É
ainda de lucidez sonegada, sentidos aturdidos e alma massajada pela ataraxia
que vos escrevo estas apaixonadas palavras dedicadas ao segundo e novo álbum a
solo (ainda que o mesmo conte com John Jeffrey de baquetas empunhadas ao
serviço da bateria) do talentoso multi-instrumentista americano Ripley Johnson
(Wooden Shjips e Moon Duo). Oficialmente lançado no passado mês
de Maio sob a forma digital através da sua página de Bandcamp oficial e
com o lançamento dos formatos físicos de vinil e CD agendado para meados de
Julho pela mão da produtiva discográfica nova-iorquina Thrill Jockey,
este ‘Summerlong’ presenteia e prazenteia o ouvinte com um
frutado, saboroso e adocicado cocktail sonoro de onde espontaneamente se
reconhece e apalada um solarengo, veraneio, sumarento e deslumbrante Psychedelic
Rock de clima West Coast, roupagem vintage e bússola
apontada a clássicas referências do género como Grateful Dead, Creedence
Clearwater Revival e Relatively Clean Rivers, um bucólico,
envolvente, eloquente e melancólico Folk de desarmante maviosidade, um magnetizante,
imersivo, meditativo e dançante Krautrock de cadências repetitivas, e
ainda um arejado, desértico, profético e embriagado Country Rock de carismática
ambiência Western. Todos estes ingredientes mexidos e combinados
resultam num viciante néctar musical de fácil digestão e pronta fascinação. A
sua sonoridade verdadeiramente relaxante, bem-disposta, agradável e contagiante
passeia-se livremente pelas verdejantes, floreadas, aromatizadas e refrescantes
planícies que se esperneiam na direcção de um bocejante Sol de radiância
crepuscular. Reconfortados, bronzeados e embriagados pela edénica beatitude
resplandecida por uma guitarra divinal que se manifesta em acordes enternecedores,
delicados, arrebatados e sonhadores de onde desabrocham e se serpenteiam solos purificantes,
ácidos, letárgicos e ecoantes, pela enfeitiçante ritmicidade firmemente tiquetaqueada
por uma bateria minimalista de galope absorvente, pela magia empoeirada, disseminada
e farolizada por um fantástico sintetizador de experimentais efeitos celestiais,
pelos arrepiantes, etéreos, eróticos e apaixonantes arranjos uivados por um poético
pedal Steel, pela reverberação flutuante um atraente baixo embalado a
linhas murmurantes, sombreadas, fluidas e ondeantes, e pela ternurenta
lubricidade destilada de uma voz açucarada, suavizante, afagante e aveludada,
somos canalizados pelas nirvânicas artérias de ‘Summerlong’ e
desaguados nas idílicas praias ofuscadas pelo transe espiritual. De
estender ainda a dissertação elogiosa ao sublime artwork de créditos
apontados ao habilidoso ilustrador texano Jaime Zuverza que emoldura na
perfeição toda esta paradisíaca obra de Rose City Band. Este é um álbum
integralmente oxigenado, nutrido e condimentado a um anestésico deslumbramento e uma arrebatadora
melosidade de consumo impróprio para diabéticos. Eis a banda-sonora perfeita para o Verão que se avizinha. Deixem-se polinizar pela
comovente musicalidade irrepreensivelmente tricotada e norteada por Ripley Johnson,
e embarcar num dos mais feéricos sonhos acordados das vossas vidas.
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