segunda-feira, 3 de junho de 2024

Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part I' (2024) 🔮

★★★★

Depois de farolizado e ofuscado pela sagrada luminosidade irradiada pelo seu edénico álbum de estreia (aqui descrito e imoderadamente elogiado) florescido na primavera de 2020, os catalães Magick Brother & Mystic Sister regressam agora com o lançamento – pela mão da companhia discográfica grega Sound Effect Records nos formatos LP, CD (estes, entretanto, já esgotados) e digital – da tão aguardada primeira de duas partes de uma enigmática e enfeitiçante sessão de cartomancia sublimemente musicada. Abraçados pela negrura cósmica, magnetizados pelo olhar incisivo de uma feiticeira, e sentados à mesa onde é aberto, em forma de leque, um baralho tarot, vislumbramos, de sentidos vivazes e despertos, o nosso passado, presente e futuro em cada uma das cartas que se vai revelando à nossa frente. Mergulhados na profunda introspecção e absorvidos pela esponjosa fascinação, comungamos todo o formoso, profético e miraculoso misticismo de ‘TAROT part I’ de velas içadas e sopradas ao sabor dos suaves ventos suspirados por um multicolorido caleidoscópio de fragâncias sonoras, onde flutuam de mãos dadas um lisérgico, alucinógeno e esotérico Neo-Psychedelic Rock de essência trazida dos 60’s e com um discreto corante Pop, um outonal, fabular e pastoral Folk de adornada moldura medieval, um deslumbrante, onírico e apaixonante Progressive Rock de afável clima Canterbury’esco, e ainda um cerimonial, alienígena e ambiental Cosmic Jazz de feitiçaria electrónica que nos arremessa para os confins do Cosmos. Com inspirações colhidas de clássicas referências como Gong, Pink Floyd (era Syd Barrett), Ash Ra Tempel (assim como da obra a solo de Manuel Göttsching), The Zodiac, Ultimate Spinach, Nektar, Daevid Allen, Steve Hillage e Pierre Moerlin, a divinal, seráfica, mágica e sacramental musicalidade de Magick Brother & Mystic Sister tem um efeito calmante, reparador, emancipador e purificante que nos relaxa o corpo, massaja a alma e estimula a espiritualidade. Mumificados pelas teias do misticismo, vogamos pelo acetinado manto da noite astral com o destino das nossas vidas nas mãos do oráculo. Uma nirvânica transcendência na endeusada companhia de sublimados teclados que mugem intrigantes sirenes cósmicos e desdobram mágicos, tocantes e apaixonantes bailados, uma bateria deliciosamente jazzística de ritmos orientais, atraentes, quentes e tribais, um baixo contemplativo de linhas sombreadas, leves e onduladas, uma guitarra uivante, poética e sidérica, uma flauta fabular de sopros frescos, romanescos e aveludados, uma messiânica sitar de imersivos, magnetizantes e enleantes serpenteios que nos alinham os chakras, e vocais etéreos, límpidos, ecoantes e angelicais que nos banham e envolvem de luz e paz. ‘TAROT part I’ é um álbum conceptual, superiormente orquestrado a leveza, subtileza e fina sensibilidade. Uma obra verdadeiramente bela e inspiradora, incensada por poeiras estelares, que nos faz sorrir e revirar o olhar na direcção do universo onírico. No final destes 42 minutos de terapêutica hipnose, reina o silêncio que nos devolve a lucidez, a capacidade de respirar e pestanejar, e intensifica em nós um apetite voraz pela segunda parte deste ritual. Percam-se e encontrem-se, aventurem-se e desventurem-se neste paraíso fantasista – brilhantemente pensado e edificado pelos Magick Brother & Mystic Sister – e vivenciem um dos mais maviosos álbuns do ano.

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