sábado, 24 de abril de 2021

Review: ⚡ Hekate - 'Sermons to the Black Owl' (2021) ⚡

★★★★

Da insuspeita Austrália chega-nos uma das mais ousadas e impactantes surpresas sonoras do ano. ‘Sermons to the Black Owl’ dá nome ao irrepreensível álbum de estreia forjado pelo pujante quarteto Hekate, e que fora lançado na segunda metade do passado mês de Março através da exclusiva forma digital (ainda que com a garantia de uma futura edição em formato físico de vinil pela jovem mão da editora discográfica local Black Farm Records). Consequência de um nebuloso, obscurantista e trevoso ritual onde são esconjurados e conjugados um enlutado, imperioso, intrigante e fibrado Proto-Doom de ameaçadoras feições luciféricas, um musculoso, oleado, flamejado e rumoroso Hard Rock de roupagem setentista, e ainda um glorioso, torneado, serpenteado e majestoso Heavy Blues de sedutora fragância, este primeiro registo da formação australiana impõe-se de faca nos dentes, olhar fulminante e mangas arregaçadas. A sua poderosa sonoridade – que mescla a demoníaca liturgia de Black Sabbath com o tenso negrume de Saint Vitus e a enigmática feitiçaria de Witchcraft – pendula entre alucinadas, eufóricas e destravadas galopadas esporeadas a escaldante ferocidade, e melancólicas, embriagadas e misantrópicas passagens mergulhadas numa abissal obscuridade de beleza outonal. Consumidos nas negras lavaredas de Hekate, somos inflamados e dominados pela urticante, titânica e rangente opulência de duas guitarras predatórias que hasteiam tenebrosos, fumegantes, provocantes e montanhosos Riffs estriados de electrizantes, escorregadios, giratórios e esvoaçantes solos em ciclónica e enlouquecedora debandada, um mastodôntico baixo de reverberação altiva e massiva que bafeja linhas pesadas, umbrosas, polposas e onduladas, uma bateria rutilante, explosiva e faiscante que é vergastada e pregueada a violenta, intensa e desenfreada pujança, e ainda uma voz vampírica de tonalidade intoxicante, perfurante, ácida e fantasmagórica que sobrevoa e assombra toda a atmosfera infernal de ‘Sermons to the Black Owl’. Este é um álbum verdadeiramente avassalador que nos centrifuga os sentidos, atesta de adrenalina e deixa em polvorosa. Uma abrasiva, opressiva e triunfante cavalgada, locomovida a frenética rotação e de consumo impróprio para cardíacos, que nos bombardeia, endoidece e incendeia de fascinada e transbordante excitação. Precipitem-se numa veemente convulsão, incinerem-se numa eruptiva combustão, e deixem-se engolir por este monstruoso furacão tricotado a endorfinas. Um dos registos mais influentes e apoteóticos de 2021 está aqui. Encarvoem-se, demonizem-se e empoderem-se nele.

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