quinta-feira, 30 de junho de 2022

🍿 Cinema & TV de Abril, Maio e Junho

Licorice Pizza (2021) de Paul Thomas Anderson   ★★★★
Mulholland Drive (2001) de David Lynch   ★★★★
Serbuan Maut 2: Berandal (2014) de Gareth Evans   ★★★★★
Ascenseur pour L’échafaud (1958) de Louis Malle   ★★★★
The Night Caller S01 (2020) de Thomas Meadmore   ★★★★
Waco: Madman or Meassiah S01 (2018) de Christopher Spencer   ★★★★
Jonestown: The Women Behind the Massacre (2018) de Nicole Rittenmeyer   ★★★★
…tick… tick… tick… (1970) de Ralph Nelson   ★★★☆☆
BTK: Confession of a Serial Killer S01 (2022) de Cynthia Childs   ★★★★
Cyborg (1989) de Albert Pyun   ★★☆☆
The Sopranos S06 (2006/2007) de David Chase   ★★★
The Breakfast Club (1985) de John Hughes   ★★★★
Barbarella (1968) de Roger Vadim   ★★☆☆☆
The Chameleon Killer S01 (2021) de Sarah Foudy & Ben Steele   ★★★★
Paris, Texas (1984) de Wim Wenders   ★★★★★
Crash (1996) de David Cronenberg   ★★★☆☆
Succession S03 (2021) de Jesse Armstrong   ★★★★★
North by Northwest (1959) de Alfred Hitchcock   ★★★★★
Reality Bites (1994) de Ben Stiller   ★★★☆☆
Ginger Snaps (2000) de John Fawcett   ★★★☆☆
The Many Saints of Newark (2021) de Alan Taylor   ★★★☆☆
Undone S02 (2022) de Raphael Bob-Waksberg & Kate Purdy   ★★★★★
Secrets of Playboy S01 (2022) Alexandra Dean & Arlene Nelson   ★★★★
Brewster McCloud (1970) de Robert Altman   ★★★☆☆
The Man Who Knew Too Much (1956) de Alfred Hitchcock   ★★★☆☆
Ted Lasso S01 (2021) Brendan Hunt, Joe Kelly & Bill Lawrence   ★★★★
Killer in Question S01 (2020)   ★★★★
Vita Activa: The Spirit of Hannah Arendt (2015) de Ada Ushpiz   ★★★★
Manhunt: The Railway Killers S01 (2021) de Jack Wood   ★★★☆☆
Milan Kundera, Odyssée des Illusions Trahies (2022) de Jarmila Buzkova   ★★★☆☆
Sergio Leone, une Amérique de Légende (2018) de Jean-François Giré   ★★★★
The Hillside Strangler S01 (2022) de Christopher Holt   ★★★★
Double Indemnity (1944) de Billy Wilder   ★★★★★

Review: 🌪 Cachemira - 'Ambos Mundos' (2022) 🌪

★★★★

Cinco anos volvidos sobre a sua auspiciosa e impactante estreia discográfica ‘Jungla’ (aqui trazida e imoderadamente elogiada), o electrizante power-trio espanhol Cachemira ressurge agora de formação metamorfoseada e espírito revigorado (tendo o baixo e o microfone mudado de mãos) com o seu novíssimo segundo álbum denominado ‘Ambos Mundos’ e promovido pelo imparável selo editorial romano Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e digital. E se já havia ficado conquistado com o seu álbum de estreia, este seu sucessor provocara em mim todo um abalo sísmico emocional de grande magnitude, impossível de deter ou dominar. Fervida, ruborescida e apimentada por um fogoso, sexy e vaidoso Heavy Psych de odor latino e toxicidade fervilhante, e em perfeita simbiose com um provocante, lubrificado e bailante Heavy Blues de contagiante balanço Boogie e indiscreta evocação setentista, a quente, irresistível e excitante sonoridade de ‘Ambos Mundos’ pavoneia-se e incendeia-se numa vulcânica erupção que nos banha e escalda em eufórica e desenfreada agitação. De influências apontadas a carismáticas referências do período clássico como Jimi Hendrix, Taste e Pappo’s Blues, e partilhando o mesmo ADN de outros nomes marcantes da contemporaneidade como Radio Moscow, Prisma Circus e Siena Root, o enérgico tridente Cachemira arranca numa enlouquecedora, sónica e desorientadora montanha-russa de espirais a perder de vista que deixará o ouvinte de mãos nos joelhos, rosto respingado de suor, sem fôlego e com o motor cardíaco a alta rotação. Colhidos e varridos por este selvático tornado locomovido a endorfina e testosterona, somos atrelados a uma ácida guitarra de sotaque Hendrix’eano que se dobra e desdobra numa imersiva catadupa de exóticos, encaracolados e afrodisíacos Riffs, e descarrila à caleidoscópica boleia de venenosos, frenéticos e vertiginosos solos, um baixo palpitante e escultural de linhas musculadas, torneadas e magnetizantes, uma bateria deliciosamente malabarista de tecnicidade apurada, extravagante e desembaraçada, e uma voz liderante e encorpada de pele harmoniosa, aveludada e bronzeada. Num plano secundário (no que ao seu protagonismo diz respeito), perscrutam-se ainda as ritualistas acrobacias de congas tribais e os imperiosos, pomposos e esvoaçantes mugidos de um carismático órgão. São 36 minutos governados por uma asfixiante, abrasiva e estonteante comoção que nos faz resvalar pelas costuras fronteiriças da insanidade, deixando pra trás qualquer réstia de sobriedade. De destacar ainda a camaleónica faixa que encerra e dá nome a este sensacional álbum pela sua diferenciação em relação aos restantes temas, zebrado a colorida tropicalidade psicadélica – sambado à boa moda de Carlos Santana e Chango –, e a vistosos laivos de um adornado e bamboleado Flamenco – trajado com rendilhados elementos Progressivos – na mesma linha estética dos seus velhos compatriotas Vega. Este é um registo picante, viciante, entusiástico e dançante – raiado e estrelado a expressiva, vibrante e festiva pirotecnia – que me deixara completamente boquiaberto e desarmado. Um dos mais sérios candidatos a álbum do ano está aqui, no triunfante e retumbante regresso de uma das minhas bandas predilectas.

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 Heavy Psych Sounds

Review: 🌈 London Odense Ensemble - 'Jaiyede Sessions vol. 1' (2022) 🌈

★★★★

Resultado de uma lucrativa cimeira jazzística entre as cidades de Londres e Odense, denominada de London Odense Ensemble e onde se desdobrara um expressivo, criativo e harmonioso diálogo musical no seio do talentoso quinteto composto por Al MacSween (teclados), Tamar Osborn (saxofone barítono e flauta), Jonas Munk (guitarra), Martin Rude (baixo) e Jakob Skøtt (bateria), este primeiro volume de Jaiyede Sessions é hoje oficialmente lançado pela insuspeita discográfica dinamarquesa El Paraiso Records através dos formatos LP, CD e digital. Navegado por um místico, enfeitiçante e ritualístico Spiritual Jazz de doce aroma tropical, um amarelecido, arejado e deslumbrante Psychedelic Rock de envolvente clima estival, e ainda um embriagado, dançante e sagrado Krautrock de afago cerebral, ‘Jaiyede Sessions vol. 1’ vem aureolado por um imersivo arco-íris de coloração vibrante que seduz e conduz o ouvinte a um estádio de consumado nirvana. De olhar petrificado – revestido por uma inapagável expressão sonhadora –, sorriso arqueado no rosto e cabeça baloiçada de ombro a ombro, somos absorvidos e canalizados pela endeusada sagacidade experimental de um colectivo que se entende às mil maravilhas. Numa balsâmica, evolutiva e messiânica digressão dominada por uma meditativa e anestésica mansidão onde pontuais remoinhos instrumentais nos catapultam da letargia à leve euforia, London Odense Ensemble é caprichosamente orquestrada por um extravagante saxofone de alucinados serpenteios que se distendem e contraem, uma etérea guitarra de odor a maresia que se passeia e galanteia livremente, florescendo solos elaborados, ácidos e cristalinos, uma bateria tribal de tambores acrobáticos e pratos tilintantes, luminosos e flamejantes, um baixo murmurante de linhas escorregadias, fluídas e hipnóticas, teclados polposos de bailados primorosos e mugidos aparatosos, e uma flauta fabular de sopros intrigantes, viajantes e sedosos que nos faz sobrevoar os crepusculares céus da velha Pérsia. Estamos na presença de um registo verdadeiramente paradisíaco que nos purifica e gravita em torno do transe sensorial. Um palpável e respirável oásis onde nos bronzeamos e relaxamos de pés soterrados nas quentes e douradas areias, beijados pelas frescas e espumosas ondas do mar, de rosto acariciado pela reparadora brisa e olhar içado no longínquo firmamento oceânico. Alcanço o final deste quimérico álbum que marca a estreia desta frutífera tertúlia musical de espírito integralmente expurgado e a salivar compulsivamente pelo seu sucessor. Saboreiem este exótico e sumarento cocktail sonoro que embelezará e apaladará o vosso verão, e banhem-se na sua ofuscante e diluviana refulgência com uma inquebrável feição de transbordante satisfação. É aqui que todos os sonhos dão à costa.

 

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terça-feira, 7 de junho de 2022

Review: 🌴 El Perro - 'Hair of El Perro' (2022) 🌴

★★★★

Está finalmente lançado o muitíssimo aguardado álbum de estreia do novo projecto liderado pelo talentoso multi-instrumentista norte-americano Parker Griggs (guitarrista e vocalista de Radio Moscow), El Perro, e devo antecipar que as altíssimas expectativas a ele dedicadas foram completamente inundadas pela realidade. Carimbado com o selo discográfico californiano Alive Records e exteriorizado através dos formatos físicos de LP e CD, ‘Hair of El Perro’ vem ensolarado, revolvido e apaladado por um refrescante, sumarento e revitalizante cocktail de onde sobressaem um dançante, lubrificado, torneado e provocante Blues Rock de contagiante balanço Boogie, um tropical, estival, colorido e açucarado Psychedelic Rock de sotaque latino, e ainda um ritmado, exótico, afrodisíaco e bronzeado Funk Rock de estirpe setentista. Bamboleado por um delicioso, bem-disposto e libidinoso groove de clima veraneio que sobreaquece, inquieta e embevece os seus ouvintes, o quinteto El Perro envaidece-se num carnavalesco Samba onde desfilam clássicas influências como Funkadelic, Santana e ZZ Top. A sua sonoridade picante, sensual e contagiante obriga-nos a dança-lo – de forma detida e desinibida – do primeiro ao derradeiro tema. Transpirados, buliçosos e excitados pela esfuziante fogosidade que chameja este vistoso álbum, somos centrifugados à estonteante boleia de duas guitarras apimentadas que rugem vulcânicos, serpenteantes e empolgantes Riffs de onde são uivados e esvoaçados venenosos, espaventosos e alucinados solos, um baixo baloiçante de linhas sinuosas, inchadas e ostentosas, uma bateria arrojada – em cumplicidade com uma festival e sensacional percussão de natureza tribal – de dinâmica, entusiástica e desembaraçada ritmicidade, e uma voz felina de pele abrasiva, áspera e urticante. ‘Hair of El Perro’ é um orgásmico e bombástico bacanal de efervescente vivacidade e ardente comoção. Um vertiginoso caleidoscópio de vibrante e imersivo psicadelismo que nos empurra para o centro da pista de dança. Um majestoso arco-íris de boas sensações e paradisíacas vibrações que nos ofusca, seduz e conduz a um inescapável estádio de nirvânica euforia. Uma queimosa e apetitosa iguaria, rica em sacarose, de consumo não recomendável a diabéticos. Eis a banda-sonora perfeita para emoldurar o verão que se avizinha, e que, para meu transbordante entusiasmo, será tocada ao vivo (e logo em dose dupla) no festival português SonicBlast calendarizado para meados de Agosto. Não vai ser nada fácil afastar este irresistível registo da dianteira que lidera a custosa maratona pelo título de melhor álbum do ano.

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