Atingida a admirável marca
de 25 anos de uma prolífica e preciosa história, os endeusados Colour Haze acabam
de presentear e deleitar todos os seus numerosos discípulos com o tão aguardado
lançamento de mais um álbum de estúdio, designado ‘We Are’ e devidamente
promovido pela insuspeita editora discográfica germânica Elektrohasch
Schallplatten sob a forma física de CD e vinil. Antes de me alongar na
desconstrução deste novo registo de longa duração, devo confessar que o
primeiro contacto que tivera com este novo trabalho da consagrada formação
sediada na cidade de Munique não fora algo que me enchera as costuras da
gigantesca expectativa a ele previamente dedicada, mas com o acumular de
renovadas audições e redobradas atenções, ‘We Are’ agigantara-se
em mim e adensara-se até tocar as longínquas fronteiras que balizavam a minha
esperança neste disco. Transmutados da sua clássica constituição em forma de power-trio
para um quarteto que agora conta com a perfumada e purificante presença de um
teclista, os renovados e inspirados Colour Haze continuam a reinventar-se
e a aventurar-se por novos horizontes sonoros. Não esquecendo o seu tão requintado,
ostentoso, majestoso e aromatizado Psychedelic Rock de tocante delicadeza
e desarmante destreza que carimba uma grande parte da sua discografia, o agora
quarteto alemão decidira acrescentar à sua apurada, picante e apaladada receita
musical todo um sublimado, cuidado, diáfano e prodigioso Progressive Rock
de fragância revivalista que me maravilhara, conquistara o espírito, e
colocara os ouvidos num pleno estádio de incessante salivação. Alicerçado numa magistral
guitarra – irrepreensivelmente manuseada pelo inimitável Stefan Koglek –
que se bamboleia e formoseia por entre caprichados, maviosos, saborosos e ornamentados
acordes de textura ataráxica e de onde florescem e se envaidecem irretocáveis, formosos,
harmoniosos e inefáveis solos de caleidoscópica beleza, numa voz trovadora, sussurrante
e destemperada – tanto doce como avinagrada – que se entrelaça pelos rebuscados
arranjos instrumentais, num baixo compenetrado e contemplativo que se passeia e
galanteia livremente pelo sinuoso corpo da sua serpenteante, torneada,
sombreada e possante reverberação, num brilhante e envolvente teclado de enternecedora,
mítica e sonhadora atmosfera, e numa arrojada, simétrica e bafejada bateria de charmosa
e audaciosa orientação e precisão jazzísticas que – de toque resplandecente,
macio, leve e quente nos pratos e a trote experimentalista, acrobático e tribalista que se distende da tarola aos timbalões – tiquetaqueia com estupenda ligeireza, sentimento e esperteza
todo este apaixonado álbum de contornos épicos. ‘We Are’ é um álbum piramidal
– arquitectado e executado a uma sublimidade atordoante – que nos encandeia, seduz
e prazenteia do primeiro ao derradeiro tema. Um registo repleto de momentos
rendilhados e condimentados a pura maestria que nos deixam de pupilas dilatadas
e pele arrepiada. Para uma experiência plena, é recomendado que vivenciem múltiplas
vezes esta nova obra de uma banda que há muito dribla com imaculado sucesso a previsibilidade,
e hoje ostenta um invejável grau de superação só ao alcance de uma banda com os
gloriosos predicados de Colour Haze.
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