segunda-feira, 1 de junho de 2020

Review: ⚡ Lucid Void - 'SAAT' EP (2020) ⚡

Do centro da Alemanha – mais precisamente da cidade de Darmstadt – chega-nos o aroma frutado, quente e adocicado de um dos mais deliciosos EP’s brotados até ao momento em 2020. Denominado de ‘SAAT’ e muito recentemente lançado em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial, bem como sob a forma física de vinil (dividido em variadas edições de desiguais colorações) pela mão da ainda inexpressiva editora discográfica local Fat & Holy Records, este maravilhoso e caprichoso EP de estreia – sublimemente elaborado pelo jovem quarteto germânico Lucid Void – vem ensolarado, massajado e velejado por um tropical, sidérico, edénico e pastoral Psychedelic Rock de afável frescura West Coast que se dissolve num magnetizante, contemplativo, lenitivo e deslumbrante Krautrock de âncoras repousadas nos seus carismáticos conterrâneos CAN. A sua sonoridade fluidamente embriagante, mélica, balsâmica e purificante – de indiscretas e aventurosas incursões ao imersivo, caleidoscópico, inventivo e exótico psicadelismo de clima veraneio soberbamente transudado pelos dinamarqueses Causa Sui, e pelos clássicos britânicos Nektar – distende-se relaxada e alegremente pelos 24 minutos que balizam todo este verdadeiro oásis espiritual. De olhar semi-selado, narinas dilatadas, sorriso perpetuado no rosto e alma profundamente arrebatada, somos navegados e farolizados pelo afrodisíaco misticismo de Lucid Void, e desaguados nas nirvânicas praias de um imperturbável estádio de perfeito bem-estar. ‘SAAT’ é um envolvente e comovente registo de beleza oceânica que nos bronzeia, eteriza e prazenteia do primeiro ao derradeiro tema. Uma febril hipnose de mitigação sensorial que em nós instaura uma inamovível sensação de plena ataraxia capaz de nos entorpecer a lucidez e atestar de embriaguez. Deixem-se transcender e extasiar à maviosa boleia de uma guitarra alucinógena que se manifesta em relaxados, radiosos, bonançosos e arrebatados acordes de onde florescem lisérgicos, ácidos, delirados e proféticos solos, um hipnótico baixo de ondulada, densa, descontraída e sombreada reverberação, um majestoso teclado de melodiosos, refrescantes, esvoaçantes e odorosos bailados, e uma bateria de sensibilidade jazzística que com seu toque espirituoso, luzidio, delicado e caloroso tiquetaqueia e capitaneia todo este paradísico sonho acordado. Deliciem-se neste inefável néctar de ingestão auditiva e experienciem toda a mágica magnificência extraída de um EP com legítimas aspirações de se posicionar por entre os mais elogiados e premiados registos do ano. Não vai ser nada fácil despertar desta onírica utopia pincelada e aureolada a beatitude, e aceitar o desconfortável silêncio que se lhe segue.

Sem comentários: