quarta-feira, 31 de maio de 2023
terça-feira, 30 de maio de 2023
Review: ⚔️ Kristonfest 2023 ⚔️
Depois de em
2018 ter visitado pela 1ª vez o festival madrileno Kristonfest (crónica aqui)
– onde subiram a palco os britânicos Conan, os norte-americanos Elder,
High On Fire e Monster Magnet, e ainda os nipónicos Church Of
Misery – 2023 foi o ano do meu regresso. Para comemorar a décima edição do
festival, a organização do evento preparou uma chamativa ementa sonora a ser
servida na Sala La Paqui, onde figuraram os espanhóis Rosy Finch,
os franceses Mars Red Sky, os norte-americanos The Obsessed e
ainda os suecos Graveyard.
Com a
responsabilidade de substituir os Inter Arma (que haviam cancelado a sua
aparição no festival) a banda caseira – natural da cidade sulista de Alicante –
Rosy Finch subiu a palco de olhos postos numa plateia ainda pouco
compacta mas que foi aumentando progressivamente de dimensão logo assim que os
amplificadores foram ligados e os primeiros acordes ecoados pelo interior do edifício.
Este tridente ofensivo que detona um fervilhante, agressivo, bombástico e pujante
Sludge Metal – distorcido por um caótico, estrondoso e belicoso Noise
e enrijecido por um fogoso, gorduroso e fibrótico Grunge Rock – arrancou
numa turbulenta cavalgada, esporeada a alucinante velocidade, mas que foi parcialmente
prejudicada pela imperfeita qualidade técnica do som que esteve demasiado
estridente e cru. Ainda assim, isso não impediu a crescente audiência de
sacudir as cabeças em resposta a uma vulcânica guitarra de riffs escaldantes, inflamados
e crepitantes, um baixo possante de linhas coesas, tensas e densas, uma espalhafatosa
bateria pontapeada a um ritmo frenético e enérgico, e aos raivosos vocais
vociferados a infernal corrosão.
Seguia-se o conhecido
power-trio francês Mars Red Sky e os já muitos corpos ali presentes na
plateia reaproximavam-se do palco. E foi já com a Sala La Paqui muito
próxima da lotação máxima que todos embarcámos numa narcótica odisseia até à empoeirada
atmosfera do planeta vermelho, tendo como principal combustível um letárgico, pesado,
ácido e hipnótico Heavy Psych com momentâneas passagens por um pantanoso,
morfínico, tóxico e umbroso Psychedelic Doom. Amortalhados numa atmosfera
entorpecida e fumacenta, baloiçámos pesadamente os nossos corpos embriagados à absorvente
boleia de uma guitarra lisérgica que se avolumava em montanhosos, pausados e efervescentes
riffs e viajava em solos siderais, leves e espectrais, um baixo rosnante de
bafagem carregada, polposa e musculada, uma bateria intensa de batida seca, forte
e explosiva, e uma voz aguda, frágil e penetrante de timbre ecoante. Saltitando
pela sua discografia, a banda sediada na cidade francesa de Bordéus teve
no seu hino “Strong Reflection” o previsível clímax da sua imersiva actuação,
e foi debaixo de uma ruidosa ovação que os Mars Red Sky se despediram de
Madrid.
Foi de punhos
e garrafas de cerveja ao alto, e barulhentos clamores condimentados a imoderado
entusiasmo que brindámos a chegada da histórica banda de Doom Metal (um
dos bastiões do género), recém-remodelada para quarteto, e liderada pelo
lendário e carismático Wino com o seu longo cabelo grisalho, velho
colete desabotoado e olhar intimidante. Deles esperava muito e tudo eles me
deram. Aos primeiros acordes do tema inaugural ficou logo a pairar a forte
convicção generalizada de que The Obsessed ao vivo iria ser uma experiência
verdadeiramente demolidora. Munidos de um combativo, serpenteante, enleante e
altivo Doom Metal de raiz tradicional, estes ameaçadores motards de
instrumentos empunhados arrancaram para uma performance intensamente selvática que
não deixara ninguém indiferente. Fiéis discípulos dos seus gloriosos,
epidémicos, despóticos e poderosos Riffs, soltámos as cabeças em enlouquecedores rodopios e
desancorámos os nossos corpos da lisergia em nós deixada pela banda anterior.
Estávamos todos derrotados perante a força bruta impiedosamente exercida pelo
quarteto natural de Maryland. The Obsessed foi uma trevosa e mastodôntica avalanche que nos atropelara e soterrara sem qualquer misericórdia. Num equilíbrio
perfeito entre temas clássicos dos 90’s como por exemplo “Streetside”, “Tombstone
Highway” e “Brother Blue Steel”, e outros de roupagem contemporânea como
“Sodden Jackal”, “Punk Crusher” e “Sacred” (retirados do
seu último álbum de estúdio), a banda norte-americana foi um autêntico rolo
compressor que tudo assolara e conquistara à sua volta. Na composição desta enfeitiçante
negrura estiveram duas guitarras assassinas que se agigantavam na ascensão de
riffs flexuosos, carnudos, sisudos e imperiosos, e esvoaçavam na condução de solos
ziguezagueantes, fugidios, escorregadios e estonteantes, um robusto baixo de
monolítica, sombreada, rija e granítica reverberação, uma incisiva bateria
metralhada e bombardeada a velocidades contrastadas, e uma voz liderante de
pele sóbria e entoação intrigante. Foi um concerto de dimensão titânica e
validade vitalícia com um final verdadeiramente apoteótico, onde “Lost Sun
Dance” (tema originário do portentoso álbum de estreia de Spirit Caravan,
um outro velho projecto de Wino) levou toda a plateia a morder os lábios.
Os
escandinavos Graveyard nem precisaram de começar a tocar para que a esgotada
Sala La Paqui eclodisse num saturado e incontrolado êxtase que nos sobreaqueceu
o espírito com o acumular dos temas que iam reproduzindo de forma irrepreensivelmente
erótica acima de palco. A populosa plateia estava ao rubro. Os corpos embatiam
entre si, os olhares cruzavam-se e os sorrisos encontravam-se. Enternecidos e
maravilhados com as mélicas baladas, atiçados e euforizados com as ardentes
galopadas, testemunhámos, inteiramente fascinados e de ouvidos salivantes, o
concerto de uma vida. Atrelados a um libidinoso, quente, picante e lustroso Hard
Rock de tonalidade clássica onde se envaidece um charmoso, elegante, apaixonante
e majestoso Blues Rock de ares aristocráticos, os imensamente talentosos
Graveyard percorreram os seus últimos quatro álbuns (com principal
enfoque no ‘Hisingen Blues’ de 2011 e no ‘Peace’ de 2018), deixando
esquecido – com muita pena minha, já que se trata do meu registo favorito da
banda – o seu impecável álbum de estreia. Temas como “Hisingen Blues”, “No
Good, Mr. Holden”, “Cold Love”, “Uncomfortably Numb”, “Buying
Truth (Tack & Förlåt)”, “Please Don't”, “It Ain't Over Yet “,
“Slow Motion Countdown” e o triunfal “Ain't Fit to Live Here” a
finalizar o encore, causaram toda uma pirotécnica e efervescente combustão de puro
prazer num público completamente inebriado, deslumbrado e conquistado que
entoava a plenos pulmões as letras de todos os temas dos suecos. Todos nós
dançávamos ao provocante som de duas guitarras afrodisíacas que se entrelaçavam
em acordes meticulosos, romanescos e pomposos, e se desencontravam com a
explosão de trepidantes, giratórios e delirantes solos, um baixo dançante de pulsação
estética, magnética e ondeante, uma bateria acrobática e expressiva de tambores
galopantes e pratos flamejantes, e ainda dos vocais fragosos, roucos e melodiosos
de queimantes rugidos felinos que iam repartindo o protagonismo por detrás do
microfone com a voz límpida, sedosa e adocicada do baixista. Graveyard
brindaram todos os presentes com uma entrega total. Uma performance verdadeiramente preciosa e estratosférica, que resvalou as costuras da perfeição, e que decerto nenhum dos
presentes jamais irá esquecer.
Esta décima edição do Kristonfest foi memorável. Dela trouxe dois
concertos de uma vida e o forte desejo de regressar a este festival madrileno
no próximo ano. Obrigado ao Gorka pelo convite. Foi um prazer estar
associado a este evento na condição de parceiro media.
segunda-feira, 29 de maio de 2023
domingo, 28 de maio de 2023
sexta-feira, 26 de maio de 2023
quinta-feira, 25 de maio de 2023
quarta-feira, 24 de maio de 2023
terça-feira, 23 de maio de 2023
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Review: 🌠 Lucid Void - 'Lucid Void' (2023) 🌠
Na primavera
de 2020 escrevia aqui apaixonadas palavras sobre o irretocável EP de estreia dos
germânicos Lucid Void, premiando-o posteriormente com o título de melhor
registo de curta duração desse mesmo ano (listagem aqui), e hoje
regresso à etérea órbita deste talentoso quarteto à fascinante boleia do seu
muitíssimo aguardado álbum de estreia. De designação homónima e lançado através
dos formatos LP, CD e digital com o carimbo editorial da jovem alemã Sound of
Liberation Records, esta sublime obra não só não defraudara as minhas
mastodônticas expectativas a ele dedicadas, como as superara de uma forma
avassaladora. Combinando um florido, odoroso, radioso e sublimado Psychedelic
Rock sintonizado na mesma frequência de bandas como Causa Sui, Papir
e Kanaan, e um serpenteante, esponjoso, oleoso e magnetizante Krautrock
pulsado ao absorvente e propulsivo ritmo dos seus históricos compatriotas NEU!, Can
e Agitation Free, este primeiro álbum da formação localizada na
cidade de Darmstadt causara e perpetuara em mim todo um inabalável estádio de
resplandecente deslumbramento que me cegara e deliciara do primeiro ao
derradeiro tema. De fascinação atrelada à sorridente, enternecedora, emancipadora
e iridescente sonoridade instrumental de ‘Lucid Void’, somos passeados por
verdejantes planícies, oxigenadas pela fresca brisa que vagueia livremente e banhadas
pelo reluzente Sol crepuscular de bafo morno. Uma imersão cósmica de mentes
viajantes e corpos bailantes, driblando os abraços gravitacionais dos solitários
astros que se vão desenterrando e revelando no desdobrável firmamento do negro
solo sideral. Deixem-se guiar, bronzear e embalar nesta ataráxica vertigem de clima tropical onde
se envaidece uma exótica guitarra de imersivos, deleitosos, contemplativos e formosos
acordes e solos estonteantes, encaracolados, vítreos e inebriantes, bamboleia um
baixo murmurante de linhas quentes, polposas, fibrosas e pululantes, se
empoeira numa infindável multiplicidade de cor um quimérico, mavioso e estético
teclado de obcecantes bailados e onde mil coros celestiais dão à costa, e galopa
a hipnótico ritmo Motorik uma bateria de brilhante polimento jazzístico
que tiquetaqueia com cativante, acrobático e desarmante requinte toda esta edénica
passeata farolizada à amarelecida luz das estrelas. Este é um álbum paradisíaco.
Um registo ventilado a meditativa ataraxia que nos aureola com um vistoso arco-íris
de caleidoscópicas visões e vibrantes sensações. ‘Lucid Void’ é o disco
perfeito para emoldurar e eternizar o místico pôr-do-Sol. Deixem-se embevecer e
anoitecer neste endeusado sonho acordado, e vivenciem – de corpo repousado, sentidos entorpecidos
e espírito relaxado – todo o reparador, mágico e seráfico esplendor de uma autêntica obra lapidar que toca as fronteiras
da perfeição.
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domingo, 21 de maio de 2023
sexta-feira, 19 de maio de 2023
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Review: 👁️ Dommengang - 'Wished Eye' (2023) 👁️
Depois de
lançados ‘Everybody's Boogie’, ‘Love Jail’ (review aqui)
e ‘No Keys’ (review aqui), o apaixonante tridente Dommengang
está de regresso com o seu quarto trabalho de longa duração, intitulado ‘Wished
Eye’ e editado pela mão da insuspeita Thrill Jockey (com a qual esta
banda sediada na cidade norte-americana de Portland tem uma forte
ligação umbilical) através dos formatos LP, CD e digital. Oxigenado por um
açucarado, caleidoscópico, onírico e ensolarado Psychedelic Rock de agradável
clima west-coast, brilho diamantino e fragância oceânica, ‘Wished Eye’
é uma experiência verdadeiramente purificante, refrescante e redentora que nos desancora
a gravidade consciencial e transcende aos nirvânicos céus da espiritualidade. Uma
atmosfera reflexiva, atordoada, embaciada e imersiva que – de forma fluída e
sublimada – oscila entre religiosas, etéreas e esponjosas passagens ventiladas
a soporífica letargia, e efervescentes, sísmicas e fogosas erupções inflamadas a
vibrante euforia. Um ofuscante misticismo que nos afaga os sentidos, massaja o
cérebro e cega de inefável ataraxia. Flutuem livre e relaxadamente pela aveludada,
acolchoada e embriagante ondulação de ‘Wished Eye’ e deixem-se diluir, seduzir
e maravilhar nas profundezas deste ácido oceano de lisérgico, profético e
colorido psicadelismo. Pendulando entre a morosidade e a celeridade, o peso e a
leveza, a lucidez e a embriaguez, a fantasia e a realidade, somos laçados e namorados
pelos enfeitiçantes serpenteios de uma intoxicante guitarra – tanto chamejada e
distorcida pelo urticante efeito Fuzz, como ensaboada e expurgada por
uma brancura leitosa – que se incendeia em caravânicos, cremosos, nebulosos e afrodisíacos
riffs e rodopia numa perpétua espiral de mil solos escorregadios, desarrumados, delirados e
fugidios, pelos hipnóticos meneios de um baixo fibroso que palpita dentro de artérias carnudas, inchadas, frisadas e flexuosas, pelas vistosas acrobacias de
uma buliçosa bateria levemente tiquetaqueada a ritmos propulsivos, animados, desafogados
e expressivos, e ainda pela mélica formosura transpirada pelos vocais translúcidos,
espectrais, messiânicos e celestiais que ressoam por toda a infinidade do
álbum. Regresso desta seráfica obra de Dommengang de alma revitalizada e sentidos
aturdidos. ‘Wished Eye’ é um registo imensamente paradisíaco e transcendental, de
beleza miraculosa, que nos faz adormecer num imperturbável estádio de intenso
prazer. Um autêntico oásis de visões prismáticas e sensações entusiásticas onde
nos reconfortamos, banhamos e bronzeamos do primeiro ao derradeiro tema. Uma mágica utopia. Icem as
velas e velejem-no de olhar faiscante, sorriso estampado no rosto e coração a transbordar alegria.
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quarta-feira, 17 de maio de 2023
terça-feira, 16 de maio de 2023
segunda-feira, 15 de maio de 2023
domingo, 14 de maio de 2023
sábado, 13 de maio de 2023
sexta-feira, 12 de maio de 2023
quinta-feira, 11 de maio de 2023
Review: 🩸 Blood Ceremony - 'The Old Ways Remain' (2023) 🩸
Acordados de
uma longa hibernação discográfica, os canadianos Blood Ceremony estão finalmente
de regresso com o lançamento do epopeico ‘The Old Ways Remain’ pela insuspeita
mão da britânica Rise Above Records. Embruxado por um místico, aliciante,
provocante e mesmérico Occult Rock de influências comungadas em
clássicas referências como Coven e Black Widow, climatizado por
um medieval, ácido, poético e outonal Psychedelic Folk de descendência e exuberância celta
que desenterra e ressuscita velhas lendas do folclore, e colorido por um radioso,
dançante, contagiante e cheiroso Psychedelic Pop de iridescente tintura sessentista,
este quinto registo de longa duração representa o momento mais alto da
esotérica formação enraizada na cidade de Toronto. Sobrevoado por uma
sonoridade verdadeiramente enfeitiçante, irresistível e apaixonante que nos galanteia
e incendeia de inefável ataraxia, e povoado por absorventes, eloquentes e
crípticas histórias do mundo ancestral que nos respiram e embalsamam o olhar
com uma imperturbável expressão sonhadora, ‘The Old Ways Remain’ é um álbum
imensamente charmoso, sublime e ambicioso que não deixará ninguém indiferente.
Um imersivo ritual de magia negra – com ousadas diabruras, ritmos excitantes e apimentadas
fervuras – que nos faz cair e diluir na sua encantadora tentação. Aventurem-se
pelos esfíngicos, labirínticos e frondosos bosques de Blood Ceremony e
participem – de corpos desnudos, gargalhadas ecoantes e incansáveis corpos saltitantes
à volta da fogueira – neste misterioso culto de adoração pagã, superiormente presidido
por uma voz messiânica de pele melodiosa, translúcida e sedosa, uma serpenteante
flauta transversal de aura fabular que se conduz e seduz por majestosos, hipnóticos
e graciosos sopros, uma guitarra erudita, deliciosamente swingada a esplendorosos,
vivazes e ostentosos riffs de onde florescem exuberantes solos, um baixo
murmurante de reverberação filamentosa, vagueante e flexuosa, uma bateria acrobática
e tribalista de ritmicidade desembaraçada, buliçosa e enlevada, e um romanesco teclado
de odorosos, frescos e esponjosos bailados litúrgicos. Num plano secundário,
é-me importante ainda trazer à luz do elogio as fugazes, mas vistosas, aparições
de um violino trovador de soturnos mugidos, um esdrúxulo saxofone de histéricos
bramidos e um estético pedal steel de arrepiantes arranjos. ‘The Old
Ways Remain’ é uma inspirada e caprichada obra de verniz vintage que nos
remete para tempos e vivências imemoriais, caídos há muito em desuso. Percam-se e encontrem-se por
entre os seus belos contos primorosamente musicados, e testemunhem com
inapagável fascinação toda a desarmante vitalidade deste triunfante regresso de
Blood Ceremony.
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quarta-feira, 10 de maio de 2023
segunda-feira, 8 de maio de 2023
Review: 🧨 Smokey Mirror - 'Smokey Mirror' (2023) 🧨
Seis anos
volvidos desde o lançamento do seu fantástico EP de estreia (aqui
trazido e enaltecido), os texanos Smokey Mirror estão finalmente de
regresso com um dos álbuns mais aguardados do ano. Metamorfoseada de trio para
quarteto e com um elenco parcialmente renovado, a banda natural da cidade de Dallas combina
o restauro e regravação de velhos temas da banda presentes no EP – conferindo-lhes
assim uma nova roupagem – com outros novos, ainda por estrear, no seu impactante
e homónimo álbum de estreia que sai agora à rua através dos formatos físicos LP e CD pela mão da discográfica londrina Rise Above Records. Cozinhada
num ruborizado, apimentado e fumegante caldeirão, abraçado por crepitantes
lavaredas, de paladar Tex-Mex e em borbulhante ebulição, onde se
mexe e remexe um bailante, lubrificado, torneado e aliciante Heavy Blues
de afrodisíaco balanço boogie, um tonificado, fogoso, rugoso e encorpado
Hard Rock de motores turbulentos, e um eufórico, efervescente, erodente
e intrépido Heavy Psych de colorida fritura pirotécnica, a entusiástica sonoridade
de ‘Smokey Mirror’ vem sintonizada na mesma frequência de clássicas referências
como Josefus, Blue Cheer, Cactus, James Gang, Captain
Beyond, Toad e Grand Funk Railroad, bem como de outras
contemporâneas como Joy, Radio Moscow, Crypt Trip e Love
Gang. Contando ainda com carnavalescos elementos de um hipnótico e ondeante
Prog Rock e um exótico e enleante Jazz-Rock, este exuberante,
explosivo e empolgante álbum dos texanos transporta o ouvinte para a vibrante azáfama
nocturna no interior de um velho, fumacento e poeirento saloon, por
entre copos de cerveja transbordante, punhos cerrados ao alto, sorrisos
festivos e contagiantes, e corpos transpirados e bailantes. Um electrizante, faiscante
e embriagante bacanal de moldura setentista que nos embala na selvática
vertigem à alucinante boleia de duas guitarras predatórias que se entrançam em
estonteantes redemoinhos de ciclónicos, catatónicos e viciantes riffs revestidos
a abrasiva e urticante distorção, e destrançam na caótica e desenfreada debandada de venenosos,
ziguezagueantes e buliçosos solos, um baixo deliciosamente groovy que se
balanceia por entre calorosas, sinuosas e pulsantes linhas de textura palpável,
uma extravagante bateria de apurada tecnicidade jazzística que tanto se meneia entre
o polido e cintilante tilintar dos pratos e o arenoso e ronronante rufar da tarola,
como se incendeia numa furiosa detonação de flamejante comoção com acrobacias verdadeiramente
mirabolantes, e ainda vocais escabrosos, ácidos e espinhosos que completam na
perfeição toda esta tumultuosa inflamação. Smokey Mirror é um sísmico
vulcão em gorgolejante e inesgotável erupção que nos faz surfar polposos rios de lava incandescente. Um registo tremendamente apaixonante e arrebatado, dinamitado por
uma louca selvajaria psicotrópica de temperatura infernal, e ocasionalmente massajado
por mornas passagens de etérea sedução e reconforto sensorial. Alcanço a extremidade final deste fulminante rastilho completamente aturdido e convencido de que muito dificilmente
este álbum será vencido na sangrenta disputa pelo primeiro lugar da listagem onde se perfilam os melhores álbuns
nascidos em 2023.
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domingo, 7 de maio de 2023
sábado, 6 de maio de 2023
sexta-feira, 5 de maio de 2023
Review: 🎢 Kanaan - 'Downpour' (2023) 🎢
O talentoso e
criativo tridente norueguês Kanaan acaba de lançar o seu muito aguardado
sétimo álbum, intitulado ‘Downpour’ e promovido através dos formatos LP,
CD e digital pela mão da companhia discográfica local Jansen Records. Irmão
de ‘Earthbound’ – obra lançada em 2021 e aqui dissecada -, este
novo álbum da banda enraizada na cidade-capital de Oslo presenteia e
incendeia o ouvinte com uma delirante combustão resultante da faiscante mistura entre um cativante,
fogoso, fibroso e intoxicante Psychedelic Rock com vista desimpedida para as
estrelas, e um extravagante, aparatoso, ostentoso e electrizante Jazz-Rock
de instrumentos exorcizados. Combinando bucólicas, oníricas e etéreas passagens
orvalhadas a odorosa e deslumbrante beleza, um desregrado, ousado e exótico experimentalismo
de admirável escapismo sónico, uma psicotrópica efervescência, uma
caleidoscópica transcendência e escaldantes banhos de imersão num vibrante vulcão
em inesgotável erupção, ‘Downpour’ é um álbum verdadeiramente divinal – de
essência instrumental – que em nós promove a redentora, enlouquecedora e
vertiginosa evasão consciencial. Dominados pela euforizante turbulência que nos
sacode e implode com intensa violência, caímos e rodopiamos num obcecante vórtice
à estonteante boleia de uma guitarra estelar – consumida pelo crocante, abrasivo
e urticante efeito Fuzz – que se enrijece e agigante em monstruosos,
fumegantes, viciantes e libidinosos riffs de onde se deslaçam e esvoaçam
uivantes, ácidos, desvairados e trepidantes solos, um baixo viril de linhas massivas,
maciças, sísmicas e altivas, uma bateria bombástica, enfática e mirabolante de tambores
acrobáticos e pratos flamejantes, e siderais sintetizadores de idioma e
bizarria alienígenas que nos catapultam a toda a velocidade pelas autoestradas
cósmicas. São 40 minutos de esponjosa sedução em acintosa, apimentada e polvorosa
comoção. Um endiabrado vendaval de pura adrenalina que nos subtrai a lucidez e
atesta o espírito de excitante embriaguez. Uma atordoante montanha-russa de emoções à flor da pele e da qual ninguém escapará ileso. Embarquem no magnetizante, movediço,
roliço e enfeitiçante groove de Kanaan, e vivenciem na primeira
pessoa toda uma sinestésica, quimérica e psicadélica odisseia de depuração
sensorial. ‘Downpour’ é um álbum expressivo, inventivo e expansivo que
em nós cresce a cada audição. Um registo triunfante que só inflamara e empolara todo
o meu inquietante desejo de os experienciar ao vivo pela primeira vez no
festival português SonicBlast.
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quinta-feira, 4 de maio de 2023
quarta-feira, 3 de maio de 2023
terça-feira, 2 de maio de 2023
segunda-feira, 1 de maio de 2023
Review: ⚡ Danava - 'Nothing But Nothing' (2023) ⚡
Após um prolongado
jejum discográfico de doze anos, os electrizantes Danava estão finalmente
de regresso (e que regresso!) à estrada que tão bem conhecem com o lançamento
do seu tão ansiado quarto álbum denominado ‘Nothing But Nothing’ e carimbado
pelo influente selo da lendária gravadora nova-iorquina Tee Pee Records através
dos formatos físicos de LP e CD. De tubo de escape a cuspir lavaredas, ponteiro
das rotações a cabecear o limite máximo, motor escaldante e vibrante, um forte
odor a gasolina e duas décadas de quilometragem, o irreverente quarteto natural da cidade norte-americana de Portland
arranca furiosamente num barulhento muscle car locomovido a um fogoso, potente,
ardente e musculoso Heavy Rock de espadas desembainhadas e esporas
ensanguentadas nos tempestuosos territórios de Motorhead, em simbiótica parceria com um alucinante, lubrificado, torneado e galopante
Heavy Metal desenrolado à boa e velha moda de Iron Maiden. Uma endemoninhada,
demolidora e destravada locomotiva que nos viaja na eufórica vertigem de uma
enlouquecedora montanha-russa, rasga as vestes da lucidez e embriaga do primeiro ao derradeiro minuto. Conduzido a altíssima velocidade, ‘Nothing
But Nothing’ é um selvático furacão atestado de endorfinas que nos sacode, rodopia e
deixa os sentidos aturdidos. Enfrentem esta tempestade perfeita rugida por duas
indomáveis guitarras – fiéis discípulas de Michael Schenker e Dave Murray
– que articulam ciclónicos, combativos, agressivos e altivos riffs de onde são
gritados e centrifugados enxames de trepidantes, inflamantes, ziguezagueantes e
venenosos solos, trovejada por uma incansável bateria metralhada a estonteante,
explosiva, convulsiva e tonitruante ritmicidade, sombreada por um baixo sísmico
de linhas ondulantes, densas, tensas e impactantes, colorida por enfeitiçantes,
futuristas e redentores sintetizadores de cósmica atmosfera Sci-Fi, e liderada
por vocais ácidos, penetrantes, melódicos e refrescantes que profetizam o
inevitável declínio da civilização ocidental. ‘Nothing But Nothing’ é um
álbum infernal, carburado a euforizante, violenta e fulminante turbulência, que nos atropela
vezes e vezes sem conta. Saturada e efervescente adrenalina em estado musical. Um registo
cronometrado à velocidade da luz que termina com o ouvinte ofegante, transpirado,
de mãos apoiadas nos joelhos e completamente derrotado por esta impiedosa cavalaria pesada
chamada Danava. Mal posso esperar por experienciar todo este insano frenesim detonado ao vivo no festival português SonicBlast.
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