Da populosa e
fremente Cidade do México (capital do México) chega-nos um dos álbuns
por mim mais aguardados de 2021. ‘Rostro del Sol’ é o homónimo disco
de estreia deste jovem, mas muitíssimo talentoso, quarteto azteca, que de
forma brilhante – e para meu trasbordante regozijo – conjuga a sua música no
pretérito. Com o respectivo lançamento integral e oficial agendado para o próximo dia
29 do vigente mês (sexta-feira) pela mão do emergente selo discográfico local LSDR
Records (acrónimo de Loud, Slow and Distorted Riffs) sob a forma digital e numa rara edição
em CD (ultra-limitada a apenas 100 cópias disponíveis), este primeiro passo
discográfico de Rostro del Sol traz-nos um colorido, perfumado e
caleidoscópico sortido sonoro de onde se identifica e degusta um delirante,
excitante e tropical Psychedelic Rock, um serpenteante, enfeitiçante e triunfal
Progressive Rock e ainda um sumptuoso, aparatoso e orquestral Jazz Rock.
Combinando o exótico virtuosismo de Jimi Hendrix e Carlos Santana
com a carnavalesca vitalidade de uns Mogul Thrash, a aventurosa sagacidade
de Soft Machine e Mahavishnu Orchestra, o arejado misticismo jazzístico de Sweet Smoke,
e ainda com o abstracto cabaret domesticado pelo Frank Zappa, esta irretocável,
caprichosa e venerável obra representa um imaculado tributo aos lisérgicos anos
60 e 70. Contando ainda com destemidas incursões pelos territórios de um
sinuoso, principesco e majestoso Blues, e de um fogoso, ritmado e suado Funk,
a sua sonoridade camaleónica, afrodisíaca, veraneante e prismática desdobra-se numa
instrumentação habilmente elaborada que envolve e revolve a alma do ouvinte
numa arborizada teia de sonhos. Na fórmula desta efervescente alquimia de
chamejante simbiose instrumental dialogam entre si uma ácida guitarra que se envaidece
num vendaval em espiral de ziguezagueantes, histéricos, orgiásticos e atordoantes
solos de pomposa caligrafia Jimi Hendrix’eana, uma bateria
soberbamente jazzy que – à boleia dos vertiginosos rufos na tarola,
timbalões galopantes e pratos sibilantes – embala em imersivas, vistosas e
criativas acrobacias circenses de tirar o fôlego, um baixo oscilante de linhas
fluídas, onduladas, empoladas e magnetizantes, um excêntrico saxofone de sopros
lustrosos, ferozes, turbilhonantes e gloriosos, um quimérico teclado de sotaque
Jon Lord’eano que com as suas frescas, cheirosas e harmoniosas
melodias banha e condimenta todo este álbum verdadeiramente piramidal. De
salientar e exultar ainda o fabuloso artwork de ambiência surrealista –
a fazer recordar o pitoresco Salvador Dalí – superiormente concebido
pela artista mexicana Elena Ibáñez. São 32 minutos inteiramente climatizados
por um idílico, ritualístico e sumarento deslumbramento de cores berrantes,
palpáveis e pulsantes que me eclipsara a lucidez e em mim hospedara todo um
febril estádio de doce e imperturbável embriaguez. Um paradisíaco deboche de redenção
sensorial que nos ascende e prende aos braços do transe espiritual. Deixem-se
dissolver, intoxicar e embevecer nesta profunda hipnose oxigenada a LSD, e
comunguem todo o expressivo esplendor de um álbum recostado nas tão almejadas
fronteiras da perfeição. Não vai ser nada fácil contrariar o seu imenso favoritismo
à conquista do título de melhor disco do ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ LSDR Records
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