Já seria de esperar um concerto
visceral destes mamutes setentistas, mas o que o público acabou por presenciar
foi algo que transcendeu qualquer sinónimo qualitativo de sublime. Estavam reunidos
e temperados todos os ingredientes para que aquele fosse um concerto tremendo e
assim foi. Kadavar foi uma perfeita e ofegante cavalgada que fustigou toda uma
plateia em constante êxtase. Os seus riffs robustos e entusiasmantes esbarravam
violentamente nos nossos corações e as contracções prazerosas eram os efeitos imediatos desta intensa radiação. Sempre que cerrava os olhos, sentia-me desfalecer abraçado pelo devaneio, e só o
forte vento se adjectivava revitalizante e bússola da crua consciência. Todos os
corpos ali presentes pendiam ao ritmo do possante baixo rickenbacker que
descarregava verdadeiras substâncias psicotrópicas na atmosfera. Todas as
cabeças dançavam numa constante dança em forma de espiral com a hipnótica, incomportável
e delirante guitarra que nos fazia levitar universo adentro. Todas as estradas do
nosso ser eram desobstruídas para que aquela voz petrificante pudesse ecoar e
nelas fazer germinar a primavera do bem-estar. Todos os pés batiam e tentavam
acompanhar a incansável bateria que pautava toda esta autêntica detonação emocional.
Os meus músculos faciais estavam completamente anestesiados e a minha vontade
totalmente entregue a este trio germânico. O meu coração fora amortalhado pela
sonoridade sideral de kadavar e levado para bem longe de mim. Não desejei estar
em mais lado algum que não ali, onde o paraíso foi o chão pisado e a beleza o
único ar respirável. Foi um dos concertos da minha vida e a ressaca deste ainda hoje perdura.
Até para o ano Sonic Blast. Deixo-te com a certeza de que és o meu festival português de eleição.
Que lindo texto! Identifico-me, sem dúvida! Dos melhores concertos a que já tive o prazer e a sorte de assistir. Que energia! Os vocais é que estavam muito baixinhos e com o pessoal todo a cantar o Lindermann mal se ouvia :p Mas foi lindo.
ResponderEliminarEstá a tornar-se o meu festival português preferido. E incrivelmente acessív€l.
Até para o ano!
Obrigado, xanaG! Temos opiniões consensuais, portanto! A força do vento também não ajudou muito. Pois é, ainda é um festival muito acessível (tendo em conta o calibre do cartaz).
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