Depois da
estreia ‘Ano Luz’ (aqui descrita) e do imersivo ‘Sinking
Creation’ (aqui descrito), os bracarenses Travo estão de
regresso com o seu novíssimo álbum denominado ‘Astromorph
God’ e editado através da coligação ibérica entre a portuguesa Gig.Rocks
e a espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital. Baseada num
electrizante cocktail que combina um eruptivo, flamejante, efervescente e
eruptivo Heavy Psych de irreverente atitude Garage com um
propulsivo, vertiginoso, aparatoso e incisivo Space Rock de alta tensão,
a camaleónica, criativa e ciclónica sonoridade de ‘Astromorph God’ ziguezagueia
pelos serpenteios enleantes dos norte-americanos Elder, é varrida pelas
rajadas psicotrópicas dos franceses SLIFT e contagiada pelo ecletismo
sónico dos australianos King Gizzard & the Lizard Wizard. Contando
ainda com discretos laivos de Rock Progressivo, este terceiro registo do
quarteto português tanto banha e euforiza o ouvinte num fumegante vulcão em constante
erupção, como o narcotiza e deixa à deriva na perpétua vacuidade cósmica. De
dentes cravados no lábio inferior, coração galopante, olhar fulminante e cabeça
furiosamente rodopiante embalamos na enlouquecedora vertigem espacial de Travo
que nos dispara numa redentora eclosão sensorial. Uma injecção de pura
adrenalina que nos satura de ebulição e arremessa a alta rotação pelas
autoestradas do território alienígena. Uma atordoante, ofuscante e iridescente pirotecnia
onde orbitam duas guitarras intoxicantes que manobram riffs infecciosos, fogosos
e caleidoscópicos, e vomitam solos centrifugantes, ácidos e gritantes, um baixo
elástico de reverberação escaldante, espessa e ondeante, uma bateria sísmica de
ritmicidade bombástica, enfática e alucinante, um sintetizador de enfeitiçantes
sirenes cósmicos, e vocais avinagrados, diabrinos e espectrais que pendulam
entre níveos murmúrios siderais e coléricos rugidos infernais. A ilustração que
confere um rosto robótico a esta arrasadora bomba de endorfinas – a fazer lembrar a sui
generis e inventiva arte do helvético H. R. Giger – aponta os
respectivos créditos autorais ao artista de rua portuense IMUNE. São 43
minutos transpirados e cadenciados a uma desenfreada correria. ‘Astromorph God’ é um grito implosivo que se
propaga até às costuras fronteiriças do Cosmos interior. Psicadelismo de alta voltagem
e em curto-circuito que põe à prova a resistência dos alicerces da nossa sanidade mental. Regressamos
de ‘Astromorph God’ sem fôlego, de rastos e derrotados pela incontida descarga
de energia que o mesmo liberta sem dó nem piedade. Um dos mais sérios
candidatos a melhor álbum português do ano está aqui. Electrifiquem-se nele.
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