sexta-feira, 30 de setembro de 2022

🍿 Cinema & TV de Julho, Agosto e Setembro

Detective Diaries S01 (2021) de Jerome Bartlett, Cole Springer & Geoff Todd   ★★★★★
Fear and Loathing in Las Vegas (1998) de Terry Gilliam   ★★★★
Killer in Question S01 (2020) de Joe Carmina   ★★★★
A Fatal Confession: Keith Morrison Investigates (2019) de Azriel Relph   ★★★★★
The Happy Face Killer: Mind of a Monster (2021) de Carl Hindmarch   ★★★☆☆
The Thing (1982) de John Carpenter   ★★★★★
José Afonso: Traz outro Amigo também (2021) de Nuno Galopim & Miguel Pimenta   ★★★★
Mustang (2015) de Deniz Gamze Ergüven   ★★★★
Reprisal! (1956) de George Sherman   ★★★☆☆
3:10 to Yuma (1957) de Delmer Daves   ★★★★★
Comanche Station (1960) de Budd Boetticher   ★★★☆☆
Ted Lasso S02 (2021) de Brendan Hunt, Joe Kelly & Bill Lawrence   ★★★★★
Die Hard (1988) de John McTiernan   ★★★★
Jazzé Duarte (2019) de Jorge Paixão da Costa   ★★★★
Last Night in Soho (2021) de Edgar Wright   ★★★☆☆
The Northman (2022) de Robert Eggers   ★★★★
Better Call Saul S06 (2022) de Vince Gilligan & Peter Gould   ★★★★★
American History X (1998) de Tony Kaye   ★★★★★
Suggia (2018) de Ricardo Espírito Santo   ★★★★
Hannibal (2001) de Ridley Scott   ★★★★
Honeyland (2019) de Tamara Kotevska & Ljubomir Stefanov   ★★★★★
Murders at the Boaring House S01 (2021)   ★★★☆☆
Yellowstone S01 (2018) de Taylor Sheridan & John Linson   ★★★★★
A Nightmare on Elm Street (1984) de Wes Craven   ★★★★
Yellowstone S02 (2020) de Taylor Sheridan & John Linson   ★★★★★
Mary Kay Letourneau: Notes on a Scandal (2022) de Johnny Burke   ★★★★
The Professionals (1966) de Richard Brooks   ★★★★
Yellowstone S03 (2020) de Taylor Sheridan & John Linson   ★★★★★

Review: 🦑 Sula Bassana - 'Nostalgia' (2022) 🦑

★★★★

No 20º aniversário da sua fértil carreira a solo, o multi-instrumentista alemão Sula Bassana (denominação artística de Dave Schmidt) acaba de nos presentear com o lançamento do seu novíssimo álbum intitulado ‘Nostalgia’, lançado hoje mesmo nos formatos LP, CD e digital com o insuspeito carimbo do seu influente selo discográfico autoral Sulatron Records. Alterando as coordenadas que há muito o viajaram para bem longe na insondável intimidade do universo da música electrónica, o cosmonauta germânico aponta agora a sua bússola para outros destinos sonoros. Numa abordagem destemida, aventurosa e descomplexada, Sula Bassana ressuscitara cinco temas construídos e gravados entre 2013 e 2018, dando-lhes uma nova roupagem mais virada para a música Rock. Decantado de um camaleónico sortido sonoro – de géneros tão contrastados e efémeros – onde coabitam um caleidoscópico, exótico e astral Psychedelic Rock inundado em misticismo oriental, um imersivo, ventilado e explorativo Space Rock com vista para as estrelas, um pulsante, baloiçante e hipnótico Krautrock de embalo Drone que nos impulsiona para o lado eclipsado da Lua, um inebriante, expressivo e contagiante Alternative Rock sintonizado a meio caminho entre os velhos The Smashing Pumpkins e Placebo, e ainda um celestial, melancólico e sentimental Shoegaze de indiscretas semelhanças com os britânicos Slowdive, este é muito provavelmente o meu capítulo favorito desta longa travessia pelos desdobráveis domínios criativos de Sula Bassana. Uma transformadora, gratificante e sonhadora odisseia pelo Cosmos sonolento – de climas e paisagens desiguais que florescem no negro solo cósmico – que dissolverá o ouvinte numa inescapável hipnose e o deixará livremente à deriva na vacuidade espacial. Na lista de ingredientes que, em mágica simbiose, formam este combustível de libertação perceptual, perfilam-se uma guitarra airosa de Riffs arenosos e fogosos, e solos gélidos e uivantes, uma voz messiânica de sussurros fantasmagóricos e intrigantes, um baixo aveludado de ondulante, fluída e magnetizante reverberação, uma bateria propulsiva de batimentos constantes, cadenciados e diligentes, uma esfíngica cítara eléctrica de principesca caligrafia hindu, e toda uma parafernália de teclados, imbuídos num desregrado experimentalismo electrónico sem fronteiras que o espartilhem e condimentados a efeitos espaciais, tripulados a leves e soltas harmonias de arquitectura clássica e polposos mugidos tristemente belos. De destacar ainda todo o vistoso esplendor de natureza alienígena que transborda da sublime pintura surrealista (superiormente concebida pelo talentoso pintor francês Hervé Scott Flament), e que confere um inesquecível rosto a esta bonita obra. ‘Nostalgia’ é um álbum oxigenado a um inesgotável sentimento de nostalgia que pendula entre a diáfana luminosidade e a prostrada obscuridade. Um registo de identidade heterogénea que em nós cresce a cada audição que lhe é dedicada.

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Review: ⚰️ Grave Bathers - 'Rock 'N' Roll Fetish' (2022) ⚰️

★★★★

Dois anos volvidos após a apresentação do seu fantástico EP ‘Feathered Serpent / Death Hand’ (aqui escalpelizado e devidamente reverenciado), o irreverente quinteto Grave Bathers sai novamente da catacumba com o seu muitíssimo aguardado álbum de estreia Rock ‘N' Roll Fetish’ debaixo do braço. Lançado pela companhia discográfica Seeing Red Records através dos formatos digital e LP (este último de prensagem bifurcada em duas edições coloridas e ultra-limitadas), o tão ansiado primeiro registo de longa duração da banda fixada na populosa cidade de Filadélfia (Pensilvânia, EUA) vem assombrado por um intrigante, trevoso, monstruoso e atemorizante Proto-Doom de negrura e diabrura Black Sabbath’icas, electrificado por um efervescente, tóxico, vulcânico e erodente Heavy Psych de escaldante acidez vomitada à boa moda de Witch, e dançado por um fumegante, apimentado, lubrificado e provocante Heavy Blues que ricocheteia entre a brilhante tonalidade Led Zeppelin’eana e a musculatura garage de uns Blue Cheer. A sua sonoridade enigmática, draconiana e camaleónica metamorfoseia-se da sangrenta crueza ao ofuscante requinte, da colérica revolta à mais pálida placidez, do mastodôntico peso à mais vaporosa leveza, da melancólica prostração à mais vertiginosa locomoção. ‘Rock ‘N' Roll Fetish’ é uma desvairada, alucinante e endiabrada montanha-russa em forma de pentagrama, carburada a psicótica e escaldante perversão. Emporcalhem-se nas ímpias lavaredas de Grave Bathers à boleia infernal de duas guitarras siamesas, revestidas de maquilhagem gótica e inflamadas em Fuzz crepitoso, que hasteiam bem alto Riffs obsessivos, carnudos, sisudos e invasivos, e redemoinham tremulantes, escorregadios, luzidios e esvoaçantes solos, um baixo inquisidor de bafo hipnótico, tenso, apodrecido e esotérico, uma imperativa bateria escoiceada a um ritmo incisivo, enérgico, bombástico e altivo, e ainda de vampíricos vocais de indiscreta inspiração Alice Cooper e pele cadavérica, bolorenta, enregelada e pervertida. O expressivo artwork que tão bem combina com a pestilenta, vil e gordurenta sonoridade do álbum é da autoria do ilustrador nova-iorquino Benjamin Marra. São 82 minutos inundados de pesada, críptica e ritualística obscuridade – condimentada a paranoia bruxuleante e depravação incessante – que nos assola sem o mais pequeno vestígio de misericórdia. Um dos meus álbuns favoritos do presente ano está aqui, na maléfica e selvática pujança de Grave Bathers. Encarvoem-se e profanem-se nele.

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Review: 🧚‍♀️ Colour Haze - 'Sacred' (2022) 🧚‍♀️

★★★★

Três anos depois de desabrochado o deleitoso ‘We Are’ (álbum que assinalara de forma mais indiscreta a guinada da banda germânica para os adoráveis territórios Progressivos), os já lendários Colour Haze surpreendem agora a sua populosa legião de fiéis seguidores com o lançamento-relâmpago do epopeico ‘Sacred’ pela insuspeita mão da sua editora discográfica pessoal Elektrohasch. Descortinado integralmente no imediato através do formato digital, tendo o lançamento em CD calendarizado para o final do presente mês e uma prensagem em vinil a desenfornar no próximo mês de Outubro, este 14º álbum de estúdio da sobejamente consagrada banda oriunda da cidade de Munique vem perfumado, colorido e ajardinado por um deslumbrante, reconfortante e ensolarado Psychedelic Rock de mãos dadas a um elegante, opulento e dançante Progressive Rock. Inebriados e embalados pela extasiante melosidade que nos assalta os sentidos, vagueamos livremente pelas douradas, aveludadas e infindáveis planícies sonoras – banhadas a uma luzência seráfica – desta inspirada obra. Enriquecido ainda com um envolvente swing de aura jazzística, ‘Sacred’ é um registo erudito que vive de uma imaculada simbiose instrumental que decerto comoverá até o mais apático dos ouvintes. Tricotado por uma endeusada guitarra de faustosa caligrafia arábica – superiormente amestrada – dedilhada a subtileza, sentimento e destreza transbordantes, bafejado por um baixo baloiçante de tonalidade quente e locomoção serpenteante, costurado por uma requintada bateria – soberbamente jazzy – de toque polido, cintilante, preciso e flamejante, magicado pelos teclados oníricos de místicas melodias e mil coros celestiais, e entoado pelos vocais sóbrios, trovadores e senhoriais, ‘Sacred’ assume-se como um álbum verdadeiramente transformador, nirvânico e enternecedor que ricocheteia entre passagens de etérea tranquilidade e outros de redentora efervescência. O majestoso artwork de ambiência mitológica que embeleza mais um triunfante capítulo discográfico de Colour Haze aponta os seus créditos autorais à talentosa ilustradora / tatuadora Sara Koncilja (artisticamente conhecida por Yagasara). São 42 minutos saturados de uma ofuscante imersão que nos embalsama num imperturbável estádio de plena fascinação. Um álbum apurado, delicado e sublime que jamais nos proíbe o sorriso e apaga o brilho no olhar. Mal posso esperar por comungar esta santificada obra de alta-costura composicional ao vivo no próximo dia 28 na cidade do Porto (Hard Club). Canonizem-se nela.

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segunda-feira, 12 de setembro de 2022