Na celebração do 10º
aniversário de ‘Quipu’ – espirituoso álbum a solo do
talentoso multi-instrumentista californiano Brian Ellis (Astra, Psicomagia, Brian Ellis Group e Birth) gravado em 2008
e lançado em 2011 – o produtivo selo discográfico peruano Necio Records desenterrara
e reanimara este exótico tesouro sonoro, reeditando-o pela primeira vez em formato
vinil (através de uma irresistível e ultra-limitada edição em disco duplo, de
coloração alaranjada, que caminha a passos largos para o status de
raridade). Este sumarento cocktail de ritmo tropical vem aromatizado e
açucarado por um aventuroso, magnetizante, provocante e virtuoso Jazz Fusion
de ambiência espiritual, um camaleónico, colorido, divertido e caleidoscópico Psychedelic
Rock de clima Funky, um sinuoso, experimental, divinal e
luxuoso Progressive Rock de sotaque Zeuhl (linguagem
musical criada por Christian Vander, baterista e fundador da sui
generis banda francesa Magma) e ainda um lenitivo, arejado, espaçado
e introspectivo Space Rock salpicado de poeira estelar. A sua sonoridade
mística, expressiva, criativa e carnavalesca – norteada por prestigiadas
referências como Miles Davis, Herbie Hancock, Frank Zappa,
YES, Soft Machine e Mahavishnu Orchestra – recosta o
ouvinte num imperturbável estádio de transbordante encantamento que o climatiza e
eteriza do primeiro ao derradeiro tema. São 60 minutos de um estonteante safari
pelas arborizadas selvas de um infindável Cosmos farolizado por chamejantes
pirilampos e pincelado a cores vibrantes. Nesta obra-prima enxertada por variados estilos musicais encontramos todo um indomesticável experimentalismo sónico onde a vívida bizarria electrónica convive de perto com imersivos arranjos melódicos. Contando com o druida Brian Ellis nos
comandos de uma guitarra profética que desenha Riffs estivais, hipnóticos,
estéticos e cerebrais, e vomita solos ziguezagueantes, alucinados, encaracolados
e borbulhantes de intoxicante efervescência, um baixo sombreado de reverberação
palpitante, fluída, oleada e aliciante, um trompete esquizofrénico de sopros gritantes,
ferozes, velozes e mirabolantes, alienígenas sintetizadores analógicos de enfeitiçante
majestosidade celestial e uma voz senhorial que naufraga por entre a agitada ondulação instrumental
do último tema em tributo aos supracitados Magma, e o seu sagaz companheiro David Hurley (baterista de Astra) ao
serviço de uma jazzística ritmicidade de calor latino, suor afrodisíaco
e um pendor tribalista, acrobático, enfático e ritualista, ‘Quipu’
representa todo um complexo puzzle de composições verdadeiramente geniais
que nos inundam todos os canais erógenos. De arremessar ainda elogiosas palavras
ao artwork de feições mitológicas que é rubricado a duas mãos pela
parceria Jessica Planter e Sean Painter. Este é um álbum
sublimemente quimérico, fabular e onírico que embala o ouvinte numa etérea
viagem a três dimensões. Um registo de contornos épicos, aureolado por um
brilho mirífico, de fragância oceânica e natureza xamânica que nos enternece e endoidece sem moderação. Deixem-se
glorificar por este transformador ritual de navegação orquestral, e alcancem o
tão almejado nirvana sensorial. Este é um disco "perdido" que merece ser
encontrado, comungado e consequentemente reverenciado. Percam-se e encontrem-se neste labirinto de afago mental e dilatação consciencial.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Necio Records
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