segunda-feira, 29 de junho de 2020
Review: ⚡ El Triángulo - 'La Fuga del Color' (2020) ⚡
Da cidade-capital argentina
de Buenos Aires chega-nos a psicotrópica fogosidade nasalada pelo exímio
power-trio El Triángulo com o lançamento do seu novo álbum. Designado
de ‘La Fuga del Color’ e muito recentemente revelado na íntegra
através do exclusivo formato digital (com a sempre elogiável possibilidade de download
gratuito através da sua página de Bandcamp oficial), este tão ansiado regresso
discográfico por parte de uma banda que partilha o domicílio e respectiva musicalidade
com actuais e egrégias referências locais como Ambassador, Knei, Almanegra,
Denso Crisol e Montenegro vem enriquecer, homenagear e enobrecer o
vasto, influente e sui generis legado musical principiado por vultosos
nomes, seus conterrâneos, trazidos da dourada década de 1970 como Pappo’s
Blues, Pescado Rabioso, Crucis, Invisible, Almendra, Color Humano, Cuero e El Reloj.
Saltitando de um inflamante, afrodisíaco e entusiasmante Heavy Blues que
concilia a estonteante maestria de Pappo com a tenebrosa heresia de Black
Sabbath - matizado a um delirado, caleidoscópico e embriagado Psych Rock,
apimentado a um dançante, bem-disposto e contagiante Funk, e conduzido a
um serpenteante, majestoso e extravagante Prog Rock – até um apaziguante,
sublimado e deslumbrante Acid Folk de adornos idílicos, aromas
primaveris e ensolarado por uma esbelta voz feminina, ‘La Fuga del Color’ respira e transpira toda uma mística aura de
paladar vintage que me cativara, arrebatara e namorara do primeiro ao
derradeiro tema. São 65 minutos integralmente condimentados por uma apurada,
fascinante e elaborada ostentação sonora que nos aguça e prazenteia os sentidos.
Na génese desta pitoresca, exótica e carnavalesca fusão de géneros está uma
guitarra magistral que agarra firmemente a maior dose de protagonismo com os
seus imponentes, sinuosos e incandescentes Riffs superiormente desdobrados
a irresistível lubricidade, e solos electrizantes, apoteóticos e
ziguezagueantes vomitados a imaculada tecnicidade, um baixo ondeante de pesada
e saturada reverberação que sussurra linhas magnetizantes, densas e vagueantes, uma bateria dinâmica que conjuga
a vulcânica explosividade esporeada a destravada euforia com a maviosa suavidade
de tez jazzística, e uma voz polida, acidificada e melodiosa – a fazer
recordar as avinagradas cordas vocais de Geddy Lee (baixista / vocalista dos lendários Rush) – que lidera
com distinção toda esta virtuosa obra de El Triángulo. De estender ainda
lisonjeiras palavras ao fabuloso artwork de natureza novelesca, brilhantemente
pincelado pelo prendado ilustrador argentino Agustín Murias (aka Marea Negra). Este é um álbum verdadeiramente sensacional – orquestrado e
norteado a uma dialogante, vertiginosa e incessante simbiose instrumental – que
me mantivera de atenção e fascinação a ele atreladas do primeiro ao último
tema. ‘La Fuga del Color’ é um álbum talhado e emoldurado a contornos
épicos, marcadamente contrastado a intrigante obscuridade e purificante
luminosidade, que vive da destreza e subtileza. Um registo vivamente enfeitiçante
que decerto cortejará e conquistará todo aquele que o comungar. Vai ser
demasiado fácil reencontrá-lo por entre os mais medalhados trabalhos desabrochados
no presente ano de 2020.
domingo, 28 de junho de 2020
sábado, 27 de junho de 2020
sexta-feira, 26 de junho de 2020
Review: ⚡ Power Plant - 'Cargo' (2020) ⚡
Da cidade portuária de Szczecin
(mapeada na Polónia) chega-nos o portentoso álbum de estreia forjado
pelo auspicioso quarteto Power Plant, intitulado de ‘Cargo’ e oficialmente
lançado hoje mesmo pela mão do jovem selo discográfico polaco Galactic SmokeHouse
através do formato digital e CD. Desancorando o seu navio cargueiro nas quietas
águas de um contemplativo, ensolarado, deslumbrado e imersivo Space Rock
banhado e bronzeado a desarmante, sublimado e ofuscante psicadelismo, que
vai progredindo destemida e triunfantemente até alcançar, lavrar e combater os
revoltosos, negros, espessos e tormentosos mares de um fogoso, denso, tenso e impetuoso
Stoner Doom de saturação Grunge, a evolutiva, cinematográfica,
enfática e expressiva sonoridade de Power Plant pendula entre a edénica bonança
e a despótica tempestade, a embaciada letargia e a sedada euforia, a misantrópica
negrura e a quimérica luminosidade. De olhar semi-selado e petrificado,
semblante desbotado, cabeça pesadamente baloiçante e espírito intensamente atordoado
por toda esta intoxicante, fumarenta e enfeitiçante nebulosidade – nasalada pela
fresca formação polaca e untada a THC (tetrahidrocanabinol) –
somos narcotizados, perturbados e sepultados na obscurantista vacuidade do perpétuo
espaço interstelar. Este é um lugar onde a utopia e a distopia se entrelaçam e
unificam. Tecido e colorido por duas guitarras dialogantes que tanto se
enternecem em maviosos acordes de beleza deífica como se enfurece em titânicos Riffs
de bafagem demoníaca e solos trepidantes, ácidos, alucinógenos e rutilantes,
escoltado e sombreado por um possante baixo sobrecarregado a uma reverberação sufocante,
massiva, altiva e hipnotizante, e tiquetaqueado por uma absorvente bateria de
marcha arrojada, dinâmica e compenetrada, ‘Cargo’ é um álbum integralmente
climatizado a sedutora, embrumada e redentora soberania que nos ensurdece,
entontece e eteriza os sentidos sedentos de experienciar algo assim. São cerca
de 46 minutos gravitados por uma empoeirada, profunda e irresistível narcose – amuralhada
a sideral misticismo e perfurada pela mais esfaimada vontade de desvendar o
ocultismo – que nos mantém de corpo e alma firmemente atrelados à esfíngica
liturgia superiormente doutrinada pelos Power Plant. Uma das mais impactantes
surpresas sonoras do ano está aqui, na intrigante, diáfana e apaixonante bruma em
nós sulfatada e imortalizada por ‘Cargo’. Não vai ser fácil
contrariar todo este onírico torpor que nos invadira e entupira do primeiro ao
derradeiro tema, e reaver a lucidez que nos fora subtraída e asfixiada pelas
propriedades druídicas destes jovens polacos. Estamos na presença de um álbum
de natureza mutuamente esmagadora, exploradora, profética e emancipadora que
seguramente não deixará nenhum dos ouvintes recostado à indiferença.
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quarta-feira, 24 de junho de 2020
Review: ⚡ CUARZO - 'Vol. 2' (2020) ⚡
Da América Latina
chega-nos o segundo e novo álbum do intenso power-trio peruano CUARZO.
Lançado muito recentemente e exclusivamente através das mais variadas
plataformas digitais, ‘Vol.2’ vem arrasado por um monstruoso tsunami
fibrado a endorfinas de onde se testemunha toda a obscura ferocidade adensada
por um vulcânico, vigoroso, violento e titânico Stoner Doom corado e
saturado a pesado psicadelismo, a lodacenta toxicidade bafejada por um fumarento,
denso, tenso e rumoroso Sludge Metal de borbulhante incandescência e
ainda a atmosférica cinematografia dissertada por um hipnótico, deslumbrante, aliciante
e letárgico Post-Rock de vocação e exploração espacial. A sua sonoridade discretamente eclética esperneia-se a duas velocidades e climas contrastados que combina
combativas, possantes e altivas galopadas esporeadas a ardente euforia com apaziguantes,
místicas e narcotizantes passagens condimentadas a fresca lisergia. De
maxilares cerrados, narinas dilatadas, olhar eclipsado e cabeça baloiçada num
constante ricochete de ombro a ombro, somos sombreados, dominados e incinerados
pela despótica e misantrópica radiação agressivamente baforada por uma guitarra
urticante que ruge Riffs arenosos, monolíticos, graníticos e fogosos –
encrostados a corrosivo, apimentado e denteado efeito Fuzz – e exorciza
ziguezagueantes, acidificados, embriagados e esvoaçantes solos de atordoante nebulosidade que ecoam,
multiplicam e ressoam pela incomensurável vacuidade sideral, um baixo massivo
de linhas troantes, sísmicas , melancólicas e imperantes que propaga toda uma
trevosa e portentosa reverberação, e ainda uma bateria expressiva que tanto se
acanha numa ritmicidade pausada, forte e carregada, como detona em fulminantes,
destravadas e entusiasmantes galopadas à rédea solta. Este segundo álbum de CUARZO
prende uma tenebrosa, ciclópica e assombrosa avalanche que nos consome e
sepulta num profundo estádio de intensa narcose. Inalem os proféticos, alucinógenos
e desérticos ares de ‘Vol.2’ e enlameiem-se nos seus viscosos pântanos
de escurecida mescalina via auditiva. Embalem nesta obscurantista odisseia de longa duração pelos abissais desfiladeiros do Cosmos interior, e dissolvam-se na febril náusea que o envolve e revolve. Não vai ser fácil regressar de todo este abrasador
torpor de longo alcance sensorial que o tridente sul-americano em nós instaurara e lavrara sem qualquer
moderação.
segunda-feira, 22 de junho de 2020
Review: ⚡ Lamp of the Universe - 'Dead Shrine' (2020) ⚡
Oremos. Alcançada e recentemente superada
a admirável marca de duas décadas de existência enquanto projecto a solo, o
talentoso multi-instrumentista neozelandês Craig Williamson parece não desacelerar a
sua inesgotável e louvável capacidade criativa ao serviço de Lamp of the
Universe, e o seu novíssimo 15º registo discográfico é bem demonstrativo
disso. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da discográfica local Projection
Records através do formato digital e de duas edições ultra-limitadas em formato
físico de vinil, ‘Dead Shrine’ vem irrigado, oxigenado e endeusado por
um profético, divinal, espiritual e edénico Acid Folk matizado por um místico,
enfeitiçante, deslumbrante e caleidoscópico Psychedelic Rock de
propensão astral que nos desobstrói os trilhos do transe religioso e
canaliza a alma na direcção de um imersivo, purificante, magnetizante e meditativo
ritual de culto dedicado ao hinduísmo. A sua sonoridade de toada mântrica,
aliciante, intrigante e nirvânica tem o raro dom de nos eterizar, sublimar e
canonizar o espírito, recostando-nos num olimpo sensorial perfumado a
desarmante beatitude e melificado a incessante ataraxia. De olhar envidraçado,
narinas dilatadas, semblante descorado, corpo serpenteante e consciência içada nas
inacabáveis profundezas de um Cosmos bocejante e embaciado, somos convidados a
comungar a sagrada doutrina deste eremítico guru. Dissolvidos numa labiríntica
hipnose que nos adormece membros e sentidos, e mumifica num imperturbável
estádio de febril letargia, testemunhamos a desapropriação e deserção do Eu
numa constante levitação climatizada a sedada euforia. No leme de toda esta onírica
digressão pela inexplorada intimidade do nosso Cosmos interior, está uma voz sidérica e messiânica de reconfortantes,
inspiradoras e tocantes palavras, uma abençoada cítara de frondosos, esfíngicos,
excêntricos e requintados bailados, uma alucinógena guitarra embrumada pelo atordoante
efeito wah-wah que vomita solos borbulhantes, efervescentes e
intoxicantes, uma trovadora viola acústica de balsâmicos contos fabulares, um
baixo sussurrante de linhas bafejadas a uma reverberação ondulante, um mágico sintetizador
de mil coros celestiais que adensa todo um misticismo de idioma alienígena, e
uma bateria tribalista e embalante de ritmicidade constante, esponjosa e hipnotizante. O artwork
piramidal – superiormente detalhado por uma vistosa e prismática textura de
estética faraónica – é da autoria do ilustrador britânico Dale Simpson
que traduzira para o universo visual tudo aquilo que a musicalidade de ‘Dead
Shrine’ floresce e estabelece no nosso imaginário. Estamos na ilustre presença
uma obra de essência deífica e vocação ritualística capaz de embevecer e converter
em seus devotos peregrinos todos aqueles que nela se abrigarem. Deixem-se guiar
e consagrar pela transformadora resplandecência de ‘Dead Shrine’,
e eternizem-se na sua enigmática, diáfana e temulenta tranquilidade. Corações
ao alto. O nosso coração está e permanecerá em Lamp of the Universe.
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domingo, 21 de junho de 2020
Review: ⚡ PALMIERS - 'PALMIERS' (2020) ⚡
Proveniente da cidade do Porto,
chega-nos uma das mais agradáveis e elogiáveis surpresas sonoras do ano. Revelado no
solstício de Verão, denominado de forma homónima e devidamente lançado nos
formatos de digital e CD (este último ultra-limitado à existência de apenas 200
cópias disponíveis para venda) pela mão da editora discográfica local Saliva
Diva, este irresistível álbum de estreia produzido pelo quarteto
portuense PALMIERS traz-nos um frutado, sumarento e adocicado cocktail
musical – de clima tropical e carácter devocional – de onde se reconhece e saboreia
um meditativo, envolvente, eloquente e imersivo Krautrock – banhado e
tingido a um deslumbrante, ensolarado, apaladado e extasiante psicadelismo
– de mãos dadas com um atmosférico, estival, neptuniano e quimérico Dream
Pop – oxigenado e sublimado a embriagada letargia – que se acalora e revigora
nas paradisíacas praias de um dançante, místico, onírico e contagiante Surf
Rock de exotismo arábico. De pálpebras entreabertas, narinas dilatadas,
sorriso inextinguível, corpo bamboleante, alma maravilhada e sentidos
ensurdecidos e entontecidos pela ofuscante e purificante radiância bafejada
pela utópica sonoridade de PALMIERS, somos conservados num perfeito
estádio de pleno bem-estar que nos enternece, reconforta e embevece do primeiro
ao derradeiro tema. Uma adorável epifania veraneia que nos deixa firmemente suspensos
em órbita do tão almejado nirvana. Embrenhados e embalados numa profunda e
entretida hipnose de natureza oceânica e inefável doçura, somos namorados por
uma guitarra pérsica de serpenteantes, jubilosos, libidinosos e apaixonantes
bailados, um baixo deliciosamente groovy de linhas murmurantes,
hipnóticas, exóticas e flutuantes, um harmonioso teclado de melodias arejadas,
refrescantes, bailantes e embriagadas, e ainda uma instigante bateria a trote
de uma ritmicidade cintilante, compenetrada, inspirada e revigorante. O artwork
de endeusamento e saturação solar aponta os seus créditos autorais à ilustradora portuguesa Joana Carneiro. Deixem-se farolizar, bronzear e seduzir pela seráfica e esplendorosa
beatitude de ‘PALMIERS’, e embarquem numa fabulosa digressão
desértica povoada por miragens tangíveis e frondosos oásis de deleite sensorial
e espiritual. Não vai ser fácil emergir e despertar das funduras deste edénico sonho
acordado e reaver a lucidez que nos fora subtraída e sonegada. Um dos mais miríficos álbuns nacionais de 2020 está aqui, na irretocável e muito promissora estreia dos portugueses PALMIERS.
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sexta-feira, 19 de junho de 2020
Review: ⚡ Mothers of the Land - 'Hunting Grounds' (2020) ⚡
Depois de em 2016 terem
lançado o seu irrepreensível e impactante álbum de estreia ‘Temple
Without Walls’ (review aqui) – tendo eu o considero e condecorado
mesmo como um dos melhores trabalhos de longa duração nascidos nesse ano
(listagem aqui) – os austríacos Mothers of the Land acabam de
presentear e saciar toda a sua crescente legião de seguidores com o tão
aguardado sucessor designado de ‘Hunting Grounds’ e oficialmente
lançado hoje mesmo nos formatos digital, de CD e vinil (estes físicos de
prensagem ultra-limitada a parcas centenas de cópias disponíveis) pela mão da
já conceituada editora discográfica local StoneFree Records. Repetindo a
bem-sucedida receita musical estreada na caprichosa produção do seu primeiro
registo, este imponente quarteto domiciliado na cidade-capital de Viena escuda-se
num melódico, faustoso, poderoso e épico Hard Rock de feições setentistas
e tingido a alucinante e flamejante psicadelismo em harmoniosa e
libidinosa parceria com um desenfreado, fogoso, polvoroso e oleado Heavy
Metal de sotaque britânico e matriz tradicional. A sua sonoridade vistosa, sublime e gloriosa – talhada
a uma desarmante e apaixonante majestosidade, e carburada a uma musculada,
dinâmica, redentora e entusiasmada cavalgada de instrumentos em debandada –
causara em mim um inabalável estádio de crescente e ofuscante fascinação que desprendera
e detonara toda uma saturada e exaltada comoção. Numa ornamentada alternância entre desembaraçadas,
vertiginosas e inflamadas galopadas à rédea solta e espora aguçada, e passagens
climatizadas a uma nirvânica, deslumbrante e afrodisíaca maviosidade, ‘Hunting
Grounds’ adjectiva-se como uma obra verdadeiramente arrebatadora que
tanto nos enternece de uma doce letargia como sobreaquece de uma diluviana
euforia. Na génese de toda esta cuidada, inspirada e magistral epopeia de
essência puramente instrumental estão duas sensacionais guitarras gémeas de
formosa e lasciva excentricidade que hasteiam vultosos, principescos, titânicos e
ostentosos Riffs esculpidos e encerados a sobranceira majestosidade, e esgrimam
virtuosos, ziguezagueantes, atordoantes e gloriosos solos superiormente
domesticados e esvoaçados a assombrosa e desarmante habilidade, um baixo ronronante
valvulado e sombreado a linhas bafejantes, densas, tensas e possantes, e uma
bateria combativa, magnética e altiva que – a trote de uma ritmicidade
expressiva – tiquetaqueia toda esta despótica cavalaria pesada na imediata conquista
do ouvinte. De salientar e aplaudir ainda o excepcional artwork
brilhantemente pensado e executado pelo talentoso ilustrador local Markus Raffetseder (aka Dr. Knoche) que confere e este irretocável
registo toda uma envolvente atmosfera de misticismo fabular. Confesso que
depois de digerido e reverenciado o álbum de estreia de Mothers of the Land,
arremessava na direcção deste seu sucessor as mais grandiosas expectativas que
acabariam mesmo por lhe assentar na perfeição. Muito dificilmente este quarteto
austríaco conseguiria um regresso mais apoteótico. São cerca de 37 minutos inteiramente oxigenados por uma constante, imersiva e provocante feitiçaria de superior primazia que nos
esperta e liberta todos os membros e sentidos. Deixem-se embevecer, efervescer e naufragar nos
revoltosos mares de ‘Hunting Grounds’ e vivenciar com plena entrega
e devoção todo o brioso esplendor de um dos mais monumentais álbuns lançados
este ano.
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quinta-feira, 18 de junho de 2020
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Review: ⚡ Magick Brother & Mystic Sister - 'S/T' (2020) ⚡
Com a sua designação
espelhada e vertida do carismático álbum de estreia produzido pelos clássicos
franceses Gong que fora revelado no último suspiro da década de 1960, os
espanhóis Magick Brother & Mystic Sister – domiciliados na cidade de
Barcelona – acabam de apresentar o seu primeiro e fabuloso álbum de
denominação homónima que fora recentemente lançado nos formatos físicos de CD e
vinil (ambos de disponibilidade ultra-limitada) e devidamente promovido pela mão
da parceria discográfica multinacional que coliga a editora espanhola The John Colby Sect à grega Sound Effect Records. Polinizada por
um deslumbrante, edénico, místico e radiante Psychedelic Rock de paladar Pink
Floyd’eano e um charmoso, pérsico, profético e ostentoso Progressive
Rock de sotaque Canterbury’eano e influências trazidas dos britânicos Caravan, a mágica, opalescente e quimérica sonoridade
de ‘Magick Brother & Mystic Sister’ é abraçada, embrumada e
canonizada por uma apaixonante atmosfera onírica que prontamente remete o
ouvinte para a narrativa trovadora de uma absorvente fábula escrita a requinte
e romantismo. Emoldurado por majestosos adornos de polimento jazzístico,
sobrevoado por um contemplativo Psychedelic Folk de estética pastoral, lenitiva
e medieval, e ainda colorido por discretos e efémeros vestígios de um animado, quente
e ritmado Funk de aroma tropical, esta imaculada estreia do quarteto
catalão provocara em mim a plena pacificação dos sentidos e a catártica deserção
da alma pela seráfica, sagrada e caleidoscópica luminescência que o mesmo
faroliza. Na génese de toda esta secreção deliciosa que nos banha e massaja as
zonas mais erógenas do cérebro, desobstruindo as artérias espirituais que nos
canalizam e confluem nas paradisíacas praias ensolaradas pelo transe
religioso, está uma serpenteante, sedutora e refrescante flauta transversal de
extravagância e fragância Jethro Tull’esca, um enigmático,
enfeitiçante e majestático sintetizador disseminador de uma alquimia ritualista
e ocultista, uma guitarra magistral de acordes tricotados a delicadeza,
sublimidade e destreza, um baixo murmurante de linhas ondulantes, fluídas e
errantes, um afrodisíaco teclado de notas harmoniosas, saltitantes, dançantes e
faustosas, uma bateria elegante, tribalista e cintilante de timbalões
acrobáticos e pratos tintilantes, e uns vocais sirénicos de tez translúcida, diamantina,
gentil e aveludada que flutuam pelas tantalizantes, utópicas e embriagantes epopeias
de beleza intocada. De desdobrar ainda os louvores ao endeusado artwork de
créditos apontados ao já afamado artista brasileiro Pena Branca que com
fiel precisão traduzira para o universo visual toda a ataráxica luzência de
clima primaveril e essência revivalista que a libertadora musicalidade – superiormente
orquestrada por estes quatro discípulos dos dourados 60’s – de ‘Magick Brother
& Mystic Sister’ filosofa. Inalem a ensolarada e apaladada
fragância sonora desta obra irretocável e reconfortem-se num balsâmico e ataráxico
oásis sensorial sob o feitiço de um dos álbuns mais esplendorosos e sumptuosos do ano.
terça-feira, 16 de junho de 2020
segunda-feira, 15 de junho de 2020
domingo, 14 de junho de 2020
sábado, 13 de junho de 2020
Review: ⚡ Tia Carrera - 'Tried and True' (2020) ⚡
Os radicais Tia Carrera
estão de regresso com um renovado capítulo das suas electrizantes, inesgotáveis,
adoráveis e provocantes Jams puramente instrumentais. Intitulado
de ‘Tried and True’ e recentemente lançado sob a forma física de
CD e vinil através da histórica discográfica norte-americana Small Stone
Records, este novo álbum produzido pelo enérgico power-trio sediado
na cidade de Austin (Texas, EUA) vem chamejado por um inflamante,
delirado, embrumado e narcotizante Heavy Psych de essência skater
que alterna entre a absorvente lisergia e a efervescente euforia. A sua
sonoridade de orientação imersiva, sónica, caleidoscópica e intuitiva tem a
capacidade de nos envolver, revolver e atordoar de uma contida adrenalina que
nos sobreaquece, alcooliza e enlouquece do primeiro ao derradeiro minuto. Uma atraente,
empolgante e desenfreada galopada de esporas afiadas e à rédea solta à
vertiginosa boleia de uma epopeica guitarra de sotaque Jimi Hendrix’eano
– revestida e encrostada pelo escaldante, rugoso e intoxicante efeito Fuzz
– que vomita todo um ciclónico vendaval de selváticos, ácidos, alucinados e
orgásmicos solos em debandada, um baixo de bafo fibroso, ardente e rumoroso – locomovido
a linhas magnetizantes, densas, tensas e ondulantes – que nunca perde de vista
o Riff base, e uma polvorosa bateria a trote de uma ritmicidade retumbante,
explosiva, ostensiva e contagiante que tiquetaqueia toda esta vistosa detonação
de transbordante, berrante e ofuscante psicadelismo. De espalhar ainda elogiosas palavras pelo chamativo artwork, soberbamente detalhado,
colorido e arquitectado, que aponta os seus créditos autorais ao talentoso
ilustrador germânico Alexander von Weding. Este ‘Tried and True’
é um esverdeado, viscoso, musguento e nublado lodaçal de psicotrópica letargia que
nos embacia a lucidez e atesta de uma febril embriaguez. Embalados na arrebatadora
tontura provocada pelos expressivos, simbióticos e convincentes diálogos entre
os três instrumentos padrão, somos desenraizados da gravidade consciencial e violentamente
dissipados pela mística vacuidade astral. Deixem-se estontear, prender e
maravilhar pelo exotismo diluviano de Tia Carrera, e vivenciem com plena
entrega e sedução mais uma fantástica odisseia canalizada pelo interminável universo das
suas venenosas, excêntricas e gloriosas Jams de fumarenta toxicidade.
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