Review: ⚡ Spelljammer - 'Abyssal Trip' (2021) ⚡

★★★★

Findados sensivelmente seis longos anos de jejum – no que à produção discográfica diz respeito – que se seguiram após o lançamento do segundo e portentoso álbum ‘Ancient Of Days’ (aqui devidamente narrado), o potente tridente escandinavo Spelljammer está finalmente de regresso com um terceiro álbum designado de ‘Abyssal Trip’ e que será hoje mesmo apresentado na íntegra pela mão do influente selo californiano RidingEasy Records através dos formatos digital, CD e vinil (este último ramificado em várias edições). Não só não consigo esconder de que se tratava de um dos álbuns por mim mais ansiados deste novo ano de 2021, como ainda menos consigo conter-me em avançar desde já que o mesmo atestara toda a imensa barragem de expectativas a ele dedicadas. Amuralhado num escaldante, impiedoso, vigoroso e fumegante Stoner Doom – estilo que se repercute por todas as suas obras anteriores – que ocasionalmente se enlameia nos musguentos pântanos de um vagaroso, tóxico, demoníaco e gorduroso Sludge Metal, este registo de dimensões titânicas é virilmente atormentado por imponentes tsunamis de sombreadas, enérgicas, luciféricas e pesadas ressonâncias Black Sabbath’icas que nos sobreaquecem e enfurecem de uma euforia amordaçada, e carinhosamente apaziguado por deslumbrantes interlúdios de feições plácidas, melancólicas, dramáticas e aromatizadas que nos desmaiam as pálpebras e tombam o semblante anestesiado de encontro ao peito. Alternando entre uma entusiástica fogosidade infernal e uma letárgica envolvência glacial, a catártica sonoridade de ‘Abyssal Trip’ desdobra no imaginário de quem nele se refugia toda uma paisagem desoladora – tingida a cores esbatidas e oxigenada a sufocante distopia – capaz de lhe cortar a respiração. Sintonizados na mesma frequência de vultosas bandas do género tais como Sleep, Acid King, Ufomammut, Toner LowZoroaster e Monolord, estes suecos enraizados na cidade-capital de Estocolmo desencadeiam todo um trevoso, dantesco e rumoroso sismo electrificado por uma soberana guitarra Iommi’esca que se agiganta na imperiosa ascensão de volumosos, enigmáticos, despóticos e assombrosos Riffs de onde são escoados e gritados solos esvoaçantes, ácidos, alucinados e atordoantes, um tenebroso baixo pesadamente bafejado a demoníaca, densa, tensa e monolítica reverberação , uma explosiva bateria esmurrada a batidas fortes, vibrantes, troantes e incisivas, e ainda vocais proféticos que oscilam entre agressivos, inflamados, escarpados e corrosivos rugidos revolvidos numa diabólica combustão, e  avinagradas, ecoantes, penetrantes e sedadas lamúrias que ecoam pelos misantrópicos abismos de ‘Abyssal Trip’. De olhar eclipsado, sentidos insensibilizados e espírito dissolvido nas vertiginosas profundezas da obscuridade espacial, somos enfeitiçados e empoderados pela intensa gravidade de Spelljammer. Deixem-se esbofetear, embriagar e estremecer pelas pujantes vagas de um palpável, turbulento e venerável negrume, e embarquem nesta épica viagem sem destino definido ou retorno garantido.

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 RidingEasy Records

Review: ⚡ Breath - 'Primeval Transmissions' (2021) ⚡

★★★★

Oremos, irmãos. De Portland – a maior e mais populosa cidade do estado de Oregon – chegam-nos as sagradas reverberações emanadas pelo power-duo Breath com o seu novíssimo álbum de estreia batizado de ‘Primeval Transmissions’ e carimbado pelo selo discográfico norte-americano Desert Records que o promovera através da forma digital e ainda sob os formatos físicos de CD e cassete (ambos ultra-limitados ao stock de apenas 75 unidades existentes cada). Aureolado e oxigenado por um profético, meditativo, imersivo e anestésico Mantra Doom de incenso psicotrópico e indiscreta vocação OM’esca, este sibilino e fascinante ‘Primeval Transmissions’ prende todo um eclesiástico ritual de consagração espiritual e afago sensorial que – de semblante pasmado, olhar embalsamado e alma canonizada – nos eteriza, envolve e canaliza numa divina peregrinação pelos nirvânicos e eternos desertos da profunda introspecção. Submergidos na abissal fundura de um febril transe religioso que nos preenche de uma imaculada luzência, somos embalados num imperturbável estádio de sonambulismo devocional que prontamente nos converte em fiéis discípulos desta mística sonoridade adubada a condimentos bíblicos. Pesadamente bafejado por um endeusado baixo de linhas ronronantes, magnéticas, sinuosas e vibrantes, primorosamente tiquetaqueado por uma bateria expressiva de ritmicidade acrobática, enfática, esplendorosa, e criativa, e ainda superiormente rezado por uma voz hipnótica, imponente e messiânica – de tonalidade a evocar o druida Al Cisneros, e lirismo oxigenado a fervorosa e purificada veneração – que nos lidera e faroliza nesta sacra digressão, ‘Primeval Transmissions’ é um álbum verdadeiramente santificado que conduzirá o ouvinte a uma edénica condição de transbordante beatitude e catártica enlevação. São 45 minutos de letárgica e enfeitiçante liturgia. Deixem-se banhar nestas tóxicas, fumarentas e deíficas ressonâncias de diluviana imersão, e despertem num quimérico sonho que vos escoará a consciência pelos portais da percepção. Não vai ser nada fácil emergir até à tona desta nebulosa hipnose – sublimemente vaporizada por Breath – e exorcizar toda a piramidal religiosidade que este dueto norte-americano em nós semeara e nutrira. Corações ao alto.

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 Desert Records

Review: ⚡ Void Commander - 'River Lord' (2021) ⚡

★★★★

Três anos volvidos depois de apresentado o seu homónimo EP (aqui desconstruído e aplaudido), o tridente sueco Void Commander regressa agora com o lançamento de um novo álbum intitulado ‘River Lord’ e exteriorizado em formato digital e ainda sob a forma física de CD e vinil pela mão do consórcio discográfico que coliga a Majestic Mountain Records e a Ozium Records. Guiados pela mesma estrela que os faroliza e influencia desde a sua fundação, estes jovens nórdicos sediados na cidade sulista de Karlskrona executam um viçoso, elegante e majestoso Classic Rock de primor Led Zeppelin’esco em erótica cumplicidade com um tenebroso, obscuro e ostentoso Proto-Doom de demoníacas ressonâncias Black Sabbath’icas. A sua sonoridade intrigante, sedutora e inflamante agiganta-se numa brumosa, etérea e fibrosa avalanche que nos absorve e revolve do primeiro ao derradeiro tema. Alternando entre exuberantes, melodiosas e deslumbrantes baladas docemente condimentadas a um luzidio corante Blues, e pesadas, assombradas e titânicas galopadas tensamente saturadas de um carregado negrume, ‘River Lord’ é um álbum enlutado e embruxado que nos entorpece, embevece e atormenta de forma impiedosa. Soterrados nesta intensa e doce narcose que nos adormece, eclipsa e amolece os sentidos, somos aliciados e conquistados pelas luciféricas danças de uma guitarra sobranceira que se serpenteia em grandiosos, parrudos e trevosos Riffs encrostados em fervilhante Fuzz, e desdobra em solos sinuosos, alucinados e vertiginosos, pela volumosa reverberação pesadamente bafejada por um baixo possante, soturno e magnetizante, pela ardente explosividade de uma bateria esporeada a uma enérgica, compacta e entusiasmada ritmicidade, pelos ziguezagueantes, ventosos e esvoaçantes uivos de uma harmónica soprada a espalhafatosa e graciosa vivacidade, e ainda pela pálida luzência de uma voz terrífica, vampírica e avinagrada – a fazer recordar a gélida e cortante acidez de Ozzy Osbourne – que sobrevoa as pardacentas florestas de Void Commander. São 37 minutos atestados de uma afrodisíaca, fumarenta e diabólica negrura que nos faz cair em tentação. Mergulhem num imperturbável estádio de sonambulismo à envolvente e embalante boleia de ‘River Lord’, e comunguem com inesgotável fascinação este rito de culto pagão.

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 Ozium Records
 Majestic Mountain Records

Review: ⚡ Dopelord - 'Reality Dagger' EP (2021) ⚡

★★★★

O intoxicante quarteto polaco Dopelord acaba de lançar o EP ‘Reality Dagger’ através do formato digital e sob a forma física de CD e vinil (este último de prensagem limitada ao stock de 666 cópias existentes) com o carimbo editorial do seu selo discográfico caseiro Green Plague. Mantendo intocável o Ethos que caracteriza toda a vasta discografia da turma sediada na cidade-capital de Varsóvia, este novo registo rosna um fumarento, demoníaco, narcótico e bafiento Stoner-Doom de espessa nebulosidade esverdeada que se enlameia na trevosa liturgia de Black Sabbath e na diabólica radiação de Electric Wizard. A sua sonoridade intrigante, esmagadora, dominadora e impactante arrasta-se pesada e vagarosamente por entre os escombros de uma angustiante, misantrópica e distópica paisagem sobrevoada por uma fantasmagórica névoa perniciosa. De olhar semi-selado, semblante anestesiado, e espírito prostrado somos dissolvidos e soterrados numa abissal, profana e infernal negrura que nos ceifa a lucidez e infesta de uma febril embriaguez. Na composição desta mastodôntica, impiedosa e psicotrópica avalanche sonora, estão duas guitarras profanas que hasteiam carregados, hipnóticos, despóticos e tenebrosos Riffs chamejados a ronronante distorção e untados a oleoso THC, e gritam alucinados, efervescentes, erodentes e endiabrados solos temperados a caótica e penetrante acidez, um umbroso baixo de reverberação pujante, tensa, densa e troante, uma bateria inflamada de ritmicidade reinante, impetuosa, vigorosa e relampejante, e ainda uma voz ecoante, espectral, etérea e cintilante – que pontualmente se enfurece e enlouquece num rugido cavernoso, sangrento, escarpado e gutural – que nos faroliza nas vertiginosas funduras desta intensa e inesgotável escuridão. De destacar ainda os chamativos  artwork e layout fortemente inspirados na terrífica obra cinematográfica de 1977 “Suspiria” (realizada pelo carismático realizador italiano Dario Argento) e de créditos apontados ao ilustrador polaco Paweł "Miodek" Mioduchowski, que trajam e maquilham na perfeição toda esta marcante obra de curta duração mas prolongada ressaca. São 22 minutos fatiados em três temas e integralmente assombrados por uma insondável ambiência de feições vampíricas e apocalípticas que nos profanam a alma e eclipsam a religiosidade. Encarvoem-se na fuliginosa pretura de ‘Reality Dagger’, e comunguem de forma absorvida, submissa e embevecida todo o seu perverso e aliciante ritual de orientação e adoração pagãs. Não vai ser nada fácil quebrar este feitiço.

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 Green Plague

Review: ⚡ Wolves Like Me - 'Who's Afraid?' (2021) ⚡

★★★★

Oficialmente lançado no final do passado mês de Janeiro em formato digital (com a sempre elogiável possibilidade de download gratuito através da sua página de Bandcamp) e ainda numa colorida e ultra-reduzida prensagem em vinil de edição autoral (limitado a apenas 200 cópias físicas disponíveis), ‘Who's Afraid?’ representa o primeiro passo discográfico da jovem – mas muito promissora – banda germânica Wolves Like Me. Enraizado na cidade independente de Mannheim (pertencente ao estado de Baden-Württemberg), este talentoso quarteto norteia a sua primorosa, fresca e cheirosa musicalidade pelos carismáticos territórios do elegante, afrodisíaco e ardente Blues-Rock de forte odor vintage e tingido por um provocante, etéreo e empolgante Psychedelic Rock condimentado a um misticismo de paladar celestial. Das bronzeadas, finas e aveludadas areias de um imenso deserto sépia que se distende até onde a vista pode alcançar, às longínquas fornalhas estelares que chamejam e pulsam nas profundezas do trevoso solo cósmico, somos afunilados e embalados numa embriagada e labiríntica hipnose de afago sensorial e consagração espiritual que nos desmaia as pálpebras, esboça um sorriso no rosto e ricocheteia a cabeça de ombro a ombro. Sob o extasiante feitiço de Wolves Like Me que nos eteriza a mente e climatiza o imaginário, a nossa lucidez é embaciada, diluída e sonegada nesta intensa narcose onde todos os nossos sentidos naufragam. De corpo bamboleante e espírito radiante, somos cortejados por uma guitarra sedutora que se manifesta em Riffs fogosos, movediços e ostentosos de onde florescem solos uivantes, ácidos e delirantes, imanizados por um baixo dançante de linhas empoladas, oleadas e flutuantes, pontapeados por uma bateria absorvente de ritmicidade catalisadora, encantadora e eloquente, nebulizados por um ventoso sintetizador que poliniza e narcotiza toda a esfera do álbum com uma intrigante aura alienígena, e ainda embevecidos por uma voz felina de tez melódica, mélica e levemente rouca que nos crava as suas presas afiadas directamente na jugular. ‘Who's Afraid?’ é um disco que nos prende, inflama e derrama a libido. Um registo conflagrado a febril fascinação que nos deslumbra do primeiro ao último minuto. Intoxiquem-se e prazenteiem-se na estreia inaudita e escultural desta auspiciosa alcateia alemã, e vivenciem com forte apego e obstinada emoção um dos álbuns mais excepcionais descortinados nesta orvalhada madrugada de 2021.

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Review: ⚡ Indica Blues - 'We Are Doomed' (2021) ⚡

★★★★

Com o epicentro localizado na cidade inglesa de Oxford, chegam-nos as impactantes ondas de choque bombeadas pela entusiástica detonação do quarteto Indica Blues, que acaba de nos presentear com o seu segundo álbum designado de ‘We Are Doomed’ e que fora devidamente lançado pela editora discográfica independente APF Records através dos formatos físicos de CD e vinil. Munido de um musculoso, pujante, dançante e fogoso Heavy Rock de aparência Grunge que se enlameia num pantanoso, tóxico, distópico e nebuloso Psychedelic Doom, este segundo registo da turma britânica enverga a ritualística negrura de Black Sabbath, a enigmática diabrura de Electric Wizard, e ainda a sinuosa nervura de Spirit Caravan. A sua sonoridade efervescente, erodente e dominante incendeia-se em possantes, tensas, densas e euforizantes galopadas condimentadas a uma saturação infernal, e – ocasionalmente – esperneia-se em apaziguantes, morfínicas, lisérgicas e embriagantes passagens de refulgência estival. Motorizado por duas guitarras poderosas que se engrandecem em luciféricos, trevosos, gordurosos e mastodônticos Riffs abrasados e distorcidos a espumante efeito Fuzz, de onde são vertidos e uivados solos borbulhantes, ácidos, alucinógenos e ecoantes, rugido por um baixo ronronante de linhas encorpadas, pesadamente bafejadas e magnetizantes, trovejado por uma bateria opulenta de ritmicidade quente, explosiva, altiva e potente, e vocalizado por uma voz cristalina, oleosa, lustrosa e felina, este rumoroso ‘We Are Doomed’ dissemina profecias apocalípticas de orientação niilista. O fantástico, expressivo e bombástico artwork é da inconfundível autoria do talentoso ilustrador sul americano Cristiano Suarez que ilustrara na perfeição toda a ambiência de auto-destruição que oxigena o álbum. São 45 minutos de ofuscante, etéreo e inflamante atordoamento que em nós implode um sensorial abalo sísmico de colossal magnitude. Este é um registo de dimensões hercúleas que nos sobreaquece, ruboriza e estremece do primeiro ao derradeiro tema. Deixem-se esbofetear pela violenta reverberação, embrumar pela fumegante exalação, e carbonizar pela vulcânica ebulição de Indica Blues. Rodem a chave na ignição, cerrem o punho no volante, cravem o olhar determinado no asfalto, engatem a primeira mudança, soltem o pé da embraiagem e acelerem a alta rotação rumo à irreversível perdição.

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