Review: 🔱 Sacri Monti - 'Retrieval' (2024) 🔱

★★★★

Está finalmente lançado um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. Depois do impactante disco de estreia (review aqui) nascido em 2015, de designação homónima e governado pela efervescente, intensa e electrizante combustão do Heavy Psych, e do maravilhoso segundo trabalho intitulado ‘Waiting Room for the Magic Hour’ (review aqui), datado de 2019, e velejado através de místicas, ensolaradas e paradisíacas paisagens do Psychedelic Rock de afável clima west-coast e coloridas pinceladas Progressivas, este terceiro álbum de estúdio do talentoso quinteto Sacri Monti – residente na cidade californiana de San Diego – combina o melhor dos dois mundos: um deslumbrante, sensual, estival e empolgante Heavy Psych de contagiante toxicidade e fresca fragância oceânica, e um majestoso, melódico, comovente e ostentoso Progressive Rock de inspiração colhida nos dourados 70’s e com vista panorâmica para a imensa noite cósmica onde pulsam e flamejam pálidos e solitários astros. Carimbado com o selo da histórica companhia discográfica nova-iorquina Tee Pee Records (com a qual a banda californiana reforça o seu vínculo contractual) e lançado sob a forma física de LP, ‘Retrieval’ causa no ouvinte o mesmo efeito de um revitalizante mergulho nas frescas águas do mar durante um dia abafado e de pele bronzeada e banhada em suor. Um monolítico tsunami de endorfinas que nos engole, revolve e desagua nas radiosas, virgens e milagrosas praias do paraíso. Um sumarento refresco de verão, degustado com os pés soterrados nas aveludadas e amarelecidas areias das dunas e olhos arremessados na vertiginosa direcção do inalcançável firmamento pelágico onde um reluzente Sol de raios crepusculares se debruça e desmaia. Surfado por uma sonoridade enfeitiçante, sinuosa, lustrosa e apaixonante, ‘Retrieval’ presenteia e prazenteia o ouvinte com veneráveis composições que tanto o inflamam e euforizam com rodopiantes, sónicas e estonteantes galopadas espicaçadas por um abrasivo chicote em chamas, como o enternecem e anestesiam com oníricas, extasiantes e proféticas passagens arejadas e climatizadas pela reflexiva lisergia. Com excepção do breve, misterioso e introspectivo “Moon Canyon” que é leve e ociosamente tricotado por guitarras uivantes e um teclado de mugidos intrigantes debaixo da alvacenta luz do luar, todos os restantes temas se envolvem num luxurioso, desavergonhado e aparatoso flirt entre o delirante Psychedelic Rock e o enleante Progressive Rock, levado a cabo por duas guitarras vistosas que se cruzam na ascensão e orientação de épicos, formosos, titânicos, e faustosos riffs capazes de tocar os céus e fazer estremecer o próprio Poseidon, e descruzam no alucinante serpenteio de afrodisíacos, ácidos, translúcidos e ofuscantes solos em debandada, um murmurante baixo de linhas possantes, elásticas, movediças e magnetizantes, um romanesco teclado de divinais, imersivos, polposos e gloriosos coros celestiais, uma extraordinária bateria – de elevada fineza jazzística – superiormente locomovida a acrobáticos, expressivos e enfáticos desembaraços de uma destreza atordoante, e uma voz liderante, harmoniosa, assanhada e rugosa que capitaneia de forma triunfante esta destemida nau pela dramática fúria dos mares. ‘Retrieval’ é um álbum verdadeiramente sentimental, sofisticado e magistral, de dimensão colossal, que transmite poderosas sensações e irradia douradas vibrações. Um registo que conjuga a simplicidade e a complexidade, a ternura e a bravura, a serenidade e a impetuosidade. Um dos mais grandiosos álbuns do ano está aqui, no tão ansiado regresso de uma das minhas bandas favoritas. Mal posso esperar por experienciar ao vivo todo o seu epopeico esplendor na iminente 12ª edição do festival SonicBlast calendarizada para a semana que se segue.

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sexta-feira, 19 de julho de 2024

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Review: 🪐 Moonseeds - 'Moonseeds' (2024) 🪐

★★★★

Quis o acaso que, no ano de 2018 e durante a tour europeia da banda australiana Seedy Jeezus, o guitarrista Lex Waterreus, a baixista Komet Lulu e o multi-instrumentista Sula Bassana (estes dois então integrantes da banda germânica Electric Moon) se encontrassem na Alemanha. Desse encontro resultaria uma intuitiva, reflexiva, descontraída e imaginativa jam session oxigenada a lisergia, só agora descortinada e apresentada através dos formatos LP (limitado a uma prensagem 500 cópias), CD (limitado ao fabrico de apenas 300 cópias) e digital com o carimbo discográfico da alemã Sulatron Records. Sob a designação de Moonseeds, este inesperado (mas simbiótico) power-trio deu as mãos e apontou os seus instrumentos à imensurável vastidão celestial, viajando pela eterna noite cósmica, driblando o abraço gravitacional dos astros, trespassando as multicoloridas poeiras das fantasmagóricas nebulosas e agarrando as rédeas de indomáveis cometas que cavalgam os desertos astrais. Tendo como suas estrelas orientadoras um lenitivo, atmosférico e introspectivo Psychedelic Rock e um ventilado, magnético e matizado Space Rock, a relaxante, absorvente e reconfortante sonoridade de ‘Moonseeds’ desdobra-se vagarosa e ociosamente num universo entorpecido, futurista, intimista e anoitecido, libertando o nosso ego, escancarando as portas da percepção e consagrando a nossa espiritualidade numa gloriosa ascensão ultraterrestre, deixando em terra o nosso corpo caído, despido e inanimado. Um poderoso sedativo compartimentado em três longas faixas de colorida acidez, pesada embriaguez e caleidoscópico psicadelismo. Um vertiginoso mergulho nas profundezas do universo onírico, soberbamente musicado por uma guitarra exploratória que se perde e encontra por entre delirantes, alucinógenos e atordoantes devaneios, um enfeitiçante baixo de reverberação elástica, hipnótica e pachorrenta, uma bateria minimalista de galope relaxado, pausado e tribalista, teclados melancólicos de transcendentes efeitos sónicos e intrigantes sirenes cósmicos, e ainda a surpreendente aparição de vocais brumosos, vaporosos e espectrais que condimentam a ébria madrugada do mais curto dos três temas. Deixem-se diluir nesta poderosa narcose que nos adormece os sentidos ao repetitivo e monótono canto das cigarras, e sob a pálida luz das estrelas que chamejam na intensa negrura do espaço bocejante. São 42 anestésicos minutos que nos tombam as pesadas pálpebras sobre um olhar temulento, desacelera o ritmo cardíaco e aspira o ar que respiramos. É pura letargia que cativa e deslumbrante magia que iça as velas ao sabor da imaginação. Está, assim, desabrochada a primeira (e única?) flor desta semente sepultada em solo lunar. Uma fantástica odisseia espacial – de afago sensorial – que merece a construção de novos capítulos.

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 Sulatron Records

Review: 🏄 Causa Sui - 'From the Source' (2024) 🏄

★★★★

Na iminência de alcançar e comemorar o seu vigésimo aniversário, os icónicos Causa Sui acabam de acrescentar mais um invulnerável álbum à sua populosa e preciosa discografia. Denominado ‘From the Source’ e lançado pela mão da insuspeita discográfica El Paraiso Records através dos formatos LP, CD e digital, este 16º trabalho do talentoso quarteto dinamarquês representa mais uma musicada, sagrada e divinal ode ao endeusado Sol. Combinando a prismática luzência de um bronzeado, extasiante, deslumbrante e ensolarado Psychedelic Rock de salgado aroma oceânico, a beleza cinematográfica de um ambiental, contemplativo, anestésico e estival Post-Rock de venerada aura seráfica, e os enleantes serpenteios de um inebriante, exótico, atmosférico e enfeitiçante Prog Rock de intenso brilho cósmico, a viciante, viajante e caravânica sonoridade de ‘From the Source’ – cuidadosamente talhada por um cinzel jazzístico e alegremente troteada ao ritualístico ritmo Zamrock – viaja o ouvinte das aveludadas, quentes e tisnadas areias das ondulantes dunas do deserto à vertiginosa, gloriosa e transformadora transcendência pelas inexploradas artérias siderais, vogando ainda pelos cintilantes, quietos e refrescantes mares matizados de um imenso azul turquesa. Inundados por uma lustrosa sensação de plena satisfação, nutridos pela vitamina D que o mesmo irradia, embriagados pelas etéreas brisas suspiradas pelos astros e farolizados de encontro às virginais praias do paraíso, entramos em órbita do sedutor misticismo de Causa Sui e não mais dele descarrilamos. Bailando por entre odorosas, delicadas, arejadas e graciosas melodias de afável clima tropical que nos massajam, relaxam e enternecem, e rugosas, rodopiantes, delirantes e fogosas galopadas que nos sacodem, engolem e derretem sem misericórdia, damos à costa de um ataráxico estado oxigenado pelo nirvana. São 47 minutos de luxuosa estadia no Jardim do Éden (com especial destaque para a última faixa: uma excepcional suite dividida em sete partes que ocupa metade do álbum), prazerosamente servidos por uma messiânica guitarra, discípula de Santana, que se manifesta em diáfanos, plácidos e alucinógenos acordes, coloridos, ácidos e caleidoscópicos solos, e efervescentes, poderosos e rastejantes riffs chamejados pela incandescente, vulcânica e electrizante distorção, uma bateria acrobática, enfática e tribalista de galopantes tambores e pratos flamejantes, um magnetizante baixo de linhas obesas, oleosas e coesas, e teclados cerimoniais de polposos mugidos e ecos celestiais. ‘From the Source’ é um registo intensamente ofuscante, irresistível e apaixonante que toca a perfeição. Um oásis palpável que afaga o nosso corpo e embriaga os nossos sentidos. Uma perfeita sinestesia que causa no ouvinte toda uma multicolorida salada sensorial e o deixa à deriva na infinita vacuidade astral. Deixem-se flutuar pelo beatífico, afrodisíaco e dançante groove de Causa Sui, e bebam sem moderação um dos cocktails sonoros mais deliciosos deste verão.

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