É justo começar
por referir que Rose City Band é uma das minhas bandas contemporâneas de
eleição. Tropecei no seu homónimo álbum de estreia algures em 2020 e não mais
os perdi de vista no meu radar. Seguiram-se ‘Summerlong’ (review aqui)
e ‘Earth Trip’ (review aqui), e a minha paixão assolapada
por este adorável projecto liderado pelo talentoso multi-instrumentista norte-americano
Ripley Johnson (Wooden Shjips e Moon Duo) crescia com gloriosa
celeridade e ostentava uma vistosa vitalidade que era impossÃvel disfarçar. É
então que no clÃmax desta imoderada devoção, a banda sediada na cidade de Portland
(Oregon) desabrocha o seu quarto trabalho de longa duração ‘Garden
Party’ (oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da insuspeita companhia
discográfica Thrill Jockey através dos formatos LP, CD e mp3), e aqui
estou eu, na ressaca do mesmo, de boca salivante, coração mergulhado num profundo
oceano de mel e olhar cintilante, a tentar traduzir para a forma textual toda a
imersiva satisfação que banhara e bronzeara a minha alma ao longo da sua
audição. Ensolarado por um açucarado, sumarento, ternurento e inebriado Psychedelic
Rock de oceânica fragância West-Coast, e um bucólico, reflexivo,
lenitivo e melancólico Psychedelic Folk de ornamentada moldura Western,
este ataráxico, radiante, deslumbrante e onÃrico ‘Garden Party’ desenrola
no nosso imaginário infindáveis tapetes ajardinados e verdejantes – estriados
por marulhantes riachos de águas frescas e translúcidas – onde se
espreguiçam flores de condimentado aroma primaveril, deambula uma arejada e
revitalizante brisa, e se escuta o harmonioso canto de pássaros esvoaçantes que
cruzam alegremente um cristalino céu azul-turquesa, aureolado por um colorido arco-Ãris e
farolizado por um reluzente e sorridente Sol de bafo morno e ruborizada coloração
crepuscular. Suspirantes, de olhar semi-selado, sorriso desenhado no rosto e alma oxigenada por
uma imperturbável sensação de pleno bem-estar, cavalgamos a passo relaxado
pelas sublimes planÃcies sonoras de ‘Garden Party’ que se estendem até
onde a vista pode alcançar, ao comovente, nirvânico e deslumbrante som de uma voz
delicada, aveludada e lampejante que nos seduz e conduz, uma apaixonante guitarra
de graciosidade ambiental que se meneia em envolventes, bem-dispostos e
contagiantes acordes e ziguezagueia em vagueantes, encaracolados e embriagantes
solos, um baixo pulsante de linhas hipnóticas, swingadas e bailantes, uma agradável
bateria tiquetaqueada a um ritmo constante, sossegado e absorvente, toda uma
mágica profusão de teclados divinais que borrifam este jardim com coros e
poeiras celestiais, e ainda um uivante pedal-steel de arrepiantes, orgásmicos
e desarmantes serpenteios que nos fazem estremecer e derreter o coração. Este é
um álbum verdadeiramente preclaro que encerra uma frágil e doce nostalgia. Um
registo de clima veraneio que nos adormece e estarrece num demorado desmaio de inefável
prazer. Um reconfortante paraÃso onde os nossos sentidos se regozijam e o nosso
espÃrito se acomoda sem a mais pequena vontade dele regressar. Ancorem-se nele.
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