segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Review: ⚡ Brian Ellis - 'Quipu' (2011/2021) ⚡

★★★★

Na celebração do 10º aniversário de ‘Quipu’ – espirituoso álbum a solo do talentoso multi-instrumentista californiano Brian Ellis (Astra, Psicomagia, Brian Ellis Group e Birth) gravado em 2008 e lançado em 2011 – o produtivo selo discográfico peruano Necio Records desenterrara e reanimara este exótico tesouro sonoro, reeditando-o pela primeira vez em formato vinil (através de uma irresistível e ultra-limitada edição em disco duplo, de coloração alaranjada, que caminha a passos largos para o status de raridade). Este sumarento cocktail de ritmo tropical vem aromatizado e açucarado por um aventuroso, magnetizante, provocante e virtuoso Jazz Fusion de ambiência espiritual, um camaleónico, colorido, divertido e caleidoscópico Psychedelic Rock de clima Funky, um sinuoso, experimental, divinal e luxuoso Progressive Rock de sotaque Zeuhl (linguagem musical criada por Christian Vander, baterista e fundador da sui generis banda francesa Magma) e ainda um lenitivo, arejado, espaçado e introspectivo Space Rock salpicado de poeira estelar. A sua sonoridade mística, expressiva, criativa e carnavalesca – norteada por prestigiadas referências como Miles Davis, Herbie Hancock, Frank Zappa, YES, Soft Machine e Mahavishnu Orchestra – recosta o ouvinte num imperturbável estádio de transbordante encantamento que o climatiza e eteriza do primeiro ao derradeiro tema. São 60 minutos de um estonteante safari pelas arborizadas selvas de um infindável Cosmos farolizado por chamejantes pirilampos e pincelado a cores vibrantes. Nesta obra-prima enxertada por variados estilos musicais encontramos todo um indomesticável experimentalismo sónico onde a vívida bizarria electrónica convive de perto com imersivos arranjos melódicos. Contando com o druida Brian Ellis nos comandos de uma guitarra profética que desenha Riffs estivais, hipnóticos, estéticos e cerebrais, e vomita solos ziguezagueantes, alucinados, encaracolados e borbulhantes de intoxicante efervescência, um baixo sombreado de reverberação palpitante, fluída, oleada e aliciante, um trompete esquizofrénico de sopros gritantes, ferozes, velozes e mirabolantes, alienígenas sintetizadores analógicos de enfeitiçante majestosidade celestial e uma voz senhorial que naufraga por entre a agitada ondulação instrumental do último tema em tributo aos supracitados Magma, e o seu sagaz companheiro David Hurley (baterista de Astra) ao serviço de uma jazzística ritmicidade de calor latino, suor afrodisíaco e um pendor tribalista, acrobático, enfático e ritualista, ‘Quipu’ representa todo um complexo puzzle de composições verdadeiramente geniais que nos inundam todos os canais erógenos. De arremessar ainda elogiosas palavras ao artwork de feições mitológicas que é rubricado a duas mãos pela parceria Jessica Planter e Sean Painter. Este é um álbum sublimemente quimérico, fabular e onírico que embala o ouvinte numa etérea viagem a três dimensões. Um registo de contornos épicos, aureolado por um brilho mirífico, de fragância oceânica e natureza xamânica que nos enternece e endoidece sem moderação. Deixem-se glorificar por este transformador ritual de navegação orquestral, e alcancem o tão almejado nirvana sensorial. Este é um disco "perdido" que merece ser encontrado, comungado e consequentemente reverenciado. Percam-se e encontrem-se neste labirinto de afago mental e dilatação consciencial.

Links:
 Bandcamp
 Necio Records

Sem comentários:

Enviar um comentário