sábado, 1 de outubro de 2022

Review: 🌠 Colour Haze @ Hard Club (Porto) 🌠

Esta seria a minha quinta experiência de Colour Haze ao vivo, mas tudo em mim se comportava como se da primeira vez tratasse. O histórico e remodelado quarteto germânico (depois do baixo ter trocado de mãos) estava de visita a Portugal pela terceira vez (todas elas com o carimbo da promotora Garboyl Lives), e a presente ocasião era essencialmente motivada pela apresentação da sua recentíssima obra ‘Sacred’ (aqui devidamente aclamada). E foi justamente com esse seu 14º álbum de estúdio que a banda principiara uma arrebatadora performance que nos rebaixaria as pálpebras, esculpiria o sorriso no rosto, baloiçaria o corpo e inundaria as zonas mais erógenas do nosso cérebro durante 120 minutos. Embalado num deleitoso, arejado, condimentado e majestoso Psychedelic Rock com vista para a colorida aurora boreal, e num pomposo, ondulante, glorioso e levitante Progressive Rock de aura espacial, o público – que acorrera em grande número à sala 2 do Hard Club (na cidade do Porto) – conquistado aos primeiros acordes, alcançava o tão almejado nirvana. De sentidos incensados por uma doce embriaguez, serpenteámos os nossos corpos à irresistível e ofuscante boleia da sumptuosa guitarra – superiormente manejada pelo virtuoso Stefan Koglek, esse encantador de plateias – que florescia delicados, precisos e refinados acordes de tonalidade quente, amarelecida e aveludada, da expressiva, audaz e incisiva bateria – domesticada de forma irrepreensível pelo notável Manfred Merwald – que nos brindara e empolgara com admiráveis acrobacias jazzísticas por entre o fogoso e esplendoroso brilho dos pratos e o aparatoso e rumoroso galope tribalístico dos timbalões, um pulsante, sombreado e diligente baixo de linhas desenhadas a negrito – firmemente empunhado pelo novato da banda Mario Oberpucher – que sublinhava e escoltava de perto todas as evasões da guitarra, dos oníricos teclados – caprichosamente magicados pelo Jan Faszbender – que nos borrifavam de poeira estelar com os seus polposos mugidos e ventos cósmicos, e da voz sóbria, melódica e profética – entoada pelo trovador Stefan Koglek – que passeava pelas avenidas ajardinadas da edénica, estética e melíflua musicalidade de Colour Haze. Fora do palco vivia-se um imperturbável estádio de transe espiritual, transversal a todos os seus discípulos ali presentes, e temas como “Aquamaria”, “Skydancer”, “The Real” e “Transformation” recebiam da plateia as mais extravagantes e entusiastas reacções. Nas costas da banda centrifugavam-se imersivas e labirínticas projecções visuais de caleidoscópica pirotecnia explodida a texturas psicadélicas que nos afunilavam numa extasiante e inescapável hipnose. Os ponteiros do relógio corriam a passo largo e ninguém dava por isso. O foco e o fascínio eram totais na admirável alquimia que os Colour Haze cozinhavam em palco, e foi com moderado desgosto que vimos a banda saudar o público e virar costas a este (moderado, pois, a julgar pela brevidade da tímida despedida, já se adivinhava um encore com o seu inevitável hino “Love”). E assim foi. Nem dois passos os alemães deram fora do palco que logo regressaram ao sítio onde haviam sido tão felizes durante hora e meia, para serem novamente soterrados numa monolítica avalanche de ruidosos aplausos e encorajantes clamores. Assim que a palheta embatera nas grossas cordas do baixo, depressa se reconheceu o tema que se seguia: “Tempel”. De cabeças rodopiantes, corpos vacilantes e acalorados por um transbordante estado de destravada excitação, vagueamos pelos diferentes climas desse apaixonante tema, para logo de seguida os nossos corações amolecerem ao tão ansiado som da mélica e comovente “Love” a encerrar uma performance verdadeiramente epopeica. Debaixo dos ensurdecedores aplausos, o Stefan Koglek selara a promessa de um regresso a Portugal já no próximo ano, o que catapultara o mercúrio para o píncaro do termómetro que media a escala da nossa satisfação. Não foi fácil aceitar que o concerto havia terminado e digerir o desconfortável silêncio que se seguira, deixando a nu o quão rendidos e embriagados estávamos. Colour Haze tem esse dom. Subimos aos céus e por lá ficámos.

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