segunda-feira, 27 de junho de 2022

Review: 🌪 Cachemira - 'Ambos Mundos' (2022) 🌪

★★★★

Cinco anos volvidos sobre a sua auspiciosa e impactante estreia discográfica ‘Jungla’ (aqui trazida e imoderadamente elogiada), o electrizante power-trio espanhol Cachemira ressurge agora de formação metamorfoseada e espírito revigorado (tendo o baixo e o microfone mudado de mãos) com o seu novíssimo segundo álbum denominado ‘Ambos Mundos’ e promovido pelo imparável selo editorial romano Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e digital. E se já havia ficado conquistado com o seu álbum de estreia, este seu sucessor provocara em mim todo um abalo sísmico emocional de grande magnitude, impossível de deter ou dominar. Fervida, ruborescida e apimentada por um fogoso, sexy e vaidoso Heavy Psych de odor latino e toxicidade fervilhante, e em perfeita simbiose com um provocante, lubrificado e bailante Heavy Blues de contagiante balanço Boogie e indiscreta evocação setentista, a quente, irresistível e excitante sonoridade de ‘Ambos Mundos’ pavoneia-se e incendeia-se numa vulcânica erupção que nos banha e escalda em eufórica e desenfreada agitação. De influências apontadas a carismáticas referências do período clássico como Jimi Hendrix, Taste e Pappo’s Blues, e partilhando o mesmo ADN de outros nomes marcantes da contemporaneidade como Radio Moscow, Prisma Circus e Siena Root, o enérgico tridente Cachemira arranca numa enlouquecedora, sónica e desorientadora montanha-russa de espirais a perder de vista que deixará o ouvinte de mãos nos joelhos, rosto respingado de suor, sem fôlego e com o motor cardíaco a alta rotação. Colhidos e varridos por este selvático tornado locomovido a endorfina e testosterona, somos atrelados a uma ácida guitarra de sotaque Hendrix’eano que se dobra e desdobra numa imersiva catadupa de exóticos, encaracolados e afrodisíacos Riffs, e descarrila à caleidoscópica boleia de venenosos, frenéticos e vertiginosos solos, um baixo palpitante e escultural de linhas musculadas, torneadas e magnetizantes, uma bateria deliciosamente malabarista de tecnicidade apurada, extravagante e desembaraçada, e uma voz liderante e encorpada de pele harmoniosa, aveludada e bronzeada. Num plano secundário (no que ao seu protagonismo diz respeito), perscrutam-se ainda as ritualistas acrobacias de congas tribais e os imperiosos, pomposos e esvoaçantes mugidos de um carismático órgão. São 36 minutos governados por uma asfixiante, abrasiva e estonteante comoção que nos faz resvalar pelas costuras fronteiriças da insanidade, deixando pra trás qualquer réstia de sobriedade. De destacar ainda a camaleónica faixa que encerra e dá nome a este sensacional álbum pela sua diferenciação em relação aos restantes temas, zebrado a colorida tropicalidade psicadélica – sambado à boa moda de Carlos Santana e Chango –, e a vistosos laivos de um adornado e bamboleado Flamenco – trajado com rendilhados elementos Progressivos – na mesma linha estética dos seus velhos compatriotas Vega. Este é um registo picante, viciante, entusiástico e dançante – raiado e estrelado a expressiva, vibrante e festiva pirotecnia – que me deixara completamente boquiaberto e desarmado. Um dos mais sérios candidatos a álbum do ano está aqui, no triunfante e retumbante regresso de uma das minhas bandas predilectas.

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