quarta-feira, 31 de julho de 2024
terça-feira, 30 de julho de 2024
Review: 🔱 Sacri Monti - 'Retrieval' (2024) 🔱
Está
finalmente lançado um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. Depois do impactante
disco de estreia (review aqui) nascido em 2015, de designação
homónima e governado pela efervescente, intensa e electrizante combustão do Heavy
Psych, e do maravilhoso segundo trabalho intitulado ‘Waiting Room for
the Magic Hour’ (review aqui), datado de 2019, e velejado através de
místicas, ensolaradas e paradisíacas paisagens do Psychedelic Rock de afável
clima west-coast e coloridas pinceladas Progressivas, este
terceiro álbum de estúdio do talentoso quinteto Sacri Monti – residente
na cidade californiana de San Diego – combina o melhor dos dois mundos: um
deslumbrante, sensual, estival e empolgante Heavy Psych de contagiante
toxicidade e fresca fragância oceânica, e um majestoso, melódico, comovente e ostentoso
Progressive Rock de inspiração colhida nos dourados 70’s e com vista panorâmica
para a imensa noite cósmica onde pulsam e flamejam pálidos e solitários astros.
Carimbado com o selo da histórica companhia discográfica nova-iorquina Tee
Pee Records (com a qual a banda californiana reforça o seu vínculo
contractual) e lançado sob a forma física de LP, ‘Retrieval’ causa no
ouvinte o mesmo efeito de um revitalizante mergulho nas frescas águas do mar durante
um dia abafado e de pele bronzeada e banhada em suor. Um monolítico tsunami de
endorfinas que nos engole, revolve e desagua nas radiosas, virgens e milagrosas
praias do paraíso. Um sumarento refresco de verão, degustado com os pés
soterrados nas aveludadas e amarelecidas areias das dunas e olhos arremessados na
vertiginosa direcção do inalcançável firmamento pelágico onde um reluzente Sol
de raios crepusculares se debruça e desmaia. Surfado por uma sonoridade enfeitiçante,
sinuosa, lustrosa e apaixonante, ‘Retrieval’ presenteia e prazenteia o
ouvinte com veneráveis composições que tanto o inflamam e euforizam com rodopiantes,
sónicas e estonteantes galopadas espicaçadas por um abrasivo chicote em chamas,
como o enternecem e anestesiam com oníricas, extasiantes e proféticas passagens
arejadas e climatizadas pela reflexiva lisergia. Com excepção do breve, misterioso e introspectivo “Moon Canyon” que é leve e ociosamente tricotado por
guitarras uivantes e um teclado de mugidos intrigantes debaixo da alvacenta luz
do luar, todos os restantes temas se envolvem num luxurioso, desavergonhado e aparatoso
flirt entre o delirante Psychedelic Rock e o enleante Progressive
Rock, levado a cabo por duas guitarras vistosas que se cruzam na ascensão e orientação de épicos, formosos, titânicos, e faustosos riffs capazes de tocar os céus e fazer estremecer o próprio Poseidon, e descruzam no alucinante serpenteio de afrodisíacos,
ácidos, translúcidos e ofuscantes solos em debandada, um murmurante baixo de linhas possantes,
elásticas, movediças e magnetizantes, um romanesco teclado de divinais, imersivos,
polposos e gloriosos coros celestiais, uma extraordinária bateria – de elevada fineza
jazzística – superiormente locomovida a acrobáticos, expressivos e enfáticos desembaraços
de uma destreza atordoante, e uma voz liderante, harmoniosa, assanhada e rugosa
que capitaneia de forma triunfante esta destemida nau pela dramática fúria dos mares. ‘Retrieval’
é um álbum verdadeiramente sentimental, sofisticado e magistral, de dimensão colossal, que transmite poderosas sensações e irradia douradas vibrações. Um
registo que conjuga a simplicidade e a complexidade, a ternura e a bravura, a
serenidade e a impetuosidade. Um dos mais grandiosos álbuns do ano está aqui, no
tão ansiado regresso de uma das minhas bandas favoritas. Mal posso esperar por experienciar ao vivo todo o seu epopeico esplendor na iminente 12ª edição do festival SonicBlast calendarizada para a
semana que se segue.
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segunda-feira, 29 de julho de 2024
domingo, 28 de julho de 2024
sábado, 27 de julho de 2024
sexta-feira, 26 de julho de 2024
quinta-feira, 25 de julho de 2024
quarta-feira, 24 de julho de 2024
terça-feira, 23 de julho de 2024
domingo, 21 de julho de 2024
sexta-feira, 19 de julho de 2024
quinta-feira, 18 de julho de 2024
quarta-feira, 17 de julho de 2024
terça-feira, 16 de julho de 2024
segunda-feira, 15 de julho de 2024
sexta-feira, 12 de julho de 2024
quinta-feira, 11 de julho de 2024
quarta-feira, 10 de julho de 2024
Review: 🪐 Moonseeds - 'Moonseeds' (2024) 🪐
Quis o acaso
que, no ano de 2018 e durante a tour europeia da banda australiana Seedy
Jeezus, o guitarrista Lex Waterreus, a baixista Komet Lulu e o
multi-instrumentista Sula Bassana (estes dois então integrantes da banda
germânica Electric Moon) se encontrassem na Alemanha. Desse encontro
resultaria uma intuitiva, reflexiva, descontraída e imaginativa jam session
oxigenada a lisergia, só agora descortinada e apresentada através dos formatos LP
(limitado a uma prensagem 500 cópias), CD (limitado ao fabrico de apenas 300
cópias) e digital com o carimbo discográfico da alemã Sulatron Records. Sob
a designação de Moonseeds, este inesperado (mas simbiótico) power-trio deu as mãos e apontou
os seus instrumentos à imensurável vastidão celestial, viajando pela eterna noite
cósmica, driblando o abraço gravitacional dos astros, trespassando as multicoloridas
poeiras das fantasmagóricas nebulosas e agarrando as rédeas de indomáveis cometas
que cavalgam os desertos astrais. Tendo como suas estrelas orientadoras um lenitivo,
atmosférico e introspectivo Psychedelic Rock e um ventilado, magnético e
matizado Space Rock, a relaxante, absorvente e reconfortante sonoridade
de ‘Moonseeds’ desdobra-se vagarosa e ociosamente num universo
entorpecido, futurista, intimista e anoitecido, libertando o nosso ego,
escancarando as portas da percepção e consagrando a nossa espiritualidade numa
gloriosa ascensão ultraterrestre, deixando em terra o nosso corpo caído,
despido e inanimado. Um poderoso sedativo compartimentado em três longas faixas
de colorida acidez, pesada embriaguez e caleidoscópico psicadelismo. Um vertiginoso
mergulho nas profundezas do universo onírico, soberbamente musicado por uma
guitarra exploratória que se perde e encontra por entre delirantes,
alucinógenos e atordoantes devaneios, um enfeitiçante baixo de reverberação elástica,
hipnótica e pachorrenta, uma bateria minimalista de galope relaxado, pausado e tribalista, teclados melancólicos de transcendentes efeitos sónicos e intrigantes
sirenes cósmicos, e ainda a surpreendente aparição de vocais brumosos, vaporosos
e espectrais que condimentam a ébria madrugada do mais curto dos três temas.
Deixem-se diluir nesta poderosa narcose que nos adormece os sentidos ao repetitivo
e monótono canto das cigarras, e sob a pálida luz das estrelas que chamejam na
intensa negrura do espaço bocejante. São 42 anestésicos minutos que nos tombam as
pesadas pálpebras sobre um olhar temulento, desacelera o ritmo cardíaco e aspira
o ar que respiramos. É pura letargia que cativa e deslumbrante magia que iça as
velas ao sabor da imaginação. Está, assim, desabrochada a primeira (e única?) flor
desta semente sepultada em solo lunar. Uma fantástica odisseia espacial – de afago
sensorial – que merece a construção de novos capítulos.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Sulatron Records
terça-feira, 9 de julho de 2024
segunda-feira, 8 de julho de 2024
domingo, 7 de julho de 2024
sábado, 6 de julho de 2024
sexta-feira, 5 de julho de 2024
quinta-feira, 4 de julho de 2024
Review: 🏄 Causa Sui - 'From the Source' (2024) 🏄
Na iminência de alcançar e comemorar o seu vigésimo aniversário, os icónicos Causa Sui acabam de acrescentar
mais um invulnerável álbum à sua populosa e preciosa discografia. Denominado ‘From
the Source’ e lançado pela mão da insuspeita discográfica El Paraiso
Records através dos formatos LP, CD e digital, este 16º trabalho do talentoso
quarteto dinamarquês representa mais uma musicada, sagrada e divinal ode ao endeusado
Sol. Combinando a prismática luzência de um bronzeado, extasiante, deslumbrante
e ensolarado Psychedelic Rock de salgado aroma oceânico, a beleza
cinematográfica de um ambiental, contemplativo, anestésico e estival Post-Rock
de venerada aura seráfica, e os enleantes serpenteios de um inebriante, exótico,
atmosférico e enfeitiçante Prog Rock de intenso brilho cósmico, a viciante,
viajante e caravânica sonoridade de ‘From the Source’ – cuidadosamente talhada
por um cinzel jazzístico e alegremente troteada ao ritualístico ritmo Zamrock
– viaja o ouvinte das aveludadas, quentes e tisnadas areias das ondulantes dunas
do deserto à vertiginosa, gloriosa e transformadora transcendência pelas inexploradas
artérias siderais, vogando ainda pelos cintilantes, quietos e refrescantes
mares matizados de um imenso azul turquesa. Inundados por uma lustrosa sensação
de plena satisfação, nutridos pela vitamina D que o mesmo irradia, embriagados
pelas etéreas brisas suspiradas pelos astros e farolizados de encontro às virginais
praias do paraíso, entramos em órbita do sedutor misticismo de Causa Sui
e não mais dele descarrilamos. Bailando por entre odorosas, delicadas, arejadas
e graciosas melodias de afável clima tropical que nos massajam, relaxam e enternecem,
e rugosas, rodopiantes, delirantes e fogosas galopadas que nos sacodem, engolem
e derretem sem misericórdia, damos à costa de um ataráxico estado oxigenado
pelo nirvana. São 47 minutos de luxuosa estadia no Jardim do Éden (com especial destaque
para a última faixa: uma excepcional suite dividida em sete partes que ocupa
metade do álbum), prazerosamente servidos por uma messiânica guitarra, discípula de Santana, que se manifesta em diáfanos, plácidos e alucinógenos acordes, coloridos, ácidos e caleidoscópicos
solos, e efervescentes, poderosos e rastejantes riffs chamejados pela incandescente,
vulcânica e electrizante distorção, uma bateria acrobática, enfática e
tribalista de galopantes tambores e pratos flamejantes, um magnetizante baixo de
linhas obesas, oleosas e coesas, e teclados cerimoniais de polposos mugidos e
ecos celestiais. ‘From the Source’ é um registo intensamente ofuscante, irresistível
e apaixonante que toca a perfeição. Um oásis palpável que afaga o nosso corpo e
embriaga os nossos sentidos. Uma perfeita sinestesia que causa no ouvinte toda uma
multicolorida salada sensorial e o deixa à deriva na infinita vacuidade astral.
Deixem-se flutuar pelo beatífico, afrodisíaco e dançante groove de Causa
Sui, e bebam sem moderação um dos cocktails sonoros mais deliciosos
deste verão.
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