Cinco anos
volvidos sobre a sua auspiciosa e impactante estreia discográfica ‘Jungla’
(aqui trazida e imoderadamente elogiada), o electrizante power-trio
espanhol Cachemira ressurge agora de formação metamorfoseada e espírito revigorado
(tendo o baixo e o microfone mudado de mãos) com o seu novíssimo segundo álbum
denominado ‘Ambos Mundos’ e promovido pelo imparável selo editorial
romano Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e digital. E se já
havia ficado conquistado com o seu álbum de estreia, este seu sucessor
provocara em mim todo um abalo sísmico emocional de grande magnitude,
impossível de deter ou dominar. Fervida, ruborescida e apimentada por um fogoso,
sexy e vaidoso Heavy Psych de odor latino e toxicidade fervilhante, e em
perfeita simbiose com um provocante, lubrificado e bailante Heavy Blues
de contagiante balanço Boogie e indiscreta evocação setentista, a
quente, irresistível e excitante sonoridade de ‘Ambos Mundos’
pavoneia-se e incendeia-se numa vulcânica erupção que nos banha e escalda em eufórica
e desenfreada agitação. De influências apontadas a carismáticas
referências do período clássico como Jimi Hendrix, Taste e Pappo’s
Blues, e partilhando o mesmo ADN de outros nomes marcantes da contemporaneidade como Radio
Moscow, Prisma Circus e Siena Root, o enérgico tridente Cachemira
arranca numa enlouquecedora, sónica e desorientadora montanha-russa de espirais
a perder de vista que deixará o ouvinte de mãos nos joelhos, rosto respingado
de suor, sem fôlego e com o motor cardíaco a alta rotação. Colhidos e varridos
por este selvático tornado locomovido a endorfina e testosterona, somos atrelados
a uma ácida guitarra de sotaque Hendrix’eano que se dobra
e desdobra numa imersiva catadupa de exóticos, encaracolados e afrodisíacos Riffs,
e descarrila à caleidoscópica boleia de venenosos, frenéticos e vertiginosos
solos, um baixo palpitante e escultural de linhas musculadas, torneadas e
magnetizantes, uma bateria deliciosamente malabarista de tecnicidade apurada, extravagante
e desembaraçada, e uma voz liderante e encorpada de pele harmoniosa, aveludada
e bronzeada. Num plano secundário (no que ao seu protagonismo diz respeito), perscrutam-se
ainda as ritualistas acrobacias de congas tribais e os imperiosos, pomposos e
esvoaçantes mugidos de um carismático órgão. São 36 minutos governados por uma asfixiante,
abrasiva e estonteante comoção que nos faz resvalar pelas costuras fronteiriças
da insanidade, deixando pra trás qualquer réstia de sobriedade. De destacar ainda
a camaleónica faixa que encerra e dá nome a este sensacional álbum pela sua diferenciação em
relação aos restantes temas, zebrado a colorida tropicalidade psicadélica – sambado
à boa moda de Carlos Santana e Chango –, e a vistosos laivos de
um adornado e bamboleado Flamenco – trajado com rendilhados elementos Progressivos
– na mesma linha estética dos seus velhos compatriotas Vega. Este é um registo picante,
viciante, entusiástico e dançante – raiado e estrelado a expressiva, vibrante e
festiva pirotecnia – que me deixara completamente boquiaberto e desarmado. Um
dos mais sérios candidatos a álbum do ano está aqui, no triunfante e retumbante
regresso de uma das minhas bandas predilectas.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Heavy Psych Sounds
Sem comentários:
Enviar um comentário