaus Meine (vocalista de Scorpions) – que confere toda uma maviosidade lapidar à encantadora atmosfera de ‘True Bearings’.
É-me ainda inevitável enfatizar e aplaudir o fantástico artwork de aura
revivalista e beleza polar, irrepreensivelmente ilustrado pelo ainda desconhecido,
mas deveras promissor, artista canadiano Wayne Deadder, que se estreia assim
na concepção de uma capa para um trabalho musical. Este é um álbum de
fascinação e veneração imediatas. Uma obra forjada em combustão, maturada pela habilidade e polida pela
sensibilidade que me cortejara e conquistara na primeira audição que lhe dedicara. Deixem-se
enternecer e embevecer pela simétrica e melancólica maviosidade que contorna ‘True
Bearings’, e vivenciar – ainda que de forma fugaz e subtil – um fogoso
trago de chamejante excitação que vai colorindo e vivificando as pálidas e invernosas
paisagens sonoras de Freeways polvilhadas e banhadas pela neve. Seguramente, um dos
grandes álbuns do ano está aqui, na desarmante magnificência patenteada por um álbum dotado da rara capacidade de reconfortar e extasiar todo aquele que nele se refugiar.
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sábado, 28 de março de 2020
sexta-feira, 27 de março de 2020
quinta-feira, 26 de março de 2020
Review: ⚡ Heavy Trip - 'Heavy Trip' (2020) ⚡
Da cidade canadiana de Vancouver
chega-nos a gloriosa estreia do excitante power-trio Heavy Trip.
Envergando a designação homónima e tendo o seu lançamento oficial mapeado para
o próximo dia 28 do presente mês de Março (sábado) sob a forma física de vinil
e digital, este sensacional álbum conjuga a afrodisíaca extravagância de Jimi
Hendrix com a altiva obscuridade de Black Sabbath. Lavrado por um provocante,
fogoso, revoltoso e delirante Heavy Psych de elevada toxicidade que se esperneia
e enlameia num pantanoso, intrigante, luciférico e poderoso Proto-Doom de
essência ritualística, ‘Heavy Trip’ é gravitado e capitaneado por magnetizantes,
ácidas, esponjosas e impactantes jams – de natureza exclusivamente instrumental
– que facilmente nos abafam a lucidez e inundam de uma febril e euforizante
embriaguez. Totalmente absorvidos nesta chamejante, profunda e fumegante efervescência
sonora, somos embalados pelo berrante exotismo de uma guitarra faraónica que se
manifesta em riffs tenebrosos, soberanos, massivos e vigorosos de onde
desabrocham borbulhantes, desvairados, turbinados e atordoantes solos, pelo
pesado rugido de um baixo imponente que canaliza toda a sua trovejante reverberação
em linhas possantes, hipnóticas e navegantes, e pela enérgica galopada irrepreensivelmente
esporeada por uma rumorosa bateria de desembaraçada, acrobática e apressada ritmicidade
conduzida a pura adrenalina. São estes os três ingredientes que quando fundidos
resultam numa emocionante e aparatosa explosão de endorfinas. De espalhar ainda
elogiosas palavras pelo prodigioso artwork de créditos facilmente apontados
ao já consagrado ilustrador californiano Alan Forbes que traduzira para
o universo visual tudo aquilo que a xamânica e psicotrópica musicalidade de Heavy
Trip edifica no imaginário do ouvinte. Este é um álbum verdadeiramente
piramidal. Um disco cabalmente oxigenado e saturado por uma catártica aura que
nos estremece e sobreaquece a alma, fazendo-a entrar numa bombástica erupção de
puro prazer. Confesso que ‘Heavy Trip’ era um dos registos por
mim mais ansiados do ano, portanto a expectativa a ele previamente dedicada era
mastodôntica. Mas não só o mesmo entupira essa mesma espaçosa esperança, como
lhe rasgara e trespassara as suas costuras fronteiriças, forçando-me a
vivenciá-lo de semblante boquiaberto e coração cavalgado a alta rotação do
primeiro ao derradeiro tema. São 36 minutos de uma impetuosa ardência que nos sacode
e implode de um incontido entusiasmo. Deixem-se impulsionar e fulminar à enlouquecedora
e libertadora boleia de Heavy Trip, e experienciem toda a dominante opulência
de um dos mais sérios e acreditados candidatos ao tão ambicionado título de
álbum do ano.
quarta-feira, 25 de março de 2020
terça-feira, 24 de março de 2020
Review: ⚡ Chief - 'Chief' EP (2020) ⚡
Da boémia e airosa cidade de São
Francisco (estado da Califórnia) chega-nos o tão ansiado primeiro
registo de estúdio apresentado pelo entusiástico power-trio Chief. Lançado muito
recentemente e unicamente em formato digital (com a possibilidade de download
gratuito) através da sua página de Bandcamp oficial, este curto trabalho
de designação homónima e alma vintage prende um elegante, libidinoso, odoroso e serpenteante Heavy
Blues de oxidação revivalista chamejado, mordido e matizado por um fogoso, expressivo,
intoxicante e revoltoso Heavy Psych lavrado e desdobrado à tão típica moda californiana. A sua sonoridade intensamente provocante, virtuosa, vistosa e embriagante
– que se desenvolve de uma sedutora majestosidade brilhantemente destilada por uns lendários britânicos Cream
à selvática efervescência vivamente detonada pelos seus ruidosos vizinhos JOY – tem o atrevimento de nos sobreaquecer o motor cardíaco e baralhar os sentidos com uma
caleidoscópica adrenalina. Albergando apenas dois temas que se esperneiam até à
duração total de 14 minutos, este saboroso ‘Chief’ é exemplarmente cozinhado por uma magnificente guitarra que se bamboleia em uivantes, charmosos, musculosos e
magnetizantes Riffs e se inflama em solos gritantes, aparatosos,
ostentosos e alucinantes, um baixo fibrado de hálito pesado, denso, empolado e
sombreado, uma extraordinária e exímia bateria de impactante ritmicidade que agarra
firmemente as rédeas do protagonismo quando se lança num ciclónico e galopante solo de natureza
circense onde atordoantes, inventivas, lépidas e extravagantes acrobacias nos atiçam
e enfeitiçam, e ainda uma estética, aveludada, cuidada e carismática voz de
vaidade aristocrática que embeleza um dos dois temas. Este é um EP deveras
galante, hipnótico e emocionante que nos nebuliza, eteriza e embala do primeiro
ao derradeiro minuto. Percam-se e encontrem-se nas absorventes e vertiginosas profundezas
da sua delirada e temulenta vistosidade, e vivenciem todo o ofuscante esplendor
de um primoroso registo que apenas peca pela sua diminuta extensão temporal.
Que este estreante e auspicioso trabalho de Chief represente o primeiro
e destemido passo rumo a uma espaçosa discografia, ou não se tratasse este de um irretocável EP
inteiramente enroupado e maquilhado à minha imagem.
segunda-feira, 23 de março de 2020
Review: ⚡ Canyon - 'EP III' (2020) ⚡
Os norte-americanos Canyon
acabam de publicar um comunicado que provocara em mim uma acesa disputa entre
sentimentos contraditórios. Se o imediato lançamento de um novo EP incendiara
o rastilho do meu entusiasmo, o triste e inesperado anúncio de um hiatus
de duração indefinida deixara-me com um ainda ligeiro travo a nostalgia que o
futuro se encaminhará de intensificar com o amadurecer do tempo. Sem mais
demoras, vou avançar para o que de melhor esta talentosa banda natural da
cidade de Filadélfia (Pensilvânia, EUA) deixara
imortalizada na memória: a sua curta, mas rica discografia. ‘EP III’
é o nome dado ao último capítulo do legado discográfico deixado pelo jovem power-trio
de nomenclatura clássica e uma leal dedicação – transformada numa inspirada
reencarnação – ao que de melhor desabrochara no fértil solo das douradas décadas
de 60 e 70. Sustentado e regrado por uma sagrada aura de feição e aroma
revivalistas, e muito recentemente disponibilizado para escuta integral, numa
exclusiva edição de autor em formato digital – com a sempre elogiável
possibilidade de download gratuito – através da sua página de Bandcamp
oficial, este derradeiro e imaculado EP de Canyon vem ungido,
condimentado e chamejado por um elegante, apurado, sublimado e empolgante Heavy
Blues de estirpe setentista, engrenado num irreverente, alucinógeno,
erógeno e ardente Acid Rock trazido da segunda metade da boémia década
de 60, e num fervilhante, dinâmico, bombástico e electrizante Heavy Psych
de berrantes e impactantes erupções. Baloiçado entre turbulentos momentos de
euforizante efervescência e nirvânicas passagens de delirante dormência, ‘EP
III’ atesta e extravasa de incontáveis virtudes os vinte minutos que o
balizam. Capitaneado por uma majestosa guitarra de essência Led Zeppelin’esca
que se envaidece na criativa elaboração de charmosos, cativantes, triunfantes e
alterosos Riffs urtigados pelo efeito Fuzz, e se enraivece na
virtuosa ejaculação de exuberantes, labirínticos, furiosos e atordoantes solos,
um baixo bafejante, ondulado e pulsante de sinuosas linhas desenhadas a
negrito, uma apaixonante bateria de alma circense que se manifesta com base em
desembaraçadas, aparatosas, engenhosas e apressadas acrobacias, e ainda uma voz
de tez rugosa, felina, mélica e melodiosa – depositária de dotes que
prontamente nos remetem para o emblemático Robert Plant – que confere a
este admirável registo toda uma simétrica e aristocrática graciosidade.
Amotinado pelas revoltosas e fogosas águas da comoção, e desaguado nas
paradisíacas e oníricas praias de um ofuscante transe espiritual, alcanço o
glorioso final de um precioso registo que resvala nas costuras da perfeição.
Muito dificilmente existiria melhor forma dos Canyon se despedirem de
todos os seus ouvintes. ‘EP III’ afigura-se como um dos mais
sérios candidatos a EP do ano. Na pesada ressaca em mim deixada pelo mesmo fica
um discreto gosto a saudade de um tridente inesquecível ao qual seguramente
recorrerei vezes e vezes sem conta.
domingo, 22 de março de 2020
sábado, 21 de março de 2020
Review: ⚡ Arbouretum - 'Let It All In' (2020) ⚡
Chegou a Primavera e com ela
veio um dos álbuns por mim mais aguardados de 2020. Da cidade portuária de Baltimore
(Maryland, EUA) é suspirado e disseminado o agradável aroma
sonoro de Arbouretum com o lançamento integral do seu novo e seráfico álbum
intitulado ‘Let It All In’ e devidamente promovido pela afamada gravadora
nova-iorquina Thrill Jockey sob a forma física de CD e vinil. Oxigenado
e embalado por um sublimado, místico, melódico e refinado Folk – em constante ricochete entre o Indie Folk e o Folk Rock – de mãos dadas a um radioso,
diáfano, açucarado e carinhoso Psychedelic Rock de raiz revivalista e uma
quente e oceânica ambiência West Coast, esta estupenda obra raciocinada
e lapidada pelo fascinante quarteto norte-americano vive da sensibilidade, do
detalhe e primor. A sua sedosa, apaladada, desanuviada e melodiosa sonoridade – aureolada e
encerada por um jubiloso esplendor de clima primaveril e uma ensolarada
atmosfera campesina – tem o dom de nos sedar o olhar, rebaixar as pálpebras a
meia-haste, desenhar um inextinguível sorriso no rosto, corar as bochechas,
purificando e extasiando a alma sedenta de algo assim. De ouvidos salivantes, sentidos adormecidos e corpo mitigado, detidamente entregue a uma
suave dança serpenteante, somos absorvidos, estarrecidos e canonizados por uma
guitarra intensamente afrodisíaca que se enaltece e embevece à boleia de
contemplativos, ternurentos e lenitivos acordes pincelados a desarmante
subtileza, de onde florescem e se envaidecem estonteantes, labirínticos e
inebriantes solos conduzidos a vistosa destreza, um pulsante baixo de magnética
reverberação Krauty balanceado a linhas flutuantes,
sombreadas, tonificadas e ambulantes, uma cativante bateria de afável
ritmicidade galopada a um toque cintilante, polido, descontraído e
enfeitiçante, um fabuloso teclado de magia onírica que deambula nas asas dos
seus eloquentes, etéreos e atraentes bailados, e uma irresistível voz de
aparência veludosa, lustrosa, risonha, e deleitosa que sobrevoa de forma
harmoniosa, liderante e graciosa toda a vastidão deste frondoso, magnificente e
cheiroso jardim sonoro. Chego ao indesejado final deste irretocável e venerável
álbum integralmente entontecido e comovido pela doce maviosidade transudada pelo
mesmo. ‘Let It All In’ é um trabalho magistral – de beleza consumada
e fineza lapidar – que provocara em mim um firme e febril estado de ofuscante
encantamento. Um autêntico oásis espiritual onde todos os nossos membros e
sentidos se esperneiam, massajam e prazenteiam demoradamente. Deixem-se inspirar
e arrebatar pela renovada e inspirada fragância de Arbouretum, e
testemunhem toda a edénica e catártica refulgência farolizada por um disco
fadado a perpetuar-se numa das mais cobiçadas posições por entre os melhores
álbuns do presente ano. Já sentia saudades de vivenciar um registo tão lírico,
íntimo e sincero assim.
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sexta-feira, 20 de março de 2020
quinta-feira, 19 de março de 2020
quarta-feira, 18 de março de 2020
Review: ⚡ Siena Root - 'The Secret of our Time' (2020) ⚡
Os já históricos Siena
Root prosseguem a sua rica e duradoura digressão discográfica e a próxima
paragem denomina-se ‘The Secret of our Time’ e terá lugar marcado
no próximo dia 20 do presente mês (sexta-feira) pela mão do selo discográfico
germânico MIG Music através dos formatos físicos de CD e vinil. Com mais
de duas décadas de prolífica existência – onde se perfilam quase uma dúzia de
álbuns – esta talentosa formação sueca situada na cidade-capital de Estocolmo
vem amadurecendo o invejável estatuto que a certifica como uma das referências musicais
mais importantes do território nórdico. Progredindo em modo rewind pelo
revivalismo musical perpetuado nas douradas décadas de 1960 e 1970, os Siena
Root – apesar de inspirados pela mesma estrela que os faroliza desde as
suas origens – possuem a admirável e elogiável capacidade de se reinventarem a
cada renovada obra que desabrocha no seu jardim musical. É essencialmente por
isso que Siena Root se mantém resolutamente por entre a fornalha onde
coabitam as minhas mais premiadas bandas contemporâneas de eleição. Tal como
acontece com os seus antecessores, ‘The Secret of our Time’ vem
sulfatado e perfumado de uma carismática aura de beleza e refulgência vintage
– resultado de uma produção exclusivamente analógica – onde o elegante, melódico, erótico e
cativante Blues-Rock, o harmonioso, serpenteante, dançante e luxuoso Progressive
Rock e até o deslumbrante, agradável, bucólico e purificante Folk são
donos e senhores de toda a atmosfera que o mesmo encerra. Este mélico álbum de
natureza conceptual – que explora a afeição da natureza humana à tecnologia
vanguardista e realidades virtuais – vem oleado, condimentado e oxigenado por
uma desarmante e inspirada destreza aliada a uma comovente e requintada delicadeza
que – lado a lado – dialogam e rebolam pelas ensolaradas, verdejantes e imortalizadas
planícies de ‘The Secret of our Time’. Tricotado por uma faustosa
guitarra de majestosos acordes e libidinosos solos, sombreado por um fibrado baixo
de linhas errantes, tiquetaqueado por uma acrobática bateria de sensibilidade jazzística,
massajado por um opulento órgão de extravagantes bailados, e capitaneado a duas
sedosas, encorpadas, caramelizadas e melodiosas vozes femininas que repartem
entre si todo o protagonismo vocal, este novo registo de Siena Root
conta ainda com a honrosa participação de uma mão cheia de músicos convidados –
como por exemplo, o virtuoso Stefan Koglek (guitarrista e vocalista dos
carismáticos Colour Haze) – abrilhantando assim toda a mágica narrativa
sonora que o mesmo ostenta. De membros adormecidos, sentidos salivantes e alma acariciada
pela enternecedora temulência suspirada por este ataráxico néctar via auditivo,
somos enfeitiçados e canalizados de encontro aos braços de um transe
espiritual que nos desobstrói as artérias da espiritualidade e desagua num
imperturbável estádio de perfeito bem-estar. ‘The Secret of our Time’
é uma obra primorosa de estética e mística fabular que nos climatiza e eteriza do primeiro
ao derradeiro tema. Um álbum edénico, redigido a uma simétrica e inspirada fineza,
que certamente escalará até às mais elevadas posições de destaque na listagem
que premeia os melhores álbuns brotados no presente ano de 2020.
terça-feira, 17 de março de 2020
segunda-feira, 16 de março de 2020
Review: ⚡ The Skookum Brothers - 'En Las Montañas' EP (2020) ⚡
Da cidade californiana de Oakland
chega-nos a quente e doce fragância revivalista do quarteto The Skookum
Brothers com o lançamento do seu segundo e novo EP intitulado ‘En
Las Montañas’ e promovido exclusivamente em formato digital (com a
possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp
oficial. Sendo eu um intratável entusiasta pela música Rock forjada no
final dos anos 60 e em toda a extensão da década de 1970, não poderia evitar
que a musicalidade deste EP me trouxesse a esta apaixonada dissertação
lírica. Massajado e climatizado por uma sonoridade genuinamente vintage, de onde
facilmente se reconhece e degusta um ensolarado, primaveril, pastoril e
relaxado Psychedelic Rock de coloração Bluesy e inspiração resgatada a icónicas referências como Grateful Dead, The Allman Brothers Band e Quicksilver
Messenger Service, um rural, mavioso, risonho e estival Country Rock
– de discretas aproximações ao vibrante Western Swing – à boa e velha moda
de Neil Young e The Marshall Tucker Band, e ainda um dançante, ritmado,
assanhado e inflamante Boogie Rock de maquilhagem e indumentária ZZ
Top’eana, este afável e adorável ‘En Las Montañas’
conta ainda com a reinterpretação do clássico intemporal “Sugar Mama” (unificando
as versões desiguais executadas pelo guitarrista e purista do Delta-Blues Big Joe
Williams e pelos irlandeses Taste) e de “Ripple” (tema original
dos texanos Shiva's Headband). Embebidos na sua atmosfera western’eana,
as nossas pálpebras escorregam pela córnea abaixo, os lábios curvam e desenham
um genuíno sorriso no rosto, e a cabeça embriagada é pesadamente pendulada de
ombro a ombro à enfeitiçante boleia de uma guitarra trovadora que nos cativa e namora
com os seus acordes envolventes, lenitivos, meditativos e comoventes, e nos
eteriza e nebuliza com os seus solos errantes, exóticos, jubilosos e emocionantes,
uma voz delicada, aconchegante, sóbria e aveludada, um diligente e murmurante baixo serpenteado
a linhas pulsantes, fluidas, sombreadas e magnetizantes, um carismático e
aromático órgão Hammond de harmoniosos, excêntricos e deleitosos bailados,
e ainda uma bateria galopante, despretensiosa e magnetizante que – em cumplicidade
com uma percussão de orientação tribalista – troteia, esporeia e tiquetaqueia toda esta sonhadora,
contemplativa e libertadora cavalgada pelas verdejantes e cinematográficas pradarias
sobrevoadas por uma perfumada e suavizante brisa e farolizadas por um vigilante
Sol chamejado a intensa combustão que se debruça nas montanhas de recortam o intangível firmamento. ‘En Las
Montañas’ é um mágico registo de curta duração que reencarna um encanto
há muito perdido e esquecido. O regresso a um tempo e espaço aclimatados pela pura
e dourada bonança só vislumbrada – por entre suspiros – no nosso imaginário.
Deixem-se sorver e purificar pelo ataráxico, diáfano e edénico revivalismo reluzido
e transpirado por este charmoso e espirituoso EP, e vivenciem de forma absolutamente
detida e deslumbrada esta surpreendente banda contemporânea que – para minha imensa
satisfação – faz do passado o seu presente e futuro. Um verdadeiro fármaco para as almas inadaptadas que - tal como a minha - prosseguem a sua fuga à modernidade.