Há dois anos traduzia em emotivas
palavras tudo aquilo que o segundo álbum dos noruegueses Jordsjø
em mim cultivara (review aqui), e hoje sinto-me novamente impelido
a replicar o louvor a este talentoso duo escandinavo. Intitulado ‘Pastoralia’
e oficialmente lançado hoje mesmo através da sua compatriota Karisma Records
nos formatos físicos de CD e vinil, esta nova obra superiormente musicada pelo
dueto enraizado na cidade-capital de Oslo desprende toda uma suavizante,
cheirosa e revitalizante frescura nórdica de aura fabular que conserva o
ouvinte num perfeito estádio de imperturbável deslumbramento. Norteado por um nostálgico,
medieval e bucólico Progressive Rock de agradável sotaque Canterbury’esco
e ornamentado polimento jazzístico, em dialogante harmonia
com um reflexivo, idílico e lenitivo Folk de esplendor primaveril e com ainda
discretas passagens pela música erudita, este arejado, primoroso e sublimado
‘Pastoralia’ passeia-se elegantemente pelas verdejantes e
arborizadas planícies de uma magnificente, romântica e enfeitiçante sonoridade que
nos embevece o espírito, desenha um genuíno sorriso no rosto e climatiza o olhar
com uma inapagável expressão sonhadora. Com vestígios de carismáticas influências
como Popol Vuh, Genesis, Camel, King Crimson, Gentle
Giant e Caravan, este irretocável álbum de Jordsjø vive do principesco
detalhe, da graciosa subtileza e de uma desarmante beleza. Um disco de luxuosas,
deleitosas, misteriosas e inspiradoras composições que contam com a eclética e
enriquecedora colaboração de outros músicos locais. Desta multicolorida tapeçaria
instrumental ressaltam os sinuosos bailados de uma guitarra trovadora que se
envaidece em contemplativos, sedutores e imaginativos acordes de onde levantam
voo serpenteantes, hipnotizantes e miríficos solos, os excêntricos sopros de
uma flauta mágica, seráfica e aveludada, a flutuante reverberação de um baixo
bafejado a linhas murmurantes, oscilantes e sombreadas, as notas saltitantes de
um teclado lírico, os mugidos minimalistas de um mellotron empoeirado a
misticismo cósmico, as inventivas, cuidadosas e expressivas incursões de uma bateria
soberbamente jazzy ensolarada a pratos flamejantes, cálidos e tilintantes,
e galopada a acrobáticos, tribalistas e enfáticos timbalões, e a tocante doçura
de uma mansa, macia e ternurenta voz cantada na sua língua nativa. De salientar
ainda toda a eloquente vistosidade do artwork de ambiência endeusada e caprichosamente ilustrado pelo artista escandinavo Sindre Foss Skancke. Este é um álbum extraordinariamente
cativante, divinal e apaixonante, de arquitectura cerebral e beatitude imortal,
que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade
emocional. Um purificante bálsamo de lívida brancura que nos cega de devota
fascinação e reconforta nos braços da plena jubilação. Satisfaçam nele todo o
vosso desejo de requinte, e testemunhem toda a inesgotável majestosidade de um dos álbuns mais refinados do ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Karisma Records
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