🍿 Cinema & TV de Julho, Agosto e Setembro

Behind Enemy Lines (2001) de John Moore   ★★★☆☆
Pumping Iron (1977) de George Butler & Robert Fiore   ★★★★☆
The Truman Show (1998) de Peter Weir   ★★★★☆
Black Mirror S06 (2023) de Charlie Brooker   ★★★☆☆
Searching (2018) de Aneesh Chaganty   ★★★☆☆
Cast Away (2000) de Robert Zemeckis   ★★★★☆
Brief Encounter (1945) de David Lean   ★★★★★
Blow-Up (1966) de Michelangelo Antonioni   ★★★☆☆
Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo (1966) de Sergio Leone   ★★★★★
Blue Ruin (2013) de Jeremy Saulnier   ★★★☆☆
Lucky Number Slevin (2006) de Paul McGuigan   ★★★★☆
Succession S04 (2023) de Jesse Armstrong   ★★★★★
American Graffiti (1973) de George Lucas   ★★★☆☆
The Wind that Shakes the Barley (2006) de Ken Loach   ★★★★☆
The Deer Hunter (1978) de Michael Cimino   ★★★★☆
Beef S01 (2023) de Lee Sung Jin   ★★★★☆
Love & Death S01 (2023) de David E. Kelley   ★★★★☆
Ride the High Country (1962) de Sam Peckinpah   ★★★☆☆
The Curious Case of Natalia Grace S01 (2023) de Christian Conway   ★★★☆☆
Wednesday S01 (2022) de Alfred Gough & Miles Millar   ★★★★★
Mudbound (2017) de Dee Rees   ★★★★☆

Review: 👽 Sun Dial - 'Messages from the Mothership' (2023) 👽

★★★★

Formada há mais de três décadas, a banda de culto britânica Sun Dial – liderada pelo cosmonauta Gary Ramon – chega agora às duas mãos repletas de álbuns de estúdio. Batizado pelos astros com a denominação ‘Messages from the Mothership’ e caído no planeta Terra sob a forma física de LP e CD com o carimbo da companhia discográfica germânica Sulatron Records, este novo trabalho do trio é inspirado na experiência invulgar de Gary Ramon ao ter avistado um OVNI num pântano desolado quando tinha apenas catorze anos de idade. De olhos cravados na perpétua noite cósmica, consciência desancorada e embalada à alucinante boleia de um místico, alucinógeno e ritualístico Psychedelic Rock de sotaque Pink Floyd’eano e coloração sessentista, um cativante, alienígena e viajante Space Rock de propulsão setentista e escapismo sónico à la Hawkwind, um confortável, relaxante e agradável Indie Rock de fácil digestão, e um – ainda que menos evidente – anestésico, melancólico e sidérico Shoegaze de forte odor aos 90's e sintonizado na mesma frequência de Slowdive, atravessamos incandescentes fornalhas estelares, driblamos o abraço gravitacional de planetas solitários e empoeiramos a alma nas coloridas e brilhantes malhas de fantasmagóricas nebulosas que vagueiam pela infinita vacuidade de um Cosmos pulsante. A sua sonoridade esponjosa, celestial, cerimonial e lustrosa convida-nos a comungar uma enigmática liturgia astral. De pupilas dilatadas, semblante esbranquiçado, respiração travada e espírito enfeitiçado, deixamos no chão o nosso corpo inanimado e zarpamos pelas tranquilas águas do oceano cósmico, farolizados por uma deslumbrante profusão de estonteante pirotecnia estelar. Estes relatos extraterrestres são superiormente musicados por uma guitarra mântrica de riffs intoxicantes e solos ácidos e ziguezagueantes, um baixo sombreado de reverberação movediça, uma bateria hipnótica de trote constante e minimalista, uma voz messiânica de pele etérea e ecoante, e ainda pelos quiméricos teclados de experimentalismo desregrado que perscrutam e exorcizam todas as almas sepultadas no negro solo do espaço sideral. Este é um álbum locomovido a querosene e recomendado a todos aqueles que ainda se debruçam no parapeito da janela a contemplar os céus com a imaginação deixada à solta e uma inapagável expressão sonhadora. Mergulhem nas vertiginosas profundezas deste onírico, lisérgico e policromático ‘Messages from the Mothership’, e testemunhem na primeira pessoa alguns dos mais belos e impressionantes fenómenos do Universo.

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 Sulatron Records

Review: 🎪 Rostro del Sol - 'Blue Storm' (2023) 🎪

★★★★

Dois anos após ter sido descortinado o seu mirabolante álbum de estreia (análise descritiva aqui) – que eu viria a galardoá-lo aqui com o título de melhor disco referente a 2021 – este talentoso quinteto azteca, enraizado na populosa Cidade do México, liberta agora o seu muito aguardado segundo trabalho intitulado ‘Blue Storm’ e editado no formato físico de LP através do selo britânico Stolen Body Records. Contando com um baterista diferente (ainda que o anterior tenha participado num dos novos temas) e o acréscimo de um vocalista na sua constituição, os Rostro del Sol prosseguem assim a sua exploratória e triunfante digressão musical de brilho vintage pelos ajardinados trilhos de um elegante, aprumado, ornamentado e apaixonante Jazz Rock em afrodisíaca harmonia com um serpenteante, majestoso, libidinoso e enleante Prog Rock e ainda um radioso, caleidoscópico, exótico e odoroso Psychedelic Rock. Uma multicolorida, cerebral e caramelizada colagem sonora de onde se reconhecem e saboreiam indiscretas influências de culto, provenientes dos dourados territórios sessentista e setentista, como Colosseum, Gentle Giant, Deep Purple, King Crimson, Caravan, Sweet Smoke e Soft Machine. Esculpido e climatizado por uma sonoridade faustosa, primaveril, pastoril e pretensiosa que embrulha o ouvinte num imperturbável deslumbramento onírico, ‘Blue Storm’ é um registo verdadeiramente enfeitiçante que nos mantém em constante salivação e absorvente fascinação do primeiro ao derradeiro tema. São 35 minutos banhados a seráfica radiância, jornadeados a irretocável destreza e condimentados a inefável beleza. Uma obra piramidal – de composições audaciosas e trajes aristocráticos – que se passeia, bamboleia e envaidece pelos frescos, romanescos e verdejantes campos da idílica Canterbury. Um álbum intensamente irresistível, pincelado a impressionante técnica e transbordante emoção, que nos obriga a experienciá-lo sem qualquer moderação. Deixem-se cortejar e conquistar por este opulento registo, superiormente orquestrado por uma guitarra sumptuosa que se meneia em charmosos, novelescos e tortuosos riffs de onde esvoaçam solos delirantes, labirínticos e vertiginosos, um baixo elástico de linhas saltitantes, fluídas e dançantes, uma acrobática, enfática e circense bateria soberbamente tiquetaqueada a desarmante sensibilidade jazzística, um altivo teclado de intrigantes, polposos, imperiosos e serpenteantes mugidos, uma voz fidalga e galante – de pele espirituosa, aveludada, ostentosa e apurada – que fica a meio caminho entre Derek Shulman (Gentle Giant) e James Litherland (Colosseum), uma mágica flauta transversal de sopros sedosos, leves, fabulares e melodiosos, e ainda um vibrante tridente constituído por radiosos, jubilosos, expressivos e aparatosos saxofones de sangue mariachi e suor latino. ‘Blue Storm’ é uma obra riquíssima, aureolada por um esplendoroso revivalismo que muito me apraz, baloiçada entre reconfortantes passagens oxigenadas a etérea acalmia, e estonteantes galopadas de instrumentos em apoteótica e simbiótica debandada. Um dos mais sérios candidatos a encabeçar a lista dos melhores álbuns do ano está aqui, no novo cabaret jazzístico dos mexicanos Rostro del Sol.

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 Stolen Body Records

sábado, 23 de setembro de 2023

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Review: 🔮 Mondo Drag - 'Through The Hourglass' (2023) 🔮

★★★★

Findado um jejum discográfico de sete anos – principiado na ressaca do lançamento de ‘The Occultation Of Light’ (análise aqui) – o fascinante quinteto californiano, sediado na cidade de Oakland, descortina agora o seu tão ansiado novo álbum, intitulado ‘Through The Hourglass’ e editado pela RidingEasy Records através dos formatos físicos de LP e CD. Edificando uma ponte revivalista que liga os universos progressivos britânico (onde comunga a influência de bandas como Pink Floyd, Camel, YES, Genesis, Van Der Graaf Generator e King Crimson) e italiano (onde se perscrutam ecos de clássicas referências como Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Le Orme, Museo Rosenbach, Goblin e Reale Accademia di Musica), a profética, balsâmica e magnânima sonoridade de ‘Through The Hourglass’ passeia-se envaidecida e graciosamente pelos frondosos jardins de um dramático, pomposo, lustroso e quimérico Prog Rock de adornada moldura vintage, que se embruma num reflexivo, místico, onírico e lenitivo Psychedelic Rock com vista desabrigada para a deslumbrante noite cósmica. Absorvidos neste frágil e etéreo sonho acordado que evoca a doce nostalgia e nos viaja – sonâmbulos – nas asas do tempo, embarcamos numa fantástica odisseia pelos infindáveis oceanos do Cosmos. Velejando águas pacíficas e surfando ocasionais ondas monolíticas, atravessamos os diferentes climas que oxigenam esta inspiradora e sublimada obra de Mondo Drag. Uma perfumada, suavizante e texturizada brisa sonora que nos embevece, adormece e iça as velas da imaginação. Baloicem os vossos corpos à prazerosa boleia de duas guitarras dançantes que se entrançam na ascensão de imperiosos, sedutores e ostentosos riffs e destrançam na superior condução de solos esvoaçantes, ácidos e serpenteantes, uma mágica profusão de teclados que orvalham toda a atmosfera encantada do álbum com uma cósmica liturgia de onde sobressaem majestosos, polposos e coloridos mugidos, e todo um efervescente experimentalismo sónico de natureza alienígena, um baixo de forte presença que reverbera linhas obesas, coesas e ondeantes, uma bateria jazzística de ritmos requintados que se equilibram por entre a cintilante delicadeza e a flamejante rudeza, e uma trovadora voz de pele delicada, melodiosa e adocicada que faroliza com apurado lirismo toda esta admirável jornada pelas lampejantes fornalhas estelares que incendeiam a negrura sideral. São 40 minutos de um ofuscante brilho que nos transporta aos domínios do tão almejado nirvana. ‘Through The Hourglass’ é um registo piramidal, do tamanho da minha grandiosa expectativa a ele dedicada. Um álbum intensamente enfeitiçante, dedicado a todos aqueles que não têm receio de sonhar sem fronteiras e se aventurar para lá do lado eclipsado da Lua. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo perfilado entre os álbuns mais medalhados de 2023. Mistifiquem-se nele.

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 RidingEasy Records

Review: 🪐 Domkraft - 'Sonic Moons' (2023) 🪐

★★★★

Com o epicentro localizado na cidade-capital de Estocolmo (Suécia), chegam-nos as ondas sísmicas provocadas pelo enérgico power-trio Domkraft que nos presenteia e bombardeia com o seu novíssimo álbum – provavelmente o meu favorito da banda nórdica – intitulado ‘Sonic Moons’ e lançado pela mão da Magnetic Eye Records através dos formatos LP, CD, cassete e digital. Este novo capítulo da sua impactante propulsão cósmica principiada em 2015 tem como combustível um intoxicante, vertiginoso, delirante e poderoso Psychedelic Doom – sintonizado na mesma frequência dos saudosos Zoroaster – que nos viaja a uma estonteante velocidade pelas autoestradas da vacuidade sideral e distorce as coordenadas do espaço-tempo. A sua sonoridade buliçosa, vigorosa e electrizante embarca o ouvinte num alucinante escapismo sónico que lhe subtrai toda a lucidez e sensibilidade sensorial, deixando-o à deriva num insano estádio de febril embriaguez. De dentes cravados no lábio inferior, olhar fulminante e cabeça rodopiante, driblamos todos os astros que se vão desenraizando e revelando no firmamento do negro solo cósmico e resvalamos as costuras que delimitam a infinidade celestial. Uma turbulenta, redentora e enlouquecedora odisseia à impressionante boleia deste cometa que golpeia e incendeia a eterna noite espacial. ‘Sonic Moons’ é uma intensa detonação de adrenalina que não deixará ninguém indiferente. Uma mastodôntica avalanche de endorfinas que nos atropela e sacode. Deixem-se varrer pelas fortes rajadas de ventos psicotrópicos bafejados por uma imperiosa guitarra – encrostada a crocante, crepitante e faiscante efeito Fuzz – que se agiganta numa obsessiva marcha de enfeitiçantes, monolíticos, místicos e viciantes riffs de onde esvoaçam escorregadios, trepidantes, ziguezagueantes e gélidos solos, ensombrecer pela umbrosa, oleosa, espessa e pantanosa reverberação de um baixo hipnótico, açoitar pela viril potência de uma vulcânica bateria pontapeada a expressiva, explosiva, robusta e incisiva ritmicidade, e estremecer pela rispidez dos vocais ecoantes, ásperos, abrasivos e gritantes. A colorida e soberbamente detalhada ilustração que dá rosto a esta infernal combustão aponta os seus créditos autorais ao artista sueco Björn Atldax (que há muito colabora com a banda). São 47 minutos de incessante ebulição. Um violento, vibrante e barulhento arrastão que nos canaliza e inferniza pelos buracos negros do Universo. Chego ao fim desta galopante viagem galáctica completamente atordoado, extenuado, ofegante e de mãos apoiadas nos joelhos. Este é um álbum verdadeiramente demolidor, detentor de uma inflamada e efervescente pujança que nos agride e centrifuga sem qualquer misericórdia. Isto é Domkraft no seu melhor.

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 Magnetic Eye Records

Review: 🍂 Bushman's Revenge - 'All The Better For Seeing You' (2023) 🍂

★★★★

É numa atmosfera enfumarada e de brilho festivo – na ressaca dos parabéns cantados, aplausos calados e das vinte velas sopradas, referentes ao 20º aniversário desta banda norueguesa – que se ouve o primeiro choro do recém-nascido ‘All The Better For Seeing You’, o esmerado 11º trabalho de longa duração de Bushman's Revenge (e, devo já antecipar, o meu favorito do apaixonante tridente nórdico). Saído à rua sob os formatos LP, CD e digital – com o carimbo da jovem, mas muito promissora, editora local Is it Jazz? Records – este novo álbum dos intratáveis Jazz cats sediados na cidade-capital norueguesa de Oslo é capitaneado por um refinado, elegante, deslumbrante e aromatizado Contemporary Jazz de folhenta, orvalhada e pardacenta moldura outonal (a fazer recordar a cinematográfica sonoridade do músico dinamarquês Jakob Bro) que ocasionalmente se metamorfoseia num aparatoso, esdrúxulo e efervescente Jazz Fusion à la Mahavishnu Orchestra e não dispensa a quente coloração de um exótico, sumarento e tropical Psychedelic Rock de paladar oceânico a The Mermen (mais concretamente ao neptuniano trabalho a solo do guitarrista Jim Thomas), e a serpenteante condução de um dançante, exuberante e hipnótico Progressive Rock de expressivas feições King Crimson’eanas. A sua sonoridade relaxante, reflexiva, sedutora e prontamente conquistadora deixa o ouvinte de espírito maravilhado, sorriso escancarado no rosto, olhar lacrimejante de expressão nostálgica, e respiração capturada. Uma contemplativa, reparadora, comovente e imaginativa passeata pelas planícies campesinas de frescura escandinava que se espreguiçam debaixo de uma morna luz crepuscular e perdem no enevoado firmamento. Na génese deste sagrado fármaco que nos massaja o cerebelo, afrouxa o corpo e reconforta a alma, conversam, numa sublime simbiose instrumental, uma guitarra – discípula dos virtuosos John MclaughlinAllan Holdsworth – que dedilha e rendilha toda uma incontável e arrebatadora profusão de refrescantes, cristalinos, diamantinos e deslumbrantes acordes condimentados a desarmante beleza e executados a imaculada destreza, um murmurante baixo de linhas grossas, fluídas, sombreadas e ondeantes que preenche com distinção todos os espaços amplos bem como os mais angulosos das estéticas composições que lavram este disco, e uma bateria deliciosamente jazzística, de toque saltitante, polido, inventivo e cintilante, que tiquetaqueia com assombrosa soltura e irreverente postura esta autêntica obra-prima. Este é um registo verdadeiramente edénico, farolizado por uma fina sensibilidade e uma donairosa sagacidade, que me fascinara de uma forma avassaladora. Foi um caso de amor à primeira audição, e o acumular de renovadas audições ainda destapa novos e suculentos detalhes que só insuflam toda a piramidal reverência que eu já nutro por este irretocável registo. ‘All The Better For Seeing You’ é um álbum precioso que não só conserva uma ébria e etérea fragilidade emocional (capaz de petrificar o ouvinte), como explora – de forma temerária e experimental – outros climas sonoros mais fogosos, ritmados e libidinosos que nos rebaixam as pálpebras, rodopiam a cabeça e acaloram o espírito. Esta 11ª obra de Bushman’s Revenge tem tudo o que mais desejo encontrar num álbum que cruza a camaleónica música Jazz com (in)discretos vestígios psicadélicos e progressivos. Um dos mais sérios candidatos a melhor disco do ano está aqui. Embrulhem-se nele.

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 Is It Jazz? Records