terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Review: 🐙 Heavy Trip - 'Liquid Planet' (2024) 🐙

★★★★

Em 2020 sofria um impiedoso knockout disferido pelo vibrante power-trio canadiano Heavy Trip – que surpreendia o meu mundo com o lançamento do seu impactante álbum de estreia (review aqui) – e agora esta enérgica formação com residência na cidade de Vancouver está de regresso com uma imponente tempestade cósmica que destrona o seu antecessor, denominada ‘Liquid Planet’ e que poderá ser testemunhada através dos formatos LP e digital. Electrificada por um enfeitiçante, frenético, sónico e alucinante Heavy Psych capaz de nos desaparafusar a cabeça do tronco, que se robustece num musculoso, fogoso, impressionante e poderoso Heavy Rock de pesadas ressonâncias setentistas, e obscurece num rugoso, implacável, dominante e montanhoso Proto-Doom de narinas fumegantes, a euforizante, convulsiva, altiva e intoxicante sonoridade deste segundo álbum de Heavy Trip colhe influências de bandas como Sleep, Earthless, Acid King, Blown Out, RYTE, Domadora, Mammatus, Petyr e Tia Carrera. Uma buliçosa efervescência de flamejante adrenalina que nos escalda, endoidece e dispara na estonteante vertigem astral. São 40 minutos de um saturado delírio que nos rasga as vestes da lucidez e contagia de extasiante embriaguez. Um descontrolado cometa em chamas que percorre as veias da nossa espiritualidade e em nós provoca um intenso sismo emocional. Recostem-se confortavelmente, respirem fundo, fechem os olhos e sintam-se eclodir a toda a velocidade pelos inexplorados territórios alienígenas à irresistível boleia de uma guitarra escandalosamente assombrosa – condimentada por uma distorção abrasiva e exorcizada a um diabólico e desarmante virtuosismo que faria o próprio Jimi Hendrix salivar – que hasteia mastodônticos, caravânicos, ciclónicos e resinosos riffs de calor vulcânico e forte odor canábico, e desprende todo um psicotrópico e caleidoscópico vendaval de ácidos, venenosos, vertiginosos e orgásmicos solos capazes de nos causar um relampejante curto-circuito cerebral, de um baixo motorizado que se contorce e distende em linhas bailantes, elásticas, hipnóticas e possantes, e de uma bombástica bateria metralhada a ritmos propulsivos, eruptivos, incisivos e retumbantes. O fantástico artwork – que confere rosto a esta violenta turbulência psicotrópica – aponta os seus créditos de autor ao inconfundível e mítico ilustrador Arik Roper. Deixem-se esporear, sacudir, afoguear e desvairar ao provocante, frenético, afrodisíaco e viciante som de Heavy Trip, e alcancem o seu final com as mãos apoiadas nos joelhos, extenuados, ofegantes, de cabeças rodopiantes e corpos manchados de fuligem celestial. ‘Liquid Planet’ é um portentoso álbum de contornos épicos capaz de acordar vulcões, erguer tsunamis, soltar avalanches e centrifugar furacões. Um registo titânico – de instrumentos em alucinada e desenfreada debandada – que nos atropela e excita sem qualquer moderação. Na brumosa ressaca desta experiência sobre-humana perscruto uma longínqua voz interior que me diz tratar-se mesmo do melhor álbum ano, e, muito dificilmente, não o será.

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