Num prolongado suspiro de cansaço,
recostamo-nos às tendas já montadas. Quando a fadiga pareceu dissolver-se,
enchemos os copos de tequila e brindámos aquele momento. O sol esbarrava
naquele parque de campismo com enorme timidez e o forte vento do final da tarde
dançava violentamente com as tendas testando a resistência das suas fundações.
Gargalhadas, gritos entusiásticos e vozes estridentes eram levados até nós
através das ramificações ventosas. O sotaque nortenho e o idioma espanhol
ganhavam clara evidência. Já poucas extensões daquele parque esperavam proprietário,
o que causava alguma hesitação e desorientação àqueles que chegavam de tenda em
punho e mochila às costas. Começava a pairar uma harmonia homogénia. Alguns
grupos dedilhavam pausados acordes nas guitarras acústicas (o verdadeiro
flagelo para quem quer dormir), outros apenas bebiam cerveja e conversavam atropelando-se
mutuamente. Depois de bebidas algumas tequilas e cervejas, caminhámos até ao paredão
beijado pelas ondas do mar. Os nossos estômagos estremeciam de fome e resolvemos
jantar por ali num restaurante junto à praia. Já a noite estendera o seu manto
negro quando regressámos aos nossos aposentos. O ambiente estava ainda mais
festivo e consequentemente audível. As pessoas erguiam os copos ao alto e entregavam
o comando dos seus comportamentos a um Baco cada vez mais autoritário. Algumas
vozes dissonantes cantarolavam, temporizando a chegada do sono. O vento da
noite estava ainda mais furioso, fazendo estremecer todo o parque e arrepiar
quem ainda vestisse roupas alusivas ao verão. Mas nem esse frio desagradável
demoveu as pessoas dos seus “quintais”. Foi uma longa noite acordada de inteligível
convívio. Já dentro da tenda podia ouvir-se com distinção os mais longínquos e
secretos desabafos, as mais acesas e exaltadas discussões e os mais soturnos
monólogos. E foi ainda no âmago desta profusão emocionalmente embriagada que
adormeci deixando para trás um dia prazerosamente extenuante.
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