sexta-feira, 21 de abril de 2023

Review: 🌈 Rose City Band - 'Garden Party' (2023) 🌈

★★★★

É justo começar por referir que Rose City Band é uma das minhas bandas contemporâneas de eleição. Tropecei no seu homónimo álbum de estreia algures em 2020 e não mais os perdi de vista no meu radar. Seguiram-se ‘Summerlong’ (review aqui) e ‘Earth Trip’ (review aqui), e a minha paixão assolapada por este adorável projecto liderado pelo talentoso multi-instrumentista norte-americano Ripley Johnson (Wooden Shjips e Moon Duo) crescia com gloriosa celeridade e ostentava uma vistosa vitalidade que era impossível disfarçar. É então que no clímax desta imoderada devoção, a banda sediada na cidade de Portland (Oregon) desabrocha o seu quarto trabalho de longa duração ‘Garden Party’ (oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da insuspeita companhia discográfica Thrill Jockey através dos formatos LP, CD e mp3), e aqui estou eu, na ressaca do mesmo, de boca salivante, coração mergulhado num profundo oceano de mel e olhar cintilante, a tentar traduzir para a forma textual toda a imersiva satisfação que banhara e bronzeara a minha alma ao longo da sua audição. Ensolarado por um açucarado, sumarento, ternurento e inebriado Psychedelic Rock de oceânica fragância West-Coast, e um bucólico, reflexivo, lenitivo e melancólico Psychedelic Folk de ornamentada moldura Western, este ataráxico, radiante, deslumbrante e onírico ‘Garden Party’ desenrola no nosso imaginário infindáveis tapetes ajardinados e verdejantes – estriados por marulhantes riachos de águas frescas e translúcidas – onde se espreguiçam flores de condimentado aroma primaveril, deambula uma arejada e revitalizante brisa, e se escuta o harmonioso canto de pássaros esvoaçantes que cruzam alegremente um cristalino céu azul-turquesa, aureolado por um colorido arco-íris e farolizado por um reluzente e sorridente Sol de bafo morno e ruborizada coloração crepuscular. Suspirantes, de olhar semi-selado, sorriso desenhado no rosto e alma oxigenada por uma imperturbável sensação de pleno bem-estar, cavalgamos a passo relaxado pelas sublimes planícies sonoras de ‘Garden Party’ que se estendem até onde a vista pode alcançar, ao comovente, nirvânico e deslumbrante som de uma voz delicada, aveludada e lampejante que nos seduz e conduz, uma apaixonante guitarra de graciosidade ambiental que se meneia em envolventes, bem-dispostos e contagiantes acordes e ziguezagueia em vagueantes, encaracolados e embriagantes solos, um baixo pulsante de linhas hipnóticas, swingadas e bailantes, uma agradável bateria tiquetaqueada a um ritmo constante, sossegado e absorvente, toda uma mágica profusão de teclados divinais que borrifam este jardim com coros e poeiras celestiais, e ainda um uivante pedal-steel de arrepiantes, orgásmicos e desarmantes serpenteios que nos fazem estremecer e derreter o coração. Este é um álbum verdadeiramente preclaro que encerra uma frágil e doce nostalgia. Um registo de clima veraneio que nos adormece e estarrece num demorado desmaio de inefável prazer. Um reconfortante paraíso onde os nossos sentidos se regozijam e o nosso espírito se acomoda sem a mais pequena vontade dele regressar. Ancorem-se nele.

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