sexta-feira, 7 de maio de 2021

Review: ⚡ Jordsjø - 'Pastoralia' (2021) ⚡


★★★★

Há dois anos traduzia em emotivas palavras tudo aquilo que o segundo álbum dos noruegueses Jordsjø em mim cultivara (review aqui), e hoje sinto-me novamente impelido a replicar o louvor a este talentoso duo escandinavo. Intitulado ‘Pastoralia’ e oficialmente lançado hoje mesmo através da sua compatriota Karisma Records nos formatos físicos de CD e vinil, esta nova obra superiormente musicada pelo dueto enraizado na cidade-capital de Oslo desprende toda uma suavizante, cheirosa e revitalizante frescura nórdica de aura fabular que conserva o ouvinte num perfeito estádio de imperturbável deslumbramento. Norteado por um nostálgico, medieval e bucólico Progressive Rock de agradável sotaque Canterbury’esco e ornamentado polimento jazzístico, em dialogante harmonia com um reflexivo, idílico e lenitivo Folk de esplendor primaveril e com ainda discretas passagens pela música erudita, este arejado, primoroso e sublimado ‘Pastoralia’ passeia-se elegantemente pelas verdejantes e arborizadas planícies de uma magnificente, romântica e enfeitiçante sonoridade que nos embevece o espírito, desenha um genuíno sorriso no rosto e climatiza o olhar com uma inapagável expressão sonhadora. Com vestígios de carismáticas influências como Popol Vuh, Genesis, Camel, King Crimson, Gentle Giant e Caravan, este irretocável álbum de Jordsjø vive do principesco detalhe, da graciosa subtileza e de uma desarmante beleza. Um disco de luxuosas, deleitosas, misteriosas e inspiradoras composições que contam com a eclética e enriquecedora colaboração de outros músicos locais. Desta multicolorida tapeçaria instrumental ressaltam os sinuosos bailados de uma guitarra trovadora que se envaidece em contemplativos, sedutores e imaginativos acordes de onde levantam voo serpenteantes, hipnotizantes e miríficos solos, os excêntricos sopros de uma flauta mágica, seráfica e aveludada, a flutuante reverberação de um baixo bafejado a linhas murmurantes, oscilantes e sombreadas, as notas saltitantes de um teclado lírico, os mugidos minimalistas de um mellotron empoeirado a misticismo cósmico, as inventivas, cuidadosas e expressivas incursões de uma bateria soberbamente jazzy ensolarada a pratos flamejantes, cálidos e tilintantes, e galopada a acrobáticos, tribalistas e enfáticos timbalões, e a tocante doçura de uma mansa, macia e ternurenta voz cantada na sua língua nativa. De salientar ainda toda a eloquente vistosidade do artwork de ambiência endeusada e caprichosamente ilustrado pelo artista escandinavo Sindre Foss Skancke. Este é um álbum extraordinariamente cativante, divinal e apaixonante, de arquitectura cerebral e beatitude imortal, que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade emocional. Um purificante bálsamo de lívida brancura que nos cega de devota fascinação e reconforta nos braços da plena jubilação. Satisfaçam nele todo o vosso desejo de requinte, e testemunhem toda a inesgotável majestosidade de um dos álbuns mais refinados do ano.

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