Da cidade-capital de Oslo (na Noruega) chega-nos o recém-nascido novo álbum do quarteto Jordsjø. Designado de ‘Nattfiolen’
e lançado hoje mesmo sob a forma física de CD e vinil (este último bifurcado em
duas edições ultra-limitadas), adjectiva-se como o resultado de uma devota
inspiração que se distende do cinema clássico de horror, passando pela cena
germânica Progressiva dos 70’s,
pelo misticismo dos contos fantásticos, a frondosa natureza norueguesa e desaguando
na emblemática mitologia de origem nórdica. A sua sonoridade revivalista,
adorável e fantasista sobrevoa os envolventes domínios de um encantador Prog Folk – orquestrado e condimentado
a uma apurada habilidade e sensibilidade – que me prendera e namorara com expressiva
vitalidade. Recostem-se confortavelmente, desmaiem as pálpebras, respirem
pausada e profundamente, e deixem-se ingressar no universo medieval de Jordsjø, brilhantemente narrado por um
requintado bailado de um mágico sintetizador em incessante diálogo com um quimérico
mellotron, uma sumptuosa guitarra de
acordes sentimentalistas, intimistas e poéticos, e solos serpenteantes,
majestosos e aliciantes, uma flauta romanesca de frescas harmonias desenhadas a
uma beleza lírica e epopeica, um baixo sombreado e balanceado a linhas hipnotizantes,
fluídas, compenetradas e ondulantes, uma primorosa bateria de soberba e
sublimada orientação jazzística, e ainda uma profética voz de tez aveludada, melódica e
ensolarada que – com base no seu idioma nativo – confere a ‘Nattfiolen’ todo um nobre
misticismo de traje mitológico e novelesco. Sou um confesso admirador de bandas
que façam do pretérito o seu presente, e nesse contexto Jordsjø
causara em mim um perfeito e imperturbável estado de fascinação e veneração à
primeira audição que lhe dedicara. Uma épica e magnífica excursão ao interior emoldurado e amuralhado da Idade Média que nos faz desejar não mais dela regressar. Musicalmente, conseguem imaginar uma perfeita conjugação
entre os ilustres britânicos Gentle
Giant, Camel e Genesis? Se sim, alcançaram a fabular e lapidar essência
que climatiza todas as incomensuráveis, primaveris e pastoris planícies que este
extraordinário álbum encerra. Toda uma utopia onírica de vestes ancestrais e
fragância divinal que nos eteriza e canoniza a alma sedenta de algo assim. É
demasiado fácil perecer de amor a ‘Nattfiolen’ e prometer-lhe um dos
mais invejáveis lugares na lista que receberá os mais notáveis álbuns lançados
em 2019. Estamos mesmo na honrosa presença de uma completa obra-prima nutrida a uma
inspirada e enfeitiçada maestria, irretocável e inatacável aos meus ouvidos.
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