quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Review: 🦉 Sublunar Express - 'Peeling the Horizon' (2024) 🦉

★★★★

Cinco anos após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e examinado), o trio canadiano Sublunar Express – natural da cidade de Montreal (no Québec) – apresenta agora o tão aguardado sucessor intitulado ‘Peeling the Horizon’ e editado através dos formatos LP (disponível em ultra-limitadas edições matizadas a estonteante combustão de caleidoscópica coloração pela mão da californiana Wet Records), CD (numa apelativa edição autoral) e digital. Com a fornalha repleta de carvão incandescente, chaminé fumegada a intensa pretura e as janelas levemente embaciadas, este comboio locomovido a vapor continua a sua musicada jornada pelos confins da enigmática noite nevada que nunca se entrega à luz do dia. Numa admirável viagem explorativa pelos encantados universos de um fantástico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock a fazer recordar os americanos Giant Squid, um intrigante, esponjoso, umbroso e arrogante Post-Punk que homenageia os seminais Joy Division, um musculado, reptiliano, ousado e provocante Proto-Punk na senda dos incendiários The Stooges, e ainda de um anestésico, melancólico, embrumado e onírico Shoegaze de húmidos ecos Slowdive’anos, este camaleónico, misterioso, inusitado e exótico ‘Peeling the Horizon’ desdobra no imaginário do ouvinte toda uma paisagem apocalíptica oxigenada a insanidade, luto, descrença e desumanidade. A sua esdrúxula, acinzentada, diferenciada e heterogénea sonoridade – magicada a experimentalismo, perfumada a misticismo e climatizada a sentimentalismo – tanto nos anoitece, amolece e adormece nas profundezas da soturnidade, como nos dilata as pupilas, empalidece o rosto e absorve numa espasmódica dança macabra, compenetrada e indiferente ao que nos rodeia. Musicada por uma intoxicante guitarra de imponentes, ardentes, absorventes e vistosos riffs e solos desenvencilhados, giratórios e embriagados, um baixo viscoso, pulsante, ondulante e polposo, uma expressiva, diligente e criativa bateria capaz de modelar e compassar todos estes contrastes climáticos, e uma profusão de vocais lúcidos, vampíricos, etéreos e espectrais (aos quais se juntam ainda as efémeras, mas enriquecedoras, colaborações de um saxofone de estética “noir” serpenteado a sopros gritados, um sibilino duduk que se adensa em mugidos aveludados e uma divina voz feminina de pele cristalina que sobrevoa a névoa da madrugada), esta memorável viagem neste expresso nocturno causa no íntimo do ouvinte um eclipse verdadeiramente transformador, miraculoso e emancipador. Sonhem de olhos bem arregalados à mesmérica influência de Sublunar Express sem a mais pequena vontade de dele despertar. De realçar ainda o imersivo artwork de natureza distópica, superiormente ilustrado pelo artista espanhol Joan Llopis Doménech (com o qual a banda reforça a sua confiança). Este é um álbum norteado a volatilidade, estranheza e imprevisibilidade que nos fascina e surpreende em cada esquina. Cabe tudo nos seus dilatantes 38 minutos de duração. Cabem todos nesta sui generis, bizarra e cabaresca expedição pelos sinuosos carris de ‘Peeling the Horizon’.

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