Na primavera
de 2020 escrevia aqui apaixonadas palavras sobre o irretocável EP de estreia dos
germânicos Lucid Void, premiando-o posteriormente com o título de melhor
registo de curta duração desse mesmo ano (listagem aqui), e hoje
regresso à etérea órbita deste talentoso quarteto à fascinante boleia do seu
muitíssimo aguardado álbum de estreia. De designação homónima e lançado através
dos formatos LP, CD e digital com o carimbo editorial da jovem alemã Sound of
Liberation Records, esta sublime obra não só não defraudara as minhas
mastodônticas expectativas a ele dedicadas, como as superara de uma forma
avassaladora. Combinando um florido, odoroso, radioso e sublimado Psychedelic
Rock sintonizado na mesma frequência de bandas como Causa Sui, Papir
e Kanaan, e um serpenteante, esponjoso, oleoso e magnetizante Krautrock
pulsado ao absorvente e propulsivo ritmo dos seus históricos compatriotas NEU!, Can
e Agitation Free, este primeiro álbum da formação localizada na
cidade de Darmstadt causara e perpetuara em mim todo um inabalável estádio de
resplandecente deslumbramento que me cegara e deliciara do primeiro ao
derradeiro tema. De fascinação atrelada à sorridente, enternecedora, emancipadora
e iridescente sonoridade instrumental de ‘Lucid Void’, somos passeados por
verdejantes planícies, oxigenadas pela fresca brisa que vagueia livremente e banhadas
pelo reluzente Sol crepuscular de bafo morno. Uma imersão cósmica de mentes
viajantes e corpos bailantes, driblando os abraços gravitacionais dos solitários
astros que se vão desenterrando e revelando no desdobrável firmamento do negro
solo sideral. Deixem-se guiar, bronzear e embalar nesta ataráxica vertigem de clima tropical onde
se envaidece uma exótica guitarra de imersivos, deleitosos, contemplativos e formosos
acordes e solos estonteantes, encaracolados, vítreos e inebriantes, bamboleia um
baixo murmurante de linhas quentes, polposas, fibrosas e pululantes, se
empoeira numa infindável multiplicidade de cor um quimérico, mavioso e estético
teclado de obcecantes bailados e onde mil coros celestiais dão à costa, e galopa
a hipnótico ritmo Motorik uma bateria de brilhante polimento jazzístico
que tiquetaqueia com cativante, acrobático e desarmante requinte toda esta edénica
passeata farolizada à amarelecida luz das estrelas. Este é um álbum paradisíaco.
Um registo ventilado a meditativa ataraxia que nos aureola com um vistoso arco-íris
de caleidoscópicas visões e vibrantes sensações. ‘Lucid Void’ é o disco
perfeito para emoldurar e eternizar o místico pôr-do-Sol. Deixem-se embevecer e
anoitecer neste endeusado sonho acordado, e vivenciem – de corpo repousado, sentidos entorpecidos
e espírito relaxado – todo o reparador, mágico e seráfico esplendor de uma autêntica obra lapidar que toca as fronteiras
da perfeição.
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